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Pandas da China chegam a zoológicos dos EUA em meio à denúncia sobre programa de reprodução da espécie

Pandas da China chegam a zoológicos dos EUA em meio à denúncia sobre programa de reprodução da espécie

Nos últimos meses, milhões de americanos estavam na expectativa para a chegada de novos casais de pandas a dois dos mais famosos zoológicos dos Estados Unidos, o San Diego Zoo, na Califórnia, e o Smithsonian’s National Zoo, em Washington D.C. Há décadas as duas instituições, como diversas outras do mundo, fazem parte de um programa de cooperação com o governo chinês que “empresta” esses animais por um período determinado de tempo. O objetivo seria ampliar a conscientização popular sobre a necessidade da proteção da espécie, assim como gerar novos conhecimentos sobre seu comportamento e ainda, garantir a sua segurança genética através da existência de populações em cativeiro.

Pois justamente essa semana, quando os pandas Bao Li e Qing Bao chegaram à capital americana, depois de uma viagem de 19 horas, vindos de Chengdu, e meses de planejamento e preparação, uma reportagem do jornal The New York Times faz sérias denúncias sobre o programa de conservação internacional e o envio dos animais para zoológicos não só dos Estados Unidos, como de outros países.

Intitulada “A Fábrica de Pandas”, a matéria apresenta uma enorme quantidade de documentos – mais de 10 mil páginas -, muitos deles do próprio arquivo do Instituto Smithsonian, entrevistas de pesquisadores, além de fotos e vídeos. A jornalista Mara Hvistendahl visitou, inclusive, o centro de reprodução da espécie em Chengdu.

Para começar, não existe “empréstimo” de pandas. Os zoológicos que recebem os animais pagam algo em torno de U$ 1 milhão por ano para tê-los, dinheiro esse que seria revertido para a conservação da espécie na China (recentemente o Ahtari Zoo, na Finlândia, anunciou que iria devolver o casal Lumi e Pyry, oito anos antes do previsto, porque a manutenção de ambos estaria sendo cara demais e o a presença deles não teria atraído visitantes em grande número, como era esperado).

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Mais pandas retirados da natureza do que soltos

Em 2021, a China declarou que o panda (Ailuropoda melanoleuca) deixou de ser considerado criticamente em risco de extinção. Segundo o governo chinês, ele passou à categoria “vulnerável”, ou seja, ainda necessita de proteção, mas o número de indivíduos da população em vida livre já apresentava um aumento expressivo. Estimava-se então que existiam pouco mais de 1.800 mil deles, adultos, nas florestas do país.

Contudo, há dúvidas sobre a veracidade desse número, diz uma outra reportagem do The New York Times. O levantamento seria de 2013 e nunca houve chancela de organizações internacionais sobre a contagem ou o método utilizado.

Ainda segundo os jornalistas envolvidos na investigação, um dos intuitos do programa de cooperação internacional seria justamente aumentar o nascimento de filhotes nascidos em cativeiro para que eles pudessem ser introduzidos na vida selvagem.

“Até agora a China removeu mais pandas da natureza do que introduziu. Nenhum filhote nascido em zoológicos americanos ou europeus, ou seus descendentes, foi solto”, denuncia a reportagem, que afirma que no começo dos anos 2000, 126 pandas viviam em cativeiro, mas atualmente esse número chega a 700.

Pandas da China chegam a zoológicos dos EUA em meio à denúncia sobre programa de reprodução da espécie
Chegada do avião que levou Bao Li e Qing Bao a Washington D.C.
Foto: divulgação Smithsonian’s National Zoo and Conservation Biology Institute

Sofrimento na reprodução artificial

O processo natural de reprodução dos pandas é bastante complicado. As fêmeas só ficam férteis dois ou três dias por ano e como esses animais se alimentam apenas de bambu, ou seja, sua ingestão calórica é baixa, eles demostram pouca disposição para o acasalamento. Além disso, os machos têm comportamento agressivo.

Se na natureza a reprodução já não é fácil, quem dirá em cativeiro. Por isso mesmo, a grande maioria dos zoológicos envolvidos na parceria chinesa, realiza a inseminação artificial – um procedimento delicado, ainda mais com um animal que pode chegar a pesar 160 kg -, mas incentivada pelos chineses. Muitas vezes a quantidade de anestésico utilizada para fazê-los dormir teria sido muito maior do que a recomendada. Ou não suficiente, diz a reportagem.

O The New York Times relata que há registro da morte de pelo menos uma panda, após a tentativa de engravidá-la, e casos de ferimentos e queimaduras no reto. “Alguns animais estavam parcialmente acordados para procedimentos dolorosos. Na China, pandas acordaram enquanto eram anestesiados e inseminados por até seis vezes, em cinco dias, muito mais frequentemente do que os especialistas recomendam.”

Pandas da China chegam a zoológicos dos EUA em meio à denúncia sobre programa de reprodução da espécie
A fêmea Qing Bao, ainda na China, em maio, antes de fazer a viagem de 19 horas
para os Estados Unidos há poucos dias
Foto: Roshan Patel, Smithsonian’s National Zoo and Conservation Biology Institute

Posicionamento dos zoológicos

Em nota, como resposta às denúncias, o San Diego Zoo, um dos zoológicos mais respeitados do mundo, afirmou ao The New York Times que “a intervenção crítica, incluindo a reprodução para conservação, foi necessária para a sobrevivência dos pandas gigantes”.

Já o Smithsonian’s National Zoo, que é uma organização sem fins-lucrativos (assim como o San Diego Zoo), e não cobra ingresso de seus visitantes – também considerado um importante centro de pesquisa da conservação mundial -, declarou que o sucesso do programa do panda não pode ser medido pelos números de soltura desses animais na natureza e que a “presença de pandas em zoológicos seria um seguro contra a extinção e que a segurança animal é uma prioridade máxima.”

Sobre a retirada de pandas da natureza para integrarem o programa de reprodução em cativeiro, o governo chinês disse que o The New York Times “distorceu a realidade da proteção e gestão do panda gigante na China.”

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Foto de abertura: Roshan Patel, Smithsonian’s National Zoo and Conservation Biology Institute

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