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Peixe abissal conhecido como ‘diabo negro’ é visto, pela primeira vez, próximo à superfície em plena luz do dia, nas Ilhas Canárias

Peixe abissal conhecido como ‘diabo negro’ é visto, pela primeira vez, próximo à superfície em plena luz do dia, nas Ilhas Canárias; horas depois, morre

Quem lembra dos peixinhos Dory e Marlin no desenho animado Procurando Nemo (2003) que, durante sua aventura pelo oceano para encontrar o protagonista se deparam com uma criatura aterrorizante? Era um peixe preto com uma parafernália luminosa que saia da cabeça (uma armadilha para atrair presas) e uma boca enorme, repleta de dentes afiadíssimos, popularmente conhecido como diabo negro.

Peixe abissal conhecido como ‘diabo negro’ é visto, pela primeira vez, próximo à superfície em plena luz do dia, nas Ilhas Canárias; horas depois, morre
Foto: Pixar / divulgação

Um peixe-pescador abissal (Melanocetus johnsonii), que vive nas profundezas dos oceanos – entre 200 e 2 mil metros de profundidade – e que, nos anos 60, se popularizou com o seriado japonês National Kid, nos episódios dos seres abissais: eles tinham um submarino no formato do peixe assustador (foto abaixo).

Foto: Prime Video / divulgação

Pois foi essa criatura – adulta e certamente uma fêmea devido ao tamanho (explico mais adiante – que pesquisadores da ONG espanhola Condrik Tenerife (dedicada ao estudo de tubarões pelágicos, que vivem em águas abertas) avistaram em 26 de janeiro deste ano, nadando em plena luz do dia, próximo à superfície a apenas dois quilômetros da costa de Tenerife, nas Ilhas Canárias. Foi durante uma expedição científica, uma baita sorte!

O vídeo divulgado pelo jornal El País na sexta-feira, que viralizou nas redes no fim de semana, foi registrado por David Jara, fotógrafo de fauna marinha, em parceria com os biólogos marinhos Laia Valor, Marc MartínAntonio Sabuco. E este é certamente o primeiro registro mundial de um diabo negro adulto vivo na superfície do oceano em plena luz do dia.

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Peixe abissal conhecido como ‘diabo negro’ é visto, pela primeira vez, próximo à superfície em plena luz do dia, nas Ilhas Canárias; horas depois, morre
Foto: reprodução de vídeo de David Kara Boguña

Marco na história da biologia marinha

avistamento inusitado chamou a atenção dos biólogos já que o diabo negro vive na escuridão e raramente emerge. Até então, só haviam sido avistados próximos à superfície larvas da espécie ou indivíduos adultos mortos. Mas por que aquele diabo negro estaria nadando tão longe de seu habitat natural?

“O vimos quando voltávamos ao porto. Passamos por ele e vi uma coisa preta que não parecia plástico nem nada, me pareceu estranho. Depois de vê-lo, passamos algumas horas com ele. Estava machucado e não estava em bom estado, durou apenas algumas horas”, contou Laia ao El País. 

O corpo do peixe abissal foi recolhido e levado para o Museu de Natureza e Arqueologiade Santa Cruz de Tenerife para análise. Até o resultado dos exames, o motivo de sua presença permanecerá um mistério. 

A possibilidade de estudar a biologia e o comportamento desta espécie emblemática é uma grande oportunidade para a ciência. Certamente os pesquisadores obterão informações valiosas não só sobre sua morte, mas também sobre adaptação ambiental – em face da crise climática –, que ajudarão a aumentar o conhecimento sobre a espécie e a importância de sua conservação da biodiversidade marinha em ecossistemas profundos, já tão ameaçados.

Registrada pela Rede de Observadores do Ambiente Marinho das Ilhas Canárias (RedPROMAR), a descoberta do diabo negro vivo já é um marco na biologia marinha. E sua documentação, uma prova da importância da ciência cidadã e da pesquisa marinhano arquipélago (Ilhas Canárias). Um grande impacto na comunidade científica que pode ajudar a abrir novos caminhos para o estudo das profundezas dos oceanos. 

A espécie

Como contei, o diabo negro é um peixe de águas profundas, que vive no fundo do mar entre 200 e 2 mil metros de profundidade, onde a luz solar não chega e abioluminescência é essencial para sua sobrevivência

ilustração: A.L. Clement / domínio público

De acordo com a National Geographic, “a icônica antena luminosa, repleta de bactérias simbióticas, atua como uma isca que atrai sua presa antes de ser devorada com uma única mordida”, e ainda tem um dos venenos mais letais dos oceanos, inoculado pela pele ou pelos dentes. Mas, desta vez, o peixe abissal pode ter sido vítima de algo mais forte do que ele.

Apesar de sua aparência assustadora, o peixe não representa perigo para os seres humanos: o macho mede até 3 centímetros e a fêmea pode chegar a 18 cm. E além de características peculiares como a bioluminescência e de seu papel na cadeia alimentar, a espécie adota “uma das estratégias de acasalamento mais extremas do reino animal”.

“[…] os machos são mais parecidos com um parasita, sendo 10 vezes menores que as fêmeas”, explica o Seaside Aquarium do Oregon (EUA). “Ao encontrar uma fêmea, eles se fundem a ela, “perdem os olhos e órgãos internos, obtendo todos os nutrientes das parceiras. Em troca, eles fornecem a elas uma fonte constante de esperma”, finalizou o aquário em declaração de maio de 2024, quando um indivíduo da espécie foi encontrado morto numa praia do estado.

Que bicho mais bizarro! Tão pequenino, com uma cara aterrorizante, o veneno mais letal do oceano e inseguro a ponto de se anular, fundindo-se ao corpo da fêmea, que poderá reproduzir sempre.

Em vídeo publicado em seu Instagram, Alberto Lindner, professor de Biologia e Oceanografia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explicou que o diabo-negro encontrado pelos cientistas espanhóis é, na verdade, “uma diaba negra!” devido a seu tamanho. Certamente não seria possível filmar um minúsculo macho de até 3 cm… Para saber mais, assista ao vídeo de Lindner no final deste post.

De acordo com a Lista Vermelha da IUCN – organização que classifica os animais segundo o risco de extinção – a situação do diabo negro, em 2013, era pouco preocupante. Não há atualização da situação da espécie, mas, segundo o Seaside Aquarium de Oregon, existem apenas 31 indivíduos no planeta. Talvez 30 com a morte da fêmea que apareceu na costa das Ilhas Canárias, à luz do dia.

A seguir, assista a um dos registros feitos por Daniel Jara e à explicação de Lindner:

 
 
 
 
 
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Uma publicação compartilhada por David Jara Boguñá 🐬 (@jara.natura)

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Foto: reprodução do vídeo publicado no Instagram da ONG Condrik-Tenerife

Com informações da Condrik-Tenerife, da National Geographic e do G1

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