Especialista independente, Olivier De Schutter, relator especial sobre Extrema Pobreza da ONU, propôs esta semana, em reunião do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, que trabalhos domésticos e de cuidados – que não são remunerados e envolvem principalmente as mulheres -, sejam pagos.
Sugestão integra relatório que indica que 16,4 mil horas diárias de trabalhos como esses são realizadas gratuitamente no mundo.
Para De Schutter, esse reconhecimento pode ser financiado com políticas de impostos progressivos – como a taxação de herança e das grandes fortunas (defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também no G20) – e combate aos fluxos financeiros ilícitos e à evasão fiscal.
Em sua apresentação, o perito também solicitou que governos deixem de considerar o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) como indicador do estado da economia, passando a priorizar os direitos humanos e o bem-estar das pessoas nas decisões econômicas.
“O mundo seguiu, por décadas, a lógica do primeiro fazer crescer a economia e depois utilizar a riqueza para combater a pobreza”, como bem dizia a economista Maria da Conceição Tavares, nos anos 90 (assista no final deste post), falecida recentemente aos 94 anos.
De Schutter explicou que foi essa percepção equivocada do processo que deixou o mundo à beira do colapso climático. O resultado desse pensamento daninho foi “uma pequena elite acumulou um fortuna escandalosa, enquanto centenas de milhões de pessoas enfrentam, todos os dias, os horrores da pobreza extrema”.
Segundo a ONU, o relator declarou que a obsessão pelo crescimento do PIB e o consumismo se converteram em “perigosas distrações” em relação ao que é realmente importante: “a capacidade das pessoas de levarem uma vida digna em um planeta habitável”.
Na ocasião ele destacou que 5 bilhões de pessoas ficaram mais pobres desde 2020 e que, se as tendências atuais se mantiverem, pelo menos 575 milhões de habitantes do planeta ficarão em situação de pobreza extrema em 2030, prazo acordado pela ONU e os países signatários para acabar com o problema.
“Uma falácia!”
A seguir, assista a um trecho do programa Roda Viva de 1995, com Maria da Conceição Tavares, sobre a questão do “crescer antes e depois distribuir” que, para ela, era uma falácia. O tempo provou que ela estava certa.
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Foto (destaque): Ngoc Son Bui/Pixabay
Com informações da UN News