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Papa Francisco “puxa a orelha” de ministros das finanças de diversos países em encontro sobre mudanças climáticas no Vaticano

Quem foi a esse encontro, realizado em 27 de maio pela Pontifícia Academia de Ciências, no Casino di Pio IV – um palacete no interior dos Jardins do Vaticano -, sabia que ouviria palavras amorosas e certeiras do Papa Francisco sobre a crise climática mundial e que ele cobraria, de cada um dos presentes, ações mais justas em seus países de origem.

O evento contou com a presença da presidente da Assembleia das Nações Unidas, a chanceler equatoriana María Fernanda Espinosa, e reuniu ministros das finanças de diversas nações – exceto do Brasil – para debater o tema Mudança Climática e Novas Evidências da Ciência, Engenharia e Política. Participaram cientistas de várias especialidades.

O Papa deu as boas vindas: “Estou grato por vocês terem vindo ao Vaticano para discutir uma questão de grande importância para a humanidade e toda a criação”. E já abriu os olhos de todos para o objetivo do encontro:

“Vivemos em uma época em que lucros e perdas parecem ser mais valorizados do que vidas e mortes, e quando o patrimônio líquido de uma empresa tem precedência sobre o valor infinito de nossa família humana. Você está aqui, hoje, para refletir sobre como remediar esta crise profunda causada por uma confusão de nosso livro moral com nosso livro financeiro. Você está aqui para ajudar a interromper uma crise que está levando o mundo ao desastre“.

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Sim, é preciso encontrar um remédio ou uma solução urgente. E o pontífice lembrou-os sobre as palavras dos principais climatologistas e especialistas, que todos tinham acabado de ouvir. “Eles foram claros e insistentes. Precisamos agir decisivamente para acabar com todas as emissões de gases de efeito estufa até meados do século, e fazer ainda mais do que isso. As concentrações de dióxido de carbono precisam diminuir significativamente para garantir a segurança de nossa casa comum“. E “puxou a orelha” de todos: “Você também ouviu falar que isso pode ser conseguido com baixo custo, empregando energia limpa e melhorando a eficiência energética“.

E lembrou-os sobre os efeitos da inação no mundo. “Há cerca de duas semanas, vários centros de pesquisa científica registraram a concentração de dióxido de carbono na atmosfera – uma das principais causas globais do aquecimento global ligado à atividade humana – como tendo alcançado 415 partes por milhão, o nível mais alto já registrado. Em todo o mundo, estamos vendo ondas de calor, secas, incêndios florestais, inundações e outros eventos meteorológicos extremos, aumento do nível do mar, surgimento de doenças e outros problemas que são apenas uma terrível premonição de coisas muito piores, a menos que façamos algo com urgência”.

Como não podia deixar de ser, o pontífice lembrou de dois importantes acordos, definidos em 2015, que têm indicado a direção que devemos tomar e uniram algumas nações em torno do bem comum e precisam ser implementados e respeitados: um se refere aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e o outro é o Acordo de Paris, fechado durante a Conferência Internacional do Clima (COP21), de Paris.

Papa Francisco, então, “fez pressão” nos líderes financeiros: “É vossa responsabilidade perseguir e estimular ações destinadas a alcançar as metas que vossos governos adotaram há quatro anos para o bem da humanidade de hoje e do futuro. Esta é uma tarefa fundamental! Devemos alcançar o que foi concordado, porque a sobrevivência e o bem-estar da humanidade e de todos os seres vivos depende disso”.

Destacou que parte da humanidade investe cada vez mais em combustíveis fósseis, “embora os cientistas nos digam que estes devem permanecer no subsolo”. E, por outro lado, relatórios recentes da Agência Internacional de Energia atestam diminuição nos investimentos em energia limpa, pelo segundo ano consecutivo”. Isso, mesmo com provas de que apostar na energia proveniente do vento, do sol e da água tem muitas vantagens para o ambiente humano. E reiterou: “Continuamos a caminhar por estradas antigas porque somos reféns da nossa má contabilidade e da corrupção de interesses adquiridos”, lamentou. “Continuamos a considerar e a contar como lucro o que ameaça a nossa própria sobrevivência“.

Foi, então, que ele falou diretamente sobre a importância dos responsáveis pelas finanças de seus países nesse cenário, daqueles que estavam, ali, presentes e que “mantêm os livros contábeis em nome de seus respectivos governos. Antes de mais nada, porém, devemos reconhecer o livro mestre’ da própria vida, da dignidade humana, da sobrevivência, porque, que vantagem pode ter uma pessoas que ganha o mundo inteiro e depois perde a sua alma? Sim, estamos diante de uma questão de cálculo, o cálculo de salvar o nosso mundo da indiferença e da idolatria pelo dinheiro”.

Por tudo isso, Papa Francisco revelou que esperava, com sinceridade, que todos os administradores das finanças do mundo, ali presentes, se unissem em torno de esforços e de planos comuns, que respeitem a ciência do clima, com base na mais recente tecnologia de energia limpa “e, acima de tudo, com a ética da dignidade humana“. Pediu que trabalhassem em conjunto com cientistas, técnicos e com os (e pelos) povos de cada nação, especialmente os mais pobres, para que possam atender os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e as normas do Acordo Climático de Paris.

O pontífice lembrou que o tempo é essencial nessa trajetória e disse que espera que, com esse “plano comum” acordado pelos governos – “sua ação decisiva em prol de toda a humanidade”-, seja possível nos encontrarmos para “agradecer a Deus por sua misericórdia, nos permitindo corrigir nosso caminho antes que seja tarde demais”. É o que também esperam ativistas e os milhares de jovens que têm saído às ruas, pelo mundo, inspirados pela adolescente sueca Greta Thunberg, de 16 anos, e sua greve escolar pelo clima.

O discurso do Papa, em inglês, está disponível no site do Vaticano.

Foto: Vaticano/Divulgação

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