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Sucuri Ana Júlia, que vivia em Bonito, não morreu por agressão humana: laudo preliminar é divulgado pela perícia

Sucuri Ana Júlia, que vivia em Bonito, morreu de causa natural: laudo é divulgado pela perícia em tempo recorde

Atualizado em 1/4/2024 com o depoimento do biólogo Gustavo Figueirôa sobre a possibilidade de intoxicação por substâncias que contaminam os rios de Bonito
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Na semana passada, a notícia da morte de uma sucuri-verde gigante, que vivia em Bonito, no Mato Grosso do Sul, tomou grande espaço no noticiário e causou grande comoção (contamos aqui).

Com base no que disseram os guias turísticos que a encontraram boiando no Rio Formoso ao documentarista de vida selvagem Cristian DimitriusAna Julia ou vovózona (como era conhecida) parecia ter perfurações pelo corpo que poderiam ser marcas de tiros.

Dimitrius, que a conhecia há dez anos (a filmou e fotografou para BBC, Netflix e outros veículos), ficou consternado e comentou sobre sua tristeza e revolta no Instagram. Foi o que bastou para que o caso viralizasse nas redes. 

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Como alguém poderia ter coragem de tamanha crueldade com uma serpente tão rara e tranquila como ela? 

Morte natural?

perícia inicial, realizada no local por equipes da Polícia Militar Ambiental (PMA), da Polícia Civil, do Instituto de Criminalística e, também, pela bióloga Juliana Terra, que acompanhava a sucuri há oito anos, indicou que a sucuri não tinhalesões condizentes com disparos de arma de fogo

Sucuri Ana Júlia, que vivia em Bonito, morreu de causa natural: laudo é divulgado pela perícia em tempo recorde
Perita criminal examina Ana Júlia no local onde ela foi encontrada
Foto: reprodução

“O principal objetivo era caracterizar ou não se a serpente foi morta de forma violenta por disparo de arma de fogo ou, até mesmo, se ela tinha lesões contusas que justificassem a morte dela”, apontou Emerson Lopes dos Reis, diretor da Polícia Científica de Mato Grosso do Sul ao G1.

Sucuri Ana Júlia, que vivia em Bonito, morreu de causa natural: laudo é divulgado pela perícia em tempo recorde
Raio-X da cabeça de Ana Júlia
Foto: reprodução

Segundo Reis, a perita veterinária decidiu levar Ana Júlia para Campo Grande para realizar exames complementares como raio-X do corpo completo da serpente e aprofundar o diagnóstico.

Hoje foi divulgado laudo preliminar; o definitivo só em 30 dias.

Ao G1, Maristela Melo de Oliveira, perita criminal, declarou: “Nós fizemos exames radiográficos, não encontramos nenhuma fratura na região da cabeça, que era suspeita inicialmente de ter sido lesionada e descartamos a hipótese de morte violenta. Visto que o animal não teve morte violenta, restou, portanto, uma morte por consequência de alguma patologia ou alguma questão própria do animal, sem interferência humana”.

Ela ainda contou que a sucuri foi medida – 6,36 metros – e que foi coletado DNA para sequenciamento genético e de outros materiais biológicos. “Coletamos esse material a fim de preservar, para interesse científico e estudos relacionados a genética desse animal”, explicou.

“Ficou comprovado que ela não morreu por agressão humana“, contou Gustavo Figueirôa, biólogo e diretor de comunicação do Instituto SOS Pantanal, em seu perfil no Instagram. Isso significa que ela morreu por causas naturais? “Provavelmente! Mas como o resultado divulgado foi apenas da análise para fatores externos, não dá pra descartar algumas causas que podem ter levado ao falecimento da sucuri, como acúmulo de substâncias tóxicas no corpo”.

Gustavo explica que existem registros comprovados de diversas substâncias tóxicas encontradas em rios da região, como no Rio Formoso, no qual ela vivia. “Mas isso só o resultado do lado definitivo vai trazer. Pelo menos eu espero que a perícia tenha feito esse tipo de análise também”.

Suspeita e crimes

O biólogo não escondeu sua satisfação com o fato de Ana Júlia não ter sido vítima de qualquer tipo de violência, mas fez duas reflexões importantes.

“A primeira é que este caso pode servir de alerta para que nós, divulgadores científicos tomemos ainda mais cuidado na hora de checar os fatos. Faltou cuidado ao divulgar a morte da sucuri e destacar que se tratava de uma suspeita ainda não confirmada pelas autoridades. Com certeza, serviu de aprendizado daqui pra frente”, disse.

“A segunda reflexão é que a grande repercussão que causou a notícia não foi à toa. O fato de termos acreditado que ela poderia ter sido morta a tiros tem a ver com o tanto de relatos de animais mortos cruelmente que a gente recebe todos os dias. Principalmente de cobras e na região de Bonito. E a maioria desses casos não é investigada, sequer tem atenção das autoridades”, denuncia.

Gustavo acredita que, se a morte de Ana Júlia não tivesse provocado “tanto barulho”, a perícia não teria sido realizada. É bem provável. Veja como é importante a participação popular!

“O fato é que” [em vida e na morte] “ela chamou a atenção do mundo e o seu legado continua. Ana Júlia foi confirmada como a maior sucuri já registrada oficialmente no mundo: 6 metros e 36 centímetros de pura beleza e majestosidade!”.

Inspiração e aprendizado

Para todos que amavam Ana Júlia, não poderia haver melhor diagnóstico: morte natural. Na semana passada, tanto Juliana (conversei com ela) como Dimitrius (no Instagram) comentaram sobre isso. 

Sucuri Ana Júlia, que vivia em Bonito, morreu de causa natural: laudo é divulgado pela perícia em tempo recorde
“Ana Júlia era um animal tranquilo. Não era arisca”, conta a bióloga Juliana Terra, que a acompanhou durante oito anos
Foto: Cristian Dimitrius

Hoje, Dimitrius reiterou sua posição nas redes e completou: “Fiquei muito, muito aliviado com o resultado, apesar de que isso não diminui a dor de sua partida. Como escrevi em outra postagem, morte natural seria o melhor dos cenários, mas estou muito triste porque não vou mais encontrá-la nas margens do Rio Formoso”. 

“Ela era muito especial, me ensinou muito nestes anos e sei que muitas outras pessoas, que tiveram o privilégio de conhecê-la, também aprenderam e se encantaram com ela”, acrescenta.

Para o documentarista, a história de Ana Júlia “é um belo caso de como é possível sair da bolha e levar a mensagem de conservação e respeito pela vida selvagem, o verdadeiro norte do meu trabalho, para além das nossas fronteiras, virtuais e reais”. 

E ele finaliza: “Quem ganha com isso são as sucuris, que merecem todo nosso cuidado! Mas ainda temos muito trabalho pela frente e não desistiremos. Seguiremos firme e fortes, lutando pela coexistência entre todas as formas de vida, pela divulgação de belas imagens de nossa natureza, sob a inspiração e aprendizados da “Rainha do Formoso”, que agora habita, de alguma forma, em todos nós!”.

A bióloga que conhecia Ana Júlia como poucos, arremata: “Espero que esse caso sirva pra desmitificar a imagem que foi criada sobre esses animais. Eles não são monstros, não são do mal, são apenas animais que estão vivendo a vida deles no ambiente em que nasceram, desempenhando suas funções ecológicas contribuindo para o equilíbrio do ecossistema em que vivem”. 

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Fotos: Cristian Dimitrius (Ana Júlia viva) e divulgação (ela morta)

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