
O guará é uma das mais belas aves existentes na natureza. Por causa do vermelho vibrante de sua plumagem, a espécie Eudocimus ruber é conhecida por diversos nomes populares, como guará-vermelho, ibis-escarlate, guará-rubro, guará-piranga e garça-vermelha.
Mas há poucos dias, durante uma saída a campo para monitoramento de sua população, dois pesquisadores do Instituto Guaju, organização sediada no município de Guaratuba, no litoral paranaense, fizeram um raro registro de um guará branco.
“Pelo que tudo indica, é o primeiro registro realizado no Brasil de um exemplar adulto, como esse”, contou com exclusividade, ao Conexão Planeta, Edgar Fernandez, pesquisador do Instituto Guaju e responsável pelo projeto Guará.
Ele explica que ao nascer, essa espécie de ave apresenta uma coloração preta. Depois de algum tempo, a plumagem do guará se torna branca e cinza. E após, em média 12 meses, começa a ficar com a cor definitiva, em tons de vermelhos, com apenas as pontas das asas pretas. “Essa cor é de sua alimentação, baseada principalmente em caranguejos”.
É por esta razão que o flagrante feito na semana passada surpreendeu a todos. Nunca antes pesquisadores tinham observado um guará adulto branco. Fernandez diz que a ave não é albina, a explicação mais plausível é que possua uma mutação genética conhecida como leucismo, caracterizada pela falta total ou parcial de pigmentos (melanina), que afeta a transferência e acumulação de pigmentos nas penas da ave, o que confirmaria a coloração esbranquiçada do exemplar fotografado pelos pesquisadores.

Apesar da cor diferente em relação ao resto do grupo, o guará branco apresenta uma boa socialização. “Não observamos comportamento de rejeição ou isolamento pelos outros indivíduos”.
Agora, Fernandez e Fabiano Cecilio da Silva, diretor do Instituto Guaju, aguardam o retorno de diversos especialistas brasileiros, com quem compartilharam a descoberta, para se certificarem que esse é o primeiro registro mesmo ocorrido no país.
A volta do guará-vemelho
O Eudocimus ruber pode ser encontrado em vários países da América do Sul, como Colômbia, Venezuela e Guianas, e também, na ilha caribenha de Trinidad e Tobago, onde a ave é um símbolo nacional.

No Brasil, o guará é visto ao longo da costa brasileira, nos estados do Norte, Nordeste, Sudeste e Sul. Todavia, nesse último, ficou quase um século sem ser observado.
“O guará foi abundante no litoral do Paraná até meados do século XIX, e sem muitas explicações científicas, permaneceu sem ocorrência registrada por aproximadamente 80 anos, o que o fez ser inserido na lista vermelha de animais ameaçados do estado”, conta Edgar Fernandez.
Todavia, recentemente, a ave voltou a aparecer, de forma natural, na costa paranaense (leia mais sobre o assunto aqui).
Há 11 anos o projeto Guará faz o monitoramento da espécie no Paraná, realizando saídas de campo quinzenais. Após o registro de um único exemplar em 2008, nos últimos meses, foram fotografadas mais de 4 mil aves.
Nome indígena
Essa linda e exuberante ave de plumagem vermelha influenciou a escolha do nome de várias localidades litorâneas do país. Muitas delas foram batizadas devido à presença do guará, como Guaratuba – que em tupi significa ajuntamento de guarás -, Guaraqueçaba (Paraná), Guaratiba (Rio de Janeiro) e Guarapari (Espírito Santo).

Medindo entre 50 e 60 cm, a espécie possui bico fino, longo e levemente curvado para baixo. Seus ninhos são feitos no alto das árvores, na beira de mangues e lamaçais litorâneos.
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Fotos: Edgar Fernandez