Superando Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, o Brasil é o país menos desigual quando se trata de gênero na Ciência. Isso é fruto do aumento do interesse das mulheres por desenvolver suas carreiras nessa área, claro! De 1996 a 2000, a presença feminina não passava dos 38% contra 62% da masculina; de 2001 a 2015, passou para 45% contra 51% dos homens. Mas também é resultado do aumento na publicação de artigos científicos escritos por mulheres, como também do reconhecimento de invenções realizadas por elas.
Vale destacar que a produção de artigos – que é o que determina a evolução na carreira acadêmica -, cresceu 11% entre as brasileiras, nos últimos 20 anos. Elas publicam quase metade (49%) do total de textos científicos. Nos EUA, as pesquisadoras que produzem papers não passam de 40%, na União Europeia, de 41%, e, no Japão – acredite! – só 20% se dedicam a escrever.
Já no que diz respeito às mulheres inventoras, a porcentagem também subiu: foi de 11% (1996) para 17% (2015), montante que ultrapassa os Estados Unidos (14%) e o Reino Unido e a União Européia, com 12%.
A boa notícia sobre equidade vem do estudo Gênero no Panorama Global da Pesquisa, publicado pela Elsevier’s Research Intelligence no início deste mês, que compara a atuação feminina no cenário acadêmico e científico em doze países e 27 áreas.
Além dos já citados acima (Reino Unido é considerado como um país), deste ranking também participam Portugal, Chile, México, Dinamarca, Japão, França e Austrália.
As áreas preferidas pelas brasileiras são a Medicina (24% de mulheres x 17% de homens), Bioquímica, Genética e Biologia Molecular (10% mulheres; 8% homens), além de Ciências Biológicas e Agricultura (aqui, quase empata com os homens: 12%, elas; 11%, eles).
Tudo isso não representa pouco num cenário como o que vivemos no Brasil há dois anos, em que o conservadorismo aflorou com toda sua força, pelas mão do governo e der movimentos como o dos evangélicos, que cada vez mais enfatizam ‘o lugar da mulher’ em seus palanques.
Não esqueçamos que, logo depois de destituir a primeira presidenta eleita, Temer encheu os ministérios de homens brancos e fez críticas duras a todos que defendiam os direitos das mulheres. Também não esqueçamos da imagem de ‘bela, recatada e do lar’ de ‘nossa’ primeira dama. E que, no Congresso, de 513 políticos, pouco mais de 10% é mulher.
Tudo isso reforça a ideia de submissão e desvaloriza a presença feminina no mercado de trabalho – recebemos 1/4 a menos que os homens, não é mesmo? Intensifica a violência contra as mulheres todos os dias.
O estudo da Elsevier mostra também que as mulheres brasileiras, apesar de tantas adversidades, podem desenvolver pesquisas tão boas e importantes como os homens. Oras, é só lembrar da trajetória da vereadora carioca assassinada recentemente, Marielle Franco, que venceu inúmeras dificuldades para conseguir estudar e alcançar seu objetivo: trabalhar na política para defender direitos.
Tomara que, cada vez mais, garotas e mulheres se inspirem a seguir pelos caminhos da Ciência – seja ela das áreas de humanas, médicas ou biológicas – e ajudem a transformar a desigualdade que ainda é tão contundente.
Finalizo este texto com duas notícias muito bacanas e inspiradoras que publicamos no ano passado, aqui no Conexão Planeta, e que acrescentam ainda mais brilho às mulheres cientistas do Brasil. Em ambas, as cientistas receberam prêmios de reconhecimento pelo seu trabalho.
A primeira foi publicada em janeiro e conta sobre a invenção de autoria da engenheira brasileira Nadia Ayad, que recebeu prêmio internacional pela criação de um sistema de dessalinização da água, logo após se formar.
A segunda fala do reconhecimento do trabalho de sete pesquisadoras brasileiras pelo prêmio Para Mulheres na Ciência, publicada em novembro do mesmo ano.
Foto: NTNU/Flickr