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Triste com a destruição da Amazônia, o escritor Milton Hatoum escreve poema sobre a floresta

“Não consigo olhar fotos que mostram incêndios na Amazônia”, desabafou o escritor Milton Hatoum para o jornalista Ubiratan Brasil, de O Estado de São Paulo, jornal do qual é colunista. Desde 1999, ele mora na capital paulista, mas seus livros revelam o quanto “suas raízes continuam fincadas” de forma profunda em Manaus, onde nasceu.

Como Hatoum contou na conversa, seus romances falam de uma cidade que não existe mais e também relatam os problemas da devastação. “O urbanismo em harmonia com a floresta acabou nos anos 1980. A cidade que está lá hoje é uma das mais desiguais do Brasil”.

Desde os anos 1970, aponta para os problemas da devastação. Em 1977, seus versos (livro Amazonas) também denunciavam a destruição das crenças, dos rituais e das aspirações da população amazonense.

Agora, para lamentar os incêndios que destroem a floresta, Hatoum escreveu o poema O Fim que Se Aproxima, publicado por O Estado em primeira mão e que reproduzimos abaixo. Em seguida, vídeo em que ele declama seus versos, editado por Everton Oliveira com fotos de Gabriela Biló.

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Atento à realidade brasileira, esta não é primeira vez que Hatoum se engajado com seu talento. Em novembro de 2015, ele participou de uma mobilização pelo clima escrevendo e declamando poesia inspirada nas agruras das mudanças climáticas, mas principalmente na tragédia do Rio Doce, devastado pela lama tóxica da mineradora Samarco.

O fim que se aproxima

Amazonas: mito grego
menos antigo que os mitos da Amazônia.

Os que vivem no Cosmo há milênios
são perseguidos por mãos de ganância,
olhos ávidos: minério, fogo, serragem, fim.

Quem são vocês,
incendiários desde sempre,
ferozes construtores de ruínas?

Os que queimam, impunes, a morada ancestral,
projetam no céu mapas sombrios:
manchas da floresta calcinada,
cicatrizes de rios que não renascem.
atrás da humanidade amazônica?

Que triste pátria delida,
mais armada que amada:
traidora de riquezas e verdades.

Quando tudo for deserto,
o mundo ouvirá rugidos de fantasmas.
E todos vão escutar, numa agonia seca, o eco.

Não existirão mundos, novos ou velhos,
nem passado ou futuro.

No solo de cinzas:
o tempo-espaço vazio.

Leia também:
As Manaus de Milton Hatoum
Obra do lider indígena Davi Kopenawa é ‘o grande livro para entender a Amazônia, hoje’, diz Hatoum

Fotos: Reproduções do vídeo, de fotos de Gabriela Biló

Comentários
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Raphael Sanz
5 anos atrás

Amigos, alguém pode me passar o contato do autor da poesia? Gostaria de usá-la em uma música sobre o tema. Se alguém puder me responder, meu e-mail é raphaelsanz13@gmail.com. Muito obrigado.

ENE SHIRLEY
ENE SHIRLEY
6 meses atrás
Responder para  Raphael Sanz

Olá, Raphael Sanz, você conseguiu o contato do autor da poesia?

Samily Beatriz
Samily Beatriz
3 anos atrás

A quem você acha que o autor se refere ao falar sobre “os que vivem no Cosmo há milênio”

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