As mudanças climáticas representam um grande obstáculo a espécies que estão ameaçadas pela perda de habitat, mesmo quando submetidas a consagradas medidas de conservação, como corredores ecológicos, reforço da vegetação nativa e gerenciamento de áreas protegidas. As indicações são de um estudo publicado na segunda-feira (09/10) na revista científica Nature Climate Change.
De acordo com o biólogo Michael Kuttner, da Universidade de Viena, na Áustria, e um dos autores do estudo, todo o esforço de conservação pode ter efeito nulo diante das alterações causadas pelo aquecimento global. “As mudanças do clima transformam a atmosfera em um ritmo que as espécies não acompanham.”
Para chegar a esta conclusão, Kuttner e um grupo de cientistas austríacos criaram um modelo que mediu os esforços de conservação no comportamento de 51 espécies de plantas, borboletas e gafanhotos comuns na Europa Central. Eles avaliaram a perda de alcance regional e o risco de extinção nas condições climáticas atuais e em dois cenários de mudanças climáticas.
Eles também aplicaram três níveis de esforços de conservação: baixo, médio e alto. Resultado: esforços de conservação no nível mais elevado não foram suficientes para compensar a perda média induzida pela mudança climática em nenhuma das espécies. Quanto mais alto o cenário de aquecimento da Terra, pior para a biodiversidade analisada.
A situação mais crítica foi em espécies de vida curta, como borboletas e gafanhotos. “Animais que vivem pouco costumam ter um alto grau de especialização ecológica, o que torna a situação ainda mais complicada”, afirma Kuttner. “Uma frequência crescente de anos desfavoráveis, portanto, aumenta o risco de extinção local, especialmente em animais.”
O pesquisador reforçou que as medidas de conservação são essenciais para atenuar os efeitos negativos do aquecimento climático, mas alertou que elas não fazem milagre. “A eficiência é limitada. E modificar os habitats pode gerar consequências negativas imprevisíveis. O mais importante não é avançar com corredores, mas conter as emissões de gases de efeito estufa”.
A biodiversidade é sensível e algumas espécies têm uma capacidade adaptativa pequena, segundo o diretor da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Fabio Scarano. “Podemos perder parte das espécies sem que as conheçamos profundamente”, diz Scarano, que também é professor do departamento de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e foi coautor do último relatório do IPCC, o painel do clima da ONU.
*Texto publicado originalmente em 09/10/2017 no site do Observatório do Clima
Foto: Gaspar Alves/Wikimedia Commons