Criada em 1994 e mantida, desde então, pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, a Reserva Natural de Salto Morato fica em Guaraqueçaba, litoral norte do Paraná, a 172 quilômetros de Curitiba, numa região reconhecida como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco.
A reserva conserva uma área de 2.253 hectares, que contribui para a proteção da Mata Atlântica, o bioma mais ameaçado pelo desmatamento no Brasil, no qual vivem mais de 70% da população brasileira.
Inserida na Grande Reserva Mata Atlântica (GRMA) – região que abriga o maior remanescente contínuo do bioma no país – a reserva de Salto Morato é referência em atividades educativas, no turismo de natureza e na promoção de pesquisas científicas voltadas à conservação.
Mas suas credenciais não param por aí. A Unidade de Conservação (UC) é ainda uma Solução Baseada na Natureza (SBN), isto é, contribui para a adaptação às mudanças climáticas, garantindo a infiltração da água no solo, a manutenção de mananciais de abastecimento, a regulação do clima, a fixação de carbono, a proteção da biodiversidade e a proteção de encostas.
E, ao longo de seus 30 anos, os 56 hectares que estavam degradados na aquisição, devido à criação de búfalos, foram completamente restaurados.
Espécies identificadas
Em Salto Morato, já foram identificadas 324 espécies de aves, 36 de répteis, 102 de mamíferos, 54 de anfíbios, 69 de peixes e 693 de plantas. E a UC se destaca também como rota de observação de aves – com 16% das 1.971 espécies conhecidas no Brasil e 36,2% das 893 aves registradas na Mata Atlântica.
Entre as espécies avistadas na reserva estão a jacutinga (Aburria jacutinga), o jaó-do-sul(Crypturellus noctivagus) e o tangará-dançarino (Chiroxiphia caudata), conhecido pela dança de cortejo envolvendo vários machos, ritual registrado no documentário Nosso Planeta 2, com imagens gravadas na Reserva.
“Salto Morato é ainda uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), categoria de Unidade de Conservação privada que representa um enorme compromisso da Fundação Grupo Boticário não apenas com a conservação de uma área muito importante para a biodiversidade na Mata Atlântica, mas também com a sociedade, a natureza e seu futuro. Isso porque a criação de uma RPPN garante a perpetuidade da preservação daquela área”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.
Cachoeira, trilhas, camping
Passear pela natureza da reserva já é um presente. Mas ela ainda oferece alguns atrativos, a começar pela cachoeira que lhe dá nome – o Salto Morato –,com mais de 100 metros de altura.
Para chegar até ela é preciso passar por uma trilha de 1.500 metros, classificada como leve, com duração aproximada de duas horas (ida e volta). Mas, no meio do percurso, mais um presente: o Aquário Natural, que dá pra admirar de pequenas pontes e bancos, mas o melhor, mesmo, é mergulhar em suas águas transparentes, ver os peixinhos ao seu redor e curtir a vegetação exuberante que parece proteger o local.
Outra opção é a Trilha da Figueira by Arbo, que leva o visitante até uma enorme árvore centenária que forma uma ponte-viva sobre o Rio do Engenho (fotos abaixo). O caminho de cinco quilômetros em meio à floresta, classificado como de nível médio, é feito em cerca de três horas.
As crianças têm ainda uma opção de aventura preparada especialmente para elas: a Trilha das Brincadeiras. Com percurso de aproximadamente 500 metros, a atração conta com diferentes experiências e atividades lúdicas que colocam a garotada em contato com a natureza. Nela, os pequenos passam por “desafios”, como a cabana de madeira, o túnel da cigarra e a perna de pau.
Histórias da conservação de Salto Morato
Como contamos acima, a reserva natural era, originalmente, uma fazenda de criação de búfalos, que foi adquirida em 1994 por Miguel Krigsner, fundador de O Boticário, que já tinha a Fundação Grupo Boticário. Sua intenção era proteger a biodiversidade deste importante trecho de Mata Atlântica.
A escolha da área foi estratégica para a conservação do bioma visto que abriga uma riqueza muito grande de espécies de plantas e animais e por estar em um grande contínuo de floresta atlântica.
“Unidades de Conservação contribuem para a proteção das áreas naturais de diversas formas, tendo diferentes classificações de acordo com a sua proposta de manejo, podendo ser de proteção integral ou uso sustentável. Salto Morato permite o turismo responsável, o estudo científico conservacionista e a educação ambiental”, explica André Zecchin, biólogo e gerente da Reserva Natural Salto Morato.
No primeiro ano da reserva, uma nova espécie de peixe foi descoberta por um projeto apoiado pela Fundação e batizada como Listrura boticario. O peixe foi encontrado em uma poça marginal de um rio de corredeira que passa na reserva pelos pesquisadores Mário de Pinna e Wolmar Wosiacki. Mas, infelizmente, não há registros fotográficos da espécie disponíveis.
Até agora, a Reserva Natural de Salto Morato já foi laboratório para 123 pesquisas de 103 pesquisadores e 35 instituições, com destaque para estudos sobre mudanças climáticas, restauração de florestas e espécies ameaçadas de extinção.
Além disso, a reserva em Guaraqueçaba também é sala de aula para centenas de estudantes da educação básica, de graduação e pós-graduação de diferentes regiões do Paraná e de outros estados, para atividades diversas.
Em 1996, mesmo ano em que a reserva foi aberta à visitação do público, foi criado o Programa de Voluntariado da Reserva Natural Salto Morato, no qual os participantes apoiam diversas atividades relacionadas ao manejo da unidade e têm a oportunidade de buscar aperfeiçoamento profissional e acadêmico. Desde então, a reserva já aderiram ao programa 283 voluntários.
Há 15 anos, mudas de palmeira-juçara (Euterpe edulis), espécie nativa da Mata Atlântica ameaçada de extinção e protegida por lei, têm sido plantadas em diferentes áreas da reserva, a fim de enriquecer trechos da floresta e contribuir com a sua conservação e de espécies que se alimentam de seus frutos, como a jacutinga (Aburria jacutinga), ave ameaçada de extinção. Até o momento, 18 hectares foram enriquecidoscom mais de 14 mil mudas plantadas.
Em 2018, foi feito o primeiro registro de uma onça-pintada (Panthera onca) na região, por meio do projeto conservação de Grandes Mamíferos no Corredor da Serra do Mar, iniciativa coordenada pelo Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC) e Instituto Manacá, com apoio da Fundação Grupo Boticário.
De acordo com os pesquisadores, o último registro de onça-pintada na região da Serra do Mar paranaense havia sido feito há mais de 20 anos e aquela foi a primeira vez que o animal foi filmado na região.
A presença de grandes mamíferos em Salto Morato é um importante indicador de qualidade do habitat em ampla escala, visto que estes são animais que precisam de grandes áreas conservadas para se movimentar, para reprodução, refúgio e alimentação, contribuindo para o equilíbrio da cadeia alimentar.
Hoje, a Reserva Natural de Salto Morato integra a Rede de Monitoramento do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar.
Aberta à visitação desde 1996, Salto Morato já recebeu aproximadamente 162 mil visitantes do Brasil e do exterior.
Como visitar
A Reserva Natural Salto Morato possui um Centro de Visitantes com diferentes informações para que o turista conheça mais a região em que está. Oferece ainda estrutura de camping, com capacidade para até 12 barracas, contendo banheiros, chuveiros com água quente, churrasqueira, sistema Wi-Fi e acesso ao rio.
Para visitar a reserva é preciso adquirir ingressos (aqui). Horário: terça-feira a domingo, incluindo feriados, das 8h30 às 16h. O agendamento também pode ser feito por Whatsapp: (41) 98827-4134.
_____________
Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular.
Foto (destaque): José Paiva / Fundação Grupo Boticário