Esta semana uma notícia fez os biólogos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa) comemorarem: quatro peixes-bois, que foram devolvidos ao seu habitat natural, em fevereiro, estão bem e saudáveis. “Consideramos um recorde. O grupo já se dispersou, o deslocamento chega em média a 1,5 km por dia, e eles já têm contato com peixes-boi selvagens”, afirmou Diogo de Souza, colaborador do Ampa.
O grupo formado por três machos e uma fêmea viveu por três anos no semi-cativeiro. Foram resgatados ainda filhotes. Vítimas do tráfico ilegal, muitos animais chegam à Ampa muito debilitados. São encaminhados então para o Inpa, onde recebem cuidados veterinários e passam por um longo período de reabilitação.
Ao longo das últimas décadas, os biólogos perceberam que o processo de reintrodução à natureza precisava ser feito em duas etapas: primeiramente, a reabilitação no cativeiro, e depois, mais um tempo num ambiente de semi-cativeiro. O aprendizado se deu depois do fracasso das primeiras tentativas de devolução de quatro machos adultos, em 2008 e 2009. “No primeiro ano, nenhum sobreviveu. No ano seguinte, os animais foram encontrados muito debilitados. Apenas um resistiu e voltou para o Inpa, adaptando-se novamente às condições do cativeiro”, revelou Souza.
Por esta razão, o Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia passou por mudanças e houve a criação da etapa de semi-cativeiro, ou “pré-soltura”, em um lago fechado de 13 hectares, em Manacapuru.
Os peixes-bois recebem um cinto de monitoramento na cauda
A parceria entre Ampa e Inpa já dura 14 anos. Desde 2000, mais de 120 filhotes órfãos de peixe-boi foram salvos. São em média dez resgates por ano. Atualmente, há 60 peixes-bois aos cuidados da instituição. “Não queremos manter um animal ameaçado de extinção confinado, então a ideia sempre foi devolver para a natureza” conta o biólogo.
Apesar da celebração com os bons resultados da reintrodução dos quatro peixes-bois, nestes últimos seis meses, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus, eles continuarão a ser monitorados. Todos têm uma espécie de radar, que foi colocado na cauda, pelo qual é possível acompanhar a adaptação dos mamíferos, busca por alimento e também, a presença da ação humana.
O momento da soltura de um dos animais
Por terem vivido em cativeiro, os animais não estão acostumados com algumas variáveis da natureza, como por exemplo, a vazante do rio. “Aparentemente, eles não têm percepção de inundação, cheia ou seca”, explica Souza.
O peixe-boi da Amazônia
Menor dos peixes-bois existentes no mundo, a espécie amazônica (Trichechus inunguis) atinge entre 2,8 a 3 metros e pode pesar até 450 kg. Além disso, é a única que vive em água doce. Alimenta-se basicamente de plantas aquáticas e semi-aquáticas.
Podendo ser encontrado em rios ao longo de toda Bacia Amazônica, o nosso peixe-boi tem algumas características marcantes: uma mancha branca na região ventral (peito) e ausência de unhas nas nadadeiras peitorais, o que torna mais fácil diferenciá-lo das espécies marinhas e africanas.
Por possuir um couro cinza, extremamente resistente, no passado foi vítima da caça. Também era morto pelas populações ribeirinhas que consumiam sua carne. Considerado como espécie “vulnerável” pela Lista Vermelha da Conservação Internacional, o que signifca que ele é vulnerável ao risco de extinção, o peixe-boi tem hoje entre suas principais ameaças a destruição e a degradação do habitat natural, além da liberação de mercúrio nos rios e a contaminação da água por agrotóxicos, proveniente de plantações na Amazônia.
Outra preocupação de entidades protetoras, como a Ampa, é que a construção de represas hidrelétricas na região amazônica limita a variabilidade genética da espécie, já que se transformam em barreiras para o ir e vir dos peixes-bois e acabam isolando as populações.
Fonte: Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa)
Fotos: divulgação Ampa e Inpa