
Em praias no norte de Chipre, no Mediterrâneo, tartarugas-verdes (Chelonia mydas) estão colocando ovos 6,47 dias antes do período que costumavam desovar para cada aumento de 1°C na temperatura do oceano. Para os pesquisadores que analisaram dados de 600 fêmeas nos últimos 30 anos, a temperatura foi responsável por cerca de 30% desse avanço no calendário de reprodução.
A análise faz parte de dois estudos publicados por cientistas da Universidade de Exeter, do Reino Unido, em parceria com a Society for Protection of Turtles (Sociedade de Proteção às Tartarugas), que alertam sobre os impactos das mudanças climáticas na desova de tartarugas marinhas. Segundo os pesquisadores, elas estão voltando aos seus pontos de desova cada vez mais cedo para encontrar temperaturas mais amenas.
“Esta é uma boa notícia, pois mostramos que essas tartarugas estão respondendo às temperaturas elevadas causadas pelas mudanças climáticas mudando para meses mais frios para nidificar”, diz Annette Broderick, professora da universidade. Entretanto, ela ressalta que não há garantia de que elas continuem fazendo isso no futuro. “Depende muito de quanto as temperaturas sobem e também do que elas estão comendo. Se o momento da produção em termos de onde seus alimentos estão mudar, então elas podem começar a ficar ecologicamente desconectadas entre onde forrageiam e onde se reproduzem.”
Além da tartaruga-verde, o grupo também monitorou a época de desova de outra espécie, a tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) na costa do Chipre. A temperatura é muito importante na reprodução desses animais, já que ela define o sexo dos filhotes – mais fêmeas nascem quando está mais quente, assim como menos eclosões bem-sucedidas ocorrem com há calor demais.
Estudos anteriores já alertaram que 99% dos filhotes de tartaruga têm nascido fêmeas como resultado do aquecimento global, algo atestado, em 2023, durante a temporada de nascimentos na Flórida (leia mais aqui).
Ainda de acordo com o estudo britânico, até 2100 dificilmente nascerão novos filhotes de tartarugas-cabeçuda, a menos que elas continuem adiantando sua temporada de nidificação. Algo que elas já estão fazendo desde 1993. Entretanto, mais uma vez, não se sabe se elas continuarão adiantando o calendário, como explicado por Annette.
“Para saber se o avanço que vemos agora continuará no futuro, é crucial entender os efeitos combinados das mudanças, por exemplo, na estrutura etária da população e como as tartarugas individuais respondem às mudanças ambientais”, diz Mollie Rickwood, principal autora do estudo, publicado no jornal Proceedings of the Royal Society B.
“Embora nossas tartarugas pareçam estar lidando com o aumento atual das temperaturas, não está claro por quanto tempo elas conseguirão fazer isso antes que as condições em Chipre não sejam mais adequadas, todavia, locais mais frios no Mediterrâneo podem se tornar disponíveis para elas nidificarem”, acrescenta Damla Beton, da Society for Protection of Turtles.

Foto: Society for Protection of Turtles
*Com informações e entrevistas contidas no texto de divulgação da Universidade de Exeter
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É época de reprodução das tartarugas marinhas: ajude a protegê-las!
Foto de abertura: Mollie Rickwood