
A descoberta da jiboia-atlântica ou Boa atlântica (nome científico) tem dois meses e deve ser muito celebrada. Não só porque a espécie é uma das cobras mais conhecidas do Brasil e está entre os animais mais emblemáticos da nossa fauna, mas também porque a novidade é fruto de dois anos de pesquisas em coleções de mais de 50 museus de quatro países.
Na verdade, até agora, ela era classificada como parte da espécie jiboia-comum, cujo nome científico é Boa constrictor, que pode pesar até dois quilos, não é peçonhenta (não tem veneno) como as outras jiboias (se defende por meio da constrição, matando suas presas por asfixia) e é encontrada em diversos locais do país.
Mas, depois de analisar mais de mil exemplares de jiboias e aprofundar seus estudos, pesquisadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará descobriram novas características moleculares (genéticas) e morfológicas (físicas) que os levaram a considerá-la uma nova espécie.
À reportagem de O Eco, o pesquisador Rodrigo Castellari, curador da coleção de herpetologia do História Natural do Ceará Prof. Dias da Rocha, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), e um dos quatro autores do artigo publicado na revista científica Plos One, destacou:
“É um animal bastante comum e bem conhecido pela população e pelos cientistas desde o século XVII. No entanto, até agora ela tinha passado despercebida e a ciência ignorava que ela era diferente das outras jiboias”.
E ainda contou: “Foram dois anos vendo exemplares em coleções de museus. Revisamos todas as subespécies e espécies do gênero e fomos comparando”.
Também assinam o estudo e o artigo: Lorena Corina Bezerra de Lima e Maria José J. Silva, do Instituto Butantan, e Paulo Passos, do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Mas veja que interessante: as pesquisas não se restringiram às coleções de museus. Rodrigo disse que também analisava exemplares que recebia pelo correio! Consegue imaginar isso? Afinal, as jiboias podem pesar mais de 2 quilos.
Conservação e vulnerabilidade
A mais notável diferença visual está na coloração: na jiboia-comum (espécie à qual pertencia) a cauda tem manchas vermelho vivo (sangue); na atlântica, essas manchas são marrom escuro ou vermelho escuro (quase vinho). Veja a comparação nas imagens.
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Entre os motivos para celebrarmos o reconhecimento da jiboia-atlântica como espécie estão o aspecto científico – “pois ajuda a resolver a taxonomia do grupo e as relações e linhagens dentro dele”, explicou Castellari ao O Eco – e o aspecto da conservação, visto que agora será possível definir e aplicar políticas de conservação adequadas, “ainda mais quando se trata de uma espécie da Mata Atlântica, que é um bioma ameaçado”.
Em termos de risco de extinção, a jiboia-comum é ‘pouco preocupante‘ na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Agora, o próximo passo é fazer a avaliação da jiboia-atlântica para identificar seu nível de vulnerabilidade.
Ela vive ao longo da Mata Atlântica, entre os estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte e há raros registros também na Caatinga. Ou seja, para sobreviver, depende da saúde do bioma mais desmatado do Brasil, que abriga mais de 2.500 invertebrados e mais de 20 mil espécies de plantas, entre outras.
Só no norte e noroeste do Rio de Janeiro, a degradação da mata pela agricultura chega a 93%. Além disso, espécies de árvores endêmicas (exclusivas da Mata Atlântica) correm risco de extinção.
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Foto: Thiago Silva Soares/divulgação
Com informações de O Eco, O Estado de SP e G1
Em 1975 eu soltei em Barão do Monte Alto 8 jiboias. Foram capturadas em mocambinho , Jarbas MG.