“Falem mal, mas falem de mim!”
Scott Pruitt, administrador da Agência de Proteção Ambiental (EPA, uma espécie de ministério do Meio Ambiente) dos Estados Unidos, bem que poderia se sair com essa ao ser questionado sobre sua eleição entre as “dez pessoas que fizeram a diferença” da revista Nature neste ano.
Todos os anos, a publicação britânica, um dos dois periódicos científicos mais importantes do mundo, escolhe dez personalidades relevantes no mundo das ciências e publica seus perfis na última edição, antes do Natal.Em geral, os eleitos são pesquisadores ou tomadores de decisão responsáveis por avanços em suas áreas do conhecimento naquele ano.
Em 2016, por exemplo, a epidemiologista brasileira Celina Turchi foi escolhida por seu trabalho na comprovação da ligação entre o vírus zika e a microcefalia. Neste ano, cientistas que lidam com ondas gravitacionais (linha de pesquisa que ganhou o Nobel de Física) e com a técnica de edição de genes CRISPR estão entre os agraciados.
Pruitt parece um estranho no ninho. No entanto, pode-se argumentar que ele e o restante do governo de Donald Trump tiveram um enorme impacto sobre a ciência nos EUA, em 2017. Negativo, mas tiveram.O perfil do administrador, intitulado “O desmantelador de agência”, é implacável. Chama Pruitt de “cético do clima” e de “indicado político que enfraqueceu a Agência de Proteção Ambiental – e a ciência – com eficiência cruel”.
A reportagem, então, faz um breve resumo do primeiro ano de atuação de Pruitt: ele bloqueou ou revogou dezenas de regras ambientais, incluindo regulações sobre emissões, mineração e proteção de mananciais, demitiu metade dos cientistas da agência e proibiu pesquisadores que recebem financiamento da EPA de atuar em conselhos independentes.
Ele também foi encarregado por Trump de cancelar A Lei de Energia Limpa, proposta por Barack Obama para regular emissões de carbono e questionada na Justiça por Pruitt quando ele ainda era procurador-geral do Estado de Oklahoma.
Para coroar o esforço, Trump ainda cortou 40% do orçamento da EPA na proposta orçamentária para 2018, o que deverá provocar ainda mais demissões de cientistas.
“Nós sabíamos que ele não seria um administrador que apoiaria a ciência, mas eu estou impressionada com a quantidade de jeitos criativos que ele arrumou de anular a ciência e os cientistas na agência”, disse à Nature Gretchen Goldman, da União dos Cientistas Responsáveis.
Procurada, a EPA não respondeu até o fechamento deste texto.
*Este texto foi publicado originalmente no site do Observatório do Clima, em 18/12/2017