
Nada está protegido da poluição plástica. E infelizmente, nem a Amazônia. Peixes, mamíferos, anfíbios, répteis, aves, plantas e água dos rios amazônicos sofrem o impacto do descarte de resíduos feitos com esse tipo de material aponta um estudo inédito feito por pesquisadores da Fiocruz Amazônia e do Instituto Mamirauá, o primeiro a analisar a fundo a contaminação do plástico no bioma.
“Revisamos 52 estudos anteriores que relatam a presença de lixo e fragmentos plásticos em ambientes terrestres e aquáticos do bioma. A maioria das evidências refere-se a microplásticos em áreas brasileiras ao longo do rio Amazonas, com foco em peixes. No entanto, plásticos também foram encontrados em sedimentos, plantas e fauna diversa, incluindo aves, répteis e mamíferos”, revelam os autores do estudo, publicado no jornal Ambio.
Segundo os pesquisadores, muita atenção tem sido dada nas últimas décadas à poluição plástica nos oceanos, e pouca aos ecossistemas terrestres. E a análise na Amazônia revela que o impacto tem proporções de igual proporção e está espalhado por toda a extensão do bioma. “A Amazônia, a maior bacia hidrográfica do mundo, e o segundo rio mais poluído por plástico, recebeu atenção científica limitada”, afirmam.

Imagem: Fernandes de Melo, Jéssica et al, Ambio, 2025
O estudo indicou que mais de 60% dos animais analisados, sobretudo espécies de peixes consumidas por ribeirinhos e indígenas, tinham plástico em seu intestino.
“A contaminação de fontes importantes de alimentos e água representa um grande risco à saúde para populações tradicionais. Identificamos lacunas urgentes em pesquisas e destacamos a necessidade de mitigação direcionada por meio da gestão de resíduos e da educação”, alertam os cientistas.
Mais de 90% dos dados foram obtidos na Amazônia brasileira e os resíduos mais comumente encontrados são fragmentos com menos de 50 mm, também conhecidos como microplásticos. Há poucos dias, inclusive, foi confirmada, pela primeira vez, a presença desses minúsculos resíduos no estômago de bugios-vermelhos (Aloautta juara), nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, ambas no Amazonas.
De acordo com o relato, divulgado em uma nota científica publicada no periódico internacional EcoHealth, essa é a primeira evidência de ingestão de microplástico por primatas arbóreos.
“Encontramos filamentos de fibras microplásticas de coloração verde nos estômagos de dois indivíduos de bugio-vermelho de florestas de várzea da Amazônia central durante inundações sazonais. Concluímos que as partículas de plástico podem ter sido derivadas da decomposição de redes fantasmas (redes de pesca abandonadas) depositadas em árvores durante as inundações anuais. Nossos resultados destacam a necessidade de mais pesquisas para avaliar a extensão da ingestão de plástico por espécies florestais e as possíveis consequências para a saúde de animais selvagens, humanos e ecossistemas”, ressaltam os autores da nota.
————————–
Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular
Leia também:
Ameaçados de extinção, golfinhos-do-rio-indo têm estômagos repletos de microplásticos
Apenas 10% das 475 megatoneladas de plástico produzidas no planeta são recicladas, com impacto na saúde de bebês a idosos
Microplásticos são encontrados em placentas e cordões umbilicais de gestantes brasileiras em estudo inédito
Mortes por doenças cardíacas são associadas a químico encontrado em plásticos
Foto de abertura: Jason Rothmeyer, CC BY 2.0 via Wikimedia Commons