A estratégia parecia não ter erro. O equipamento pesava menos de 1 grama e era acoplado ao corpo dos pássaros de maneira fácil. Apesar de pequeno, era resistente e com ele os pesquisadores conseguiriam monitorar melhor os pegas-australianos (Gymnorhina tibicen), espécie de ave encontrada na Austrália e na Nova Guiné. O objetivo era entender melhor sua dinâmica e comportamento social, o quanto eles se deslocavam diariamente, se há horários pré-estabelecidos para certas atividades durante o dia…
A nova tecnologia era bastante promissora ainda mais porque não necessitava da recaptura dos pássaros para a coleta de dados. “Treinamos um grupo de pegas locais para comer num local onde instalamos um recarregador wireless para a bateria do equipamento e também, um íma com o qual poderíamos soltar o rastreador caso fosse preciso”, contou a pesquisadora Dominique Potvin, da University of the Sunshine Coast, em Queensland.
Todavia, os cientistas não contavam com a perspicácia e camaradagem entre as aves. Já se sabia que os pegas-australianos são animais muito inteligentes. Vivem em grupos com até doze indivíduos, onde defendem seus territórios em conjunto, assim como auxiliam seus pares na criação dos filhotes. Mas daí a se unirem para retirar os dispositivos de monitoramento…
Bom, foi isso exatamente o que aconteceu! Os micro-aparelhos foram colocados em cinco pássaros. Em pouco menos de dez minutos, um deles já tinha conseguido se livrar do rastreador e usava seu bico para ajudar um outro a fazer o mesmo. Em três dias, não havia mais nenhum equipamento sobrando.
“Não sabemos se era o mesmo indivíduo ajudando os outros ou se eles compartilhavam tarefas, mas nunca havíamos lido sobre nenhum outro pássaro cooperando dessa maneira para remover dispositivos de rastreamento”, relatou Dominique. “As aves precisaram resolver o problema, possivelmente testando o puxão e o corte em diferentes partes da estrutura com o bico. Elas também precisaram ajudar voluntariamente outros indivíduos e aceitar ajuda”.
Agora, assim como os pegas-australianos, os pesquisadores precisarão aprender uma nova maneira de poder acompanhar os movimentos dessas aves tão astutas.
A tecnologia parecia infalível… mas não era...
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Foto: domínio público/pixabay (abertura) e ilustração Dominique Potvin