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A sustentabilidade não é verde

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Digite o termo sustentabilidade na busca de imagens do Google ou qualquer outro buscador. O resultado é invariavelmente o mesmo: sua tela vai ficar tomada de verde. São centenas, milhares, quiçá milhões de imagens e desenhos de plantinhas, mãos protegendo plantinhas, nosso planeta Terra (com plantinhas) e sinais de reciclagem. Tudo bem verdinho, como na imagem acima. É assim no mundo inteiro e em qualquer língua.

Esse é um retrato fiel da percepção média que temos sobre a sustentabilidade, associada quase que exclusivamente a elementos da natureza. É claro que os temas ambientais fazem parte desse termo. Mais que isso: água, biodiversidade, proteção de florestas e oceanos, entre tantos outros, são a base dessa ideia tão maravilhosa e óbvia de que vivemos numa mesma casinha. E que se não cuidarmos bem dela a coisa vai ficar feia para todo mundo, more você na suíte ou na garagem.

Acontece que um mundo verde não é um mundo sustentável. Ou melhor, um mundo sustentável não é apenas verde. Basta imaginar o mundo sustentável do futuro a partir das imagens do Google. Seria um mundo 100% ecoeficiente, com zero resíduos, movido integralmente a fontes renováveis de energia e com um nível de preservação ambiental impensável para os dias de hoje.

Pode parecer sustentável (e é meio caminho andado para isso), mas então imagine esse mesmo mundo com as pessoas se matando em função de diferenças religiosas, sociais ou políticas. Imagine o motorista do futuro, num veículo auto carregável e com zero emissão de poluentes, perdendo horas de seu precioso tempo livre no trânsito. Imagine pessoas morrendo de fome simplesmente por não terem recursos para adquirir os alimentos produzidos de maneira 100% sustentável.

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Esse é um mundo sustentável? Certamente não. Um mundo sustentável também inclui uma cultura de paz avançada, o respeito à diversidade, uma mobilidade urbana que funciona, um sistema econômico que não gere tamanha desigualdade, entre tantas outras coisas, digamos assim mais “sociais” ou “econômicas”. Coisas que não estão associadas à sustentabilidade, ao menos em nossa percepção média, como nos mostra o Google.

O maior problema, no entanto, é que ao percebermos a sustentabilidade apenas como verde, deixamos automaticamente de fora desse guarda-chuva um número importante de causas, assim como de pessoas e organizações que as representam, que atuam com o objetivo de um mundo mais sustentável, mesmo que não se reconheçam ou sejam reconhecidas como tal.

Falo aqui das turmas de cidades criativas, dos direitos humanos, das novas formas de pensar a política, da espiritualidade, do capitalismo consciente, apenas para citar alguns exemplos.  Embora seus cartazes e slogans não digam isso diretamente, todos estão trabalhando por um mundo mais sustentável, assim como a turma verde e corajosa do movimento ambientalista.

Enquanto tratarmos os temas da sustentabilidade em caixinhas e responsabilidades separadas (um verdadeiro drama quando falamos de gestão pública), jamais conseguiremos entender a beleza e a importância desse assunto em toda a sua magnitude. E desperdiçaremos uma força poderosa de engajamento, participação e influência nas decisões sobre como organizar de maneira mais inteligente a nossa casinha. More você na suíte ou na garagem.

O que fazer? Temos duas saídas: ou trocamos a sustentabilidade por um termo melhor (e há um movimento interessante nesse sentido) ou mudamos a maneira como comunicamos e percebemos a sustentabilidade. Para que, num futuro próximo, uma busca de imagens no Google não mostre uma tela verde, mas sim multicolorida.

Foto: Reprodução 

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