Macacos-prego são verdadeiros comilões. Em florestas tropicais, alimentam-se basicamente de frutos e folhas. Ao comer alguns frutos, derrubam tantos outros no chão, fazendo aquilo que os primatólogos chamam de forrageamento destrutivo. Com este comportamento, promovem a dispersão das sementes, aumentando as chances de gerar novas árvores. Desse modo, as plantas produzem os frutos que alimentam não só os macacos-prego, mas também diferentes animais, como aves e outros mamíferos.
Na região de Bonito, Mato Grosso do Sul, ao forragear nas árvores que margeiam os rios, os macacos-prego derrubam frutos na água e acabam por atrair as piraputangas (Brycon hilarii), peixes onívoros que vivem em diferentes ambientes do Pantanal e nos planaltos do entorno. Frutos com pequenas sementes, por sua vez, podem ser dispersos pelas piraputangas, contribuindo para replantar árvores da mata ciliar.
Etapas dessas relações foram registradas em vídeo pelo Projeto Peixes de Bonito, no rio Olho d´Água, Jardim, Mato Grosso do Sul. Confira:
É preciso a combinação de olhar treinado e conhecimento teórico para descobrir e estudar essas curiosas interações, genuínas parcerias do mundo natural.
E as conexões não param por aí. Distraídas em busca dos frutos, as piraputangas “baixam a guarda” e quem se aproveita são os dourados (Salminus brasiliensis), vorazes predadores de rios brasileiros que atacam os peixes desatentos.
Ao compreender a estrutura dessas redes de conexões, os biólogos podem contribuir para a conservação de processos fundamentais na manutenção da biodiversidade. Como produto não menos importante, esse conhecimento pode ser usado em livros do ensino fundamental e, também, em atividades de educação e turismo sustentável.
Na foto que escolhi para ilustrar este post, uma imagem, vários elementos: enquanto a piraputanga (à esquerda) se distrai com o fruto que acaba de cair na água, o dourado (à direita) se prepara para a ofensiva.
Foto: José Sabino/Projeto Peixes de Bonito