A polícia ainda não descobriu a origem de Charlota, a tigresa branca de apenas um ano resgatada na República Tcheca no ano passado. Mas, desde que o país foi identificado como um centro de comércio ilegal de tigres, em 2018, sabe-se que o tráfico dessa espécie, em sua maioria, é realizado entre comerciantes tchecos e traficantes vietnamitas.
Infelizmente, é legal manter um tigre na República Tcheca, mas somente com documentação adequada, que comprove a origem legal e a aquisição do espécime.
Charlota é um dos milhares de grandes felinos vítimas do tráfico de animais na Europa todos os anos.
Foi tirada de sua mãe ainda bebê, certamente, e vendida para uma pessoa (apreciadora ou comerciante) que se deixou levar pela vaidade e a exibiu em vídeos nas redes sociais. Assim, a polícia descobriu sua existência, a posse ilegal, resgatou-a e a encaminhou para um lugar seguro, o zoológico local: Zoo Hodonín.
Como esta era apenas uma solução temporária para a filhote, as autoridades tchecas solicitaram à organização global de bem-estar animal Four Paws International que cuidasse de Charlota a fim de garantir seu bem-estar.
No zoo, ela recebeu acompanhamento de veterinário especializado em vida selvagem, quando foi identificado o estrabismo, que a impede de ser solta na natureza. Essa anormalidade é muito comum em casos de endogamia (cruzamento entre animais aparentados), como explico mais adiante. E, como a origem de Charlota é desconhecida, este pode ser seu caso.
Finalmente, com o apoio do Ministério do Meio Ambiente tcheco, em 26 de julho último, a tigresa branca – já com um ano – foi transferida para seu lar definitivo: o Santuário de Vida Selvagem Tierart, administrado pela Four Paws, em Maßweiler, na Alemanha.
O santuário oferece um lar adequado para grandes felinos resgatados de condições precárias em circos, zoológicos e cativeiros privados. E ainda cuida de outras espécies selvagens nativas como raposas, texugos, gatos selvagens, lebres e ouriços.
Em 2021, o Tierart instalou o primeiro santuário para linces órfãos em seu imenso terreno.
Boa parte dos animais que chegam a esse santuário são devolvidos à natureza depois de recuperados. Os que não podem viver livres na natureza, como é o caso de Charlota, encontram ali um lar apropriado à sua espécie. Que sorte a dela!
Vale assistir ao vídeo que reproduzo no final deste post e mostra como ela se sentiu assim que foi apresentada a seu novo habitat. Correu muito feliz e se encantou e brincou com a água de um lago, talvez pela primeira vez. Parecia uma criança.
Raridade que atrai exploração
Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa ou imagina, tigres e leões brancos pertencem à mesma espécie que os de cores normais. E a cor de seu pelo não é causada por albinismo, mas por uma rara mutação recessiva.
Essa mutação acontece sem qualquer interferência na natureza, mas sua ocorrência requer que pai e mãe a tenham também.
Por isso, tigres e leões brancos são raros em seus habitats naturais. Mas, em cativeiro, têm grande valor comercial devido à curiosidade que atraem, o que leva criadores a cruzarem animais portadores da mutação recessiva.
Em geral, essa prática pode envolver endogamia ou consanguinidade (método de acasalamento que consiste na união entre indivíduos aparentados – pais, filhos, irmãos – e geneticamente semelhantes), o que afeta a saúde e o bem-estar dos animais. E pode ocasionar anormalidades de crescimento em tigres e leões de cativeiro, como é o caso de Charlota, que tem estrabismo.
Assista ao vídeo produzido pela Four Paws, que mostra diversos momentos da vida desta tigresa linda e charmosa: no Youtube (com legendas em inglês) e no Instagram (com narração em inglês).
Foto: divulgação/Tireart