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Inteligência artificial é mais nova ferramenta para ajudar na conservação do peixe-boi na Amazônia

Inteligência artificial é mais nova ferramenta para ajudar na conservação do peixe-boi na Amazônia

O peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) é a menor dentre todas as espécies desses mamíferos aquáticos encontradas no mundo. Além disso, é a única que vive em água doce. Apesar dos movimentos lentos, seu monitoramento apenas por avistamento visual é bastante difícil e desafiador. Ele é discreto e esquivo. Mas um novo método, inovador, que combina inteligência artificial (IA) com gravações subaquáticas demonstrou excelentes resultados para ajudar na proteção desse animal tão icônico do bioma.

Durante um período de dois anos, em 2021 e 2022, em estações de cheias nas várzeas dos rios, foram utilizados equipamentos de monitoramento acústico passivo para confirmar a localização de um habitat crítico para a conservação dos peixes-bois na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no estado do Amazonas. Os sons foram analisados por uma rede neural convolucional, ferramenta de inteligência artificial que processa e reconhece imagens ou áudios. A comunicação entre os peixes-bois é feita por meio de vocalizações caracterizadas por alta frequência e repetição rápida.

A análise realizada com a ajuda de IA apontou que, as gravações subaquáticas, feitas ao longo de 226 dias, continham vocalizações de indivíduos adultos e filhotes, em até 94% dos dias em 2021 e por até 11 horas diárias nos picos de atividade. 

“A identificação de filhotes ao longo do tempo auxilia na compreensão acerca do período reprodutivo, e regiões, como as da Reserva Mamirauá, com presença regular de filhotes, apontam para uma área importante à espécie como local de reprodução e cuidado parental”, afirma Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá e uma das coautoras do estudo, publicado na revista científica Remote Sensing in Ecology and Conservation, da Zoological Society of London (ZSL).

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Ela destaca ainda que “a proteção de tais áreas é fundamental, tanto para os adultos reprodutivos quanto para os filhotes que se incorporam à população atual”. Peixes-bois apresentam uma baixa taxa reprodutiva, “o que torna qualquer informação sobre sua reprodução valiosa para estratégias de conservação”, salienta a pesquisadora.

Além de trazer informações importantes para a proteção da espécie, a nova tecnologia tem baixo custo e possibilidade de ser usada em larga escala, acredita Miriam. E poderia ser empregada ainda em outros estudos, como por exemplo, para identificar rotas de migração dos peixes-bois. “São equipamentos de pequeno volume, que podem ser instalados em áreas remotas e, em certos casos, sem necessidade de manutenção periódica.”

E seu uso não se limita apenas ao peixe-boi. O equipamento consegue captar sons de inúmeras espécies aquáticas. “Os próximos passos envolvem gerar uma grande quantidade de registros para alimentar a inteligência artificial e criar o padrão vocal de cada espécie, além de instalar mais equipamentos ao longo da região, inclusive em locais onde não haja pesquisadores ou centros de pesquisa próximos”, revela.

Inteligência artificial é mais nova ferramenta para ajudar na conservação do peixe-boi na Amazônia
Miriam Marmontel durante trabalho e pesquisa de campo
Foto: Bruno Kelly

O peixe-boi da Amazônia

O peixe-boi amazônico atinge entre 2,8 a 3 metros e pode pesar até 450 kg. Alimenta-se basicamente de plantas aquáticas e semi-aquáticas.

Podendo ser encontrado em rios ao longo de toda Bacia Amazônica, o nosso peixe-boi tem algumas características marcantes: uma mancha branca na região ventral (peito) e ausência de unhas nas nadadeiras peitorais, o que torna mais fácil diferenciá-lo das espécies marinhas e africanas.

Por possuir um couro cinza, extremamente resistente, no passado foi vítima da caça. Também era morto pelas populações ribeirinhas que consumiam sua carne.

Considerado como espécie “vulnerável” pela Lista Vermelha da Conservação Internacional, o que significa que ele é vulnerável ao risco de extinção, o peixe-boi tem hoje entre suas principais ameaças a destruição e a degradação do habitat natural, além da liberação de mercúrio nos rios e a contaminação da água por agrotóxicos, proveniente de plantações na Amazônia.

Inteligência artificial é mais nova ferramenta para ajudar na conservação do peixe-boi na Amazônia
Monitoramento do peixe-boi através de avistamento visual é extremamente difícil
Foto: Sônia Vill

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Foto de abertura: Bruno Kelly

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