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Onça-pintada suspeita de matar caseiro em pesqueiro, no MS, é capturada, passa por tratamento e, certamente, não volta à natureza

Onça-pintada suspeita de matar caseiro em pesqueiro, no MS, é capturada, passa por tratamento e, certamente, não volta à natureza

Assim que a morte do caseiro Jorge Avalo, em pesqueiro de Aquidauana, no Pantanal do Mato Grosso do Sul, foi confirmada e entendida como resultado do ataque de onça-pintada -, o governo estadual tratou de agir rápido (contamos aqui).

Mantendo a Polícia Militar Ambiental na liderança, acionou o pesquisador e especialista em manejo de onças-pintadas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Gediendson Ribeiro de Araújo, e o Cenap (Centro Nacional Pesquisa de Mamíferos Carnívorosdo ICMBio, representado pelo biólogo e analista ambiental Rogério Cunha de Paula, para que orientasse as ações futuras, a fim de evitar novas tragédias.

Devido aos relatos de que onças-pintadas frequentavam os arredores da casa onde vivia Jorginho – colocando em risco os moradores próximos -, o primeiro passo foi colocar dez armadilhas ao redor da casa para capturar a primeira onça que aparecesse ali, certamente a que mais frequentava o local. 

“A intenção não era pegar um animal que estava passando, mas um animal que conhecesse a casa. Tinha gente dentro dela, a equipe da PMA estava lá também. A ideia era pegar o animal que costumava se aproximar da casa sem receio dos seres humanos presentes”, explica Rogério Cunha, do Cenap/ICMBio. 

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As equipes da PMA aguardaram até as 3h da madrugada, quando finalmente a onça caiu na armadilha: era um macho de cerca de 94 quilos, que, segundo um dos policiais presentes, estava muito magra. Eles ainda notaram, pela reação do animal, que parecia acostumado com a presença humana.

Onça-pintada suspeita de matar caseiro em pesqueiro, no MS, é capturada, passa por exames e, certamente, não volta à natureza
A onça após captura, já anestesiada e monitorada
Foto: Polícia Militar Ambiental / divulgação

Ainda não é possível dizer que a onça capturada é a que pode ter matado Jorge, mas o fato é que todos os dias eram identificadas novas pegadas e pescadores contaram que, na noite seguinte à sua morte, algum animal destruiu a tela que protegia uma das janelas da casa e entrou. 

Após a captura, foram instaladas armadilhas fotográficas para monitoramento em volta da casa de Jorginho. “Agora, com as armadilhas fotográficas, o comportamento de todos os animais que frequentam aquela área vai ser analisado e talvez possamos descobrir porque tantos animais andam em volta da casa. Lá não tem o que possa atrai-los. O estoque de peixes certamente não fica ali. E, se ficar, está em freezers”, destaca o biólogo. “Pode ser que a onça capturada seja a que matou Jorge, mas pode ser que não. Pode ser que tenha mais de uma nos arredores”, pondera.

O rancho é muito grande e, segundo pescadores, a onça era vista no píer, na plataforma dos barcos. Eles disseram que, naquela manhã, Jorge foi ver os barcos, encontrou a onça, saiu correndo e ela o atacou. O print da imagem da câmera de segurança – entregue à polícia pelo filho do dono da propriedade – mostra a mancha de sangue no píer, mas não o momento em que ele foi atacado. “Faltam muitos elementos, que estão sendo avaliados pela Polícia Civil. E a avaliação da Polícia Científica está em aberto”, conta Rogério. 

Exames e tratamento

A onça foi levada em comboio ao CRAS – Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (órgão ligado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente)de Campo Grande, onde chegou por volta das 11h de ontem para a realização de exames – entre eles o de fezes, que pode revelar se a onça é a que atacou o caseiro – e passar por tratamento. Assim, ela está sob responsabilidade do governo do estado.

Onça-pintada suspeita de matar caseiro em pesqueiro, no MS, é capturada, passa por exames e, certamente, não volta à natureza
A onça-pintada chegando no CRAS com a equipe da PMA
Foto: Saul Schramm / Governo de MS / divulgação

Hoje (25), o CRAS divulgou o primeiro boletim veterinário com alguns resultados da análise do felino de cerca de 9 anos, que indicam problemas sérios de saúde: “O animal apresenta desidrataçãoalterações hepáticas, renais e gastrointestinais” e requer cuidados especiais “em virtude da situação combalida na qual foi encontrado”.

“Para concluir o diagnóstico do estado de saúde, veterinários aguardam laudos e resultados de exames complementares, de raio-x, ultrassom e hemograma”, acrescenta o boletim. 

Onça-pintada suspeita de matar caseiro em pesqueiro, no MS, é capturada, passa por exames e, certamente, não volta à natureza
A onça durante exames no CRAS
Foto: Saul Schramm / Governo de MS / divulgação

Os veterinários a anestesiaram para realizar os exames e contam, no boletim, que, “após retornar da anestesia, está consciente e não apresentou novos problemas” como vômito e regurgitação, identificados “na primeira noite no CRAS”. E finalizam: “De modo geral, apresenta comportamento dentro da normalidade”.

A onça-pintada está num recinto gradeado, seguro para ela e para o manejo realizado por veterinários. A unidade foi fechada para atendimento ao público, também para segurançade todos. 

Mantenedor de fauna: sua próxima morada

Quando estiver recuperada, a onça-pintada será encaminhada para o ICMBIo para que seja integrada a um programa de monitoramento, o Plano de Ação Nacional para a Conservação da Onça-Pintada

O órgão selecionará uma instituição de preservação ou mantenedor de fauna para receber o felino. Lá, ele será cuidado e observado e pode ser selecionado para um programa de reprodução. “Certamente vão trabalhar para reabilitar comportamento dela, mas dificilmente poderá voltar à natureza”, como filhotes resgatados e treinados.

“A onça foi removida e não deve retornar à natureza. A remoção se deve a distúrbios comportamentais. Ela é um potencial risco a novos incidentes, tanto ali como em outros lugares”, salienta Rogério. “A onça-pintada não é como os leões da Tanzânia, que passaram a ter o ser humano como parte da dieta. Alguma coisa fez com que ela investisse contra Jorge”.

Claro que o ideal seria poder recuperá-la, mas o analista do ICMBio diz que distúrbios como os que ela apresenta são irreversíveis. E é preciso pensar nas comunidades locais. “Quem ficaria tranquilo sabendo que uma onça que matou um amigo continua rondando a região?”, pergunta ele, resgatando o desfecho trágico para a conservação que marcou Cáceres em 2008. 

A primeira onça que matou um ser humano no Brasil

Há 17 anos, na cidade de Cáceres, localizada no centro-sul do estado do Mato Grosso, numa região conhecida como Alto Pantanal, um rapaz de 22 anos foi morto por uma onça-pintada e arrastado por ela, que não se alimentou dele.

Câmeras de segurança já haviam identificado que três onças andavam na área. “Havia fezes pra todo lado! E uma delas usava aquela área integralmente, permanentemente, como seu território. Os moradores lhe davam comida e praticavam a ceva porque trabalhavam com turismo de observação. Por isso, ela não tinha mais medo de chegar perto e, um dia, matou o rapaz!”, conta Rogério. 

Três meses depois, ela atacou um menino que estava num barco. Pulou sobre ele, que foi resgatado com fratura craniana – com duas perfurações -, mas sobreviveu. 

Mesmo diante desse cenário de risco, nenhuma autoridade tomou providências para investigar o caso ou capturar a onça. Resultado: como solução para a proteção das comunidades, o pai do rapaz – que ganhou dinheiro com turismo, atraindo onças para os turistas verem – liderou uma matança na região. “Foram mais de 15 onças-pintadas mortas, num espaço de três meses!”.

Não é isso que queremos em Aquidauana, por isso manter a onça capturada em uma instituição de preservação é o melhor destino que lhe pode ser oferecido. Ela é uma vítima dos seres humanos que desrespeitam a natureza, por ganância ou ignorância. 

E Rogério sentencia: “Acidentes acontecem cedo ou tarde com onças que têm esse tipo de comportamento. A gravidade da ferida vai depender do potencial de dano do animal. O da onça é a morte, ela vai matar. Não é uma mordidinha de sagui” [outro animal habituado à prática da ceva].

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Foto (destaque): Saul Schramm / Governo de MS / divulgação

Com informações do Campo Grande News

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