*Por Welyton Manoel
Para se produzir o papel que utilizamos atualmente, a celulose que é extraída da madeira de árvores se tornou a matéria-prima indispensável no processo de fabricação. A técnica de transformação, por meio de produtos químicos, começou a ser utilizada a partir da metade do século XIX e foi sendo aperfeiçoada até hoje.
Mas em Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, a empresa FibraResist inovou ao buscar substitutos para a celulose utilizando um material bem brasileiro: a pasta celulósica, extraída da palha da cana-de-açúcar. Foram seis anos na tentativa de produzir o material.
“Decidimos investir em inovação e tecnologia. Entre 2009 até 2012, nossas pesquisas contemplaram um desenvolvimento e aprofundamento mais interno, tanto do biodispersante, que é exatamente o elemento biodegradável somado à palha da cana num determinado momento do nosso processo, quanto do próprio processo, que também funciona dentro de uma linha inovadora”, explica Mário Welber, executivo da empresa. “Em 2012, levamos o resultado final do nosso trabalho para a Universidade Federal de Viçosa (MG), que não só avaliou, como classificou a nossa celulose como uma pasta de fibra média, que também é uma inovação no Brasil. A partir disso, começou um planejamento para a construção da primeira indústria do Brasil, e até onde temos informação, a primeira do mundo que fabrica pasta celulósica num processo a frio a partir da palha da cana.”
A preocupação com o meio ambiente começa já na lavoura. Nas plantações, a cana-de-açúcar não é totalmente colhida. Cerca de 20% dela permanece no solo para a recomposição dos nutrientes. O restante segue para um inovador processo de fabricação, que em um primeiro momento consiste na limpeza e trituração da palha. Na sequência , é adicionado um biodispersante para separar a lignina (cola natural da palha). Após uma última hidratação, o material é transformado na pasta celulósica.
Esse ciclo foi totalmente desenvolvido pela empresa e pautado em um sistema que evita o desperdício de água, a produção de resíduos e a poluição do ar.
Empresa em Lençóis Paulista produz papel a partir da palha da cana
“A cada tonelada nossa, por se tratar de uma fibra virgem, aproveita-se 100%. A nossa matéria-prima não gera resíduos. O que ela gera no nosso parque fabril pode voltar ao campo por se tratar de um produto natural, em forma de adubo. Ao mesmo tempo, o nosso processo é completamente a frio. Não emitimos calor, ou seja, não há poluição, não há emissão de gases poluentes. Até a água é reutilizada depois de 12 horas.”
Além disso, a quantidade de material utilizado também vai ser reduzida. A indústria de celulose comum usa cerca de 14 toneladas de eucalipto para produzir uma tonelada de papel. Já com a palha da cana-de-açúcar, são necessárias somente 3,7 toneladas. Por enquanto, a fábrica vai operar com 25% da capacidade, mas a expectativa é aumentar gradativamente a produção e, consequentemente, a geração de empregos na região.
Produção de papel com menor desperdício de água e sem geração de resíduos
*Texto publicado originalmente em 18/05/2017 no site da Web Radio Água
Foto: domínio público/pixabay