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Ibama encontra 60 aves silvestres – uma em risco de extinção – na casa de Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro, e suspeita de comércio ilegal

Atualizado em 1/3/2023 (foram incluídas informações sobre o criadouro, o envolvimento de sua mãe – que pode ter sido usada como “laranja” – e os sete bicudos não encontrados pelo Ibama)

Na última sexta-feira, 24/2, agentes do Ibama e do Ibram (Instituto Brasília Ambiental) foram à casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, onde encontraram 60 aves silvestres (desde 14 de janeiro ele está preso na sede da Polícia Federal, em Brasília, por suspeita de omissão e conivência com os atos golpistas de 8 de janeiro).

As aves pertencem à empresa Criadouro de Bicudos Flautas do Brasil Ltda., fundada pelo servidor público José Luiz de Amorim Carrão em 2006. A mãe do ministro, Amélia Gomes da Silva Torres, tornou-se sócia dele em janeiro de 2021.

Carrão saiu da sociedade cinco meses depois, quando o criadouro foi registrado no endereço do ministro, no condomínio Ville Montagne, no Jardim Botânico, e sua atividade alterada: de “criação de pássaros” passou a “comércio varejista de animais vivos e artigos e alimentos para animais de estimação”, segundo a Agência Pública.

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Entre as espécies encontradas na casa de Torres há Curiós, um casal de Tiê-sangue, um Azulão e um Bicudo (Sporophila maximiliani). Esta última é rara e está em risco de extinção: é um dos principais alvos do tráfico de animais no Brasil, ocupando o primeiro lugar no ranking de aves canoras mais procuradas por seu valor comercial. 

Bicudo ((Sporophila maximiliani) / Foto: Hector Bottai (MT), Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0)

Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama, disse à reportagem do UOL que Torres não era o foco da investigação iniciada no ano passado junto a diversos criadores cadastrados, mas a visita à sua casa foi um desdobramento dela.

O ex-ministro foi incluído a partir da identificação de informações inconsistentes no Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros (Sispass) como o registro de aves sob sua responsabilidade que estão em nome de outra pessoa e também indivíduos registrados em seu nome que não foram encontrados na casa como, por exemplo, sete indivíduos da espécie Bicudo.

“Uma das coisas que chamou a atenção dos técnicos é que existe um limite de troca de criadouro de animais. Isso indica que ele pode estar comercializando essas aves. Tem um limite de aves que podem ser transacionadas e houve uma movimentação muito maior”, declarou Agostinho.

Torres – ou pessoa designada por ele – tem até 6 de março (dez dias a partir de 24/2) para revelar o paradeiro dos Bicudos ao Ibama. Caso isso não seja feito, sua situação pode se complicar já que ele é suspeito de comércio ilegal de aves e estaria vendendo espécies em risco de extinção. Se aves morreram, suas anilhas devem ser apresentadas ao órgão ambiental.

Os agentes ainda identificaram que uma das aves encontradas sofreu mutilação de uma das patas.

As aves não foram apreendidas, o que será feito caso a suspeita de comércio ilegal seja confirmada. O ex-ministro mantém uma funcionária para cuidar dos animais e das gaiolas, exclusivamente.

Golpe e criação ilegal

Desde 14 de janeiro, Anderson Torres está preso em Brasília devido à suspeita de omissão e conivência com os ataques às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro.

Antes do término do governo Bolsonaro, ele foi exonerado do cargo de ministro e nomeado secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Entraria de férias em alguns dias, mas nesse dia fatídico estava ausente da cidade. Pior: gozava de férias antecipadas na Flórida, na companhia do ex-presidente, que fugiu para lá em meados de dezembro.

Dias depois dos atos golpistas, a PF realizou buscas em sua casa – sua ausência era declaradamente suspeita – e encontrou uma minuta de um decreto que visava impedir a posse do presidente Lula.

Torres se entregou à polícia, ainda nos EUA, e viajou sem celular, que disse ter esquecido. Ele nega as acusações e que existam evidências de sua associação com os ataques no DF, e ainda que o documento encontrado em sua casa – cujo autor ele disse desconhecer – não tem viabilidade jurídica.

Anderson Torres está mesmo sem sorte. Como se não bastasse a suspeita de ser golpista, agora ele também está sendo investigado por comércio ilegal de aves silvestres.

Ele responderá por desrespeito à autorização obtida para a criação de animais, por inserir dados falsos no Sispass e por mutilação de uma das aves. O Ibama já aplicou multa de R$ 34 mil por criação ilegal; a defesa de Torres disse que a documentação está em ordem e que vai recorrer.

Fontes: UOL, G1, Agência Pública

Foto (destaque): Tom Costa/divulgação do MJSP

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