Você já ouviu uma foca? Ela é linda e engraçada, mas o som que emite não tem nada de melodioso, né? Pois, ao estudar o desenvolvimento vocal de focas cinzentas (Halichoerus grypus), cientistas do Instituto dos Oceanos da Universidade de St. Andrews, na Escócia, se surpreenderam com o que ouviram.
De acordo com o biólogo Vincent Janik, o experimento feito com filhotes – publicado na Current Biology – “dá uma melhor compreensão da evolução da aprendizagem vocal, uma habilidade que é crucial para o desenvolvimento da linguagem humana”.
Os cientistas trabalharam com três focas: Zola, Janice e Gandalf. Elas foram alojadas nas instalações de mamíferos marinhos da universidade com outras espécies de focas e cuidadosamente monitoradas, a partir do nascimento, para que eles pudessem construir um catálogo de seu repertório vocal natural.
O primeiro experimento orientou as focas a copiar sequências de sons de seus próprios repertórios. Em seguida, elas foram treinadas para copiar “melodias” de suas próprias vocalizações: um chamado sustentado por mudanças de tom e número variável de repetições. E foi incrível! As foquinhas demonstraram precisão na reprodução das melodias muito acima do esperado.
Nesse momento, então, os cientistas passaram para uma nova etapa. Queriam que elas avançassem mais no aprendizado, e emitiram sons de vogais semelhantes as que nós humanos pronunciamos, mas alterando a frequência. E Janik explicou à New Scientist:
“São necessárias centenas de testes para ensinar às focas o que queremos que elas façam. Mas uma vez que compreendem, copiam um novo som muito bem, já na primeira tentativa”.
Foi assim que os pesquisadores introduziram algumas notas da música Twinkle Twinkle Little Star. E as três foram capazes de copiar sequências curtas de sons. Mais: Zola foi além e conseguiu repetir até dez notas.
Os pesquisadores destacam que existem outros estudos que mostram que espécies como a famosa foca portuária Hoover imitam vocalizações semelhantes às humanas, mas até agora, ninguém tinha descoberto como elas podem “falar”. E a resposta é simples: elas usam as mesmas estruturas da laringe, que nós humanos, para emitir sons.
“Fiquei espantada com o quão bem as focas copiam os sons do modelo que tocamos para eles”, salientou a bióloga Amanda Stansbury, antes integrante do Instituto dos Oceanos e agora no zoológico de El Paso.
“Claro que as cópias não são perfeitas, mas dado que estes não são sons típicos de focas, o resultado é bastante impressionante! Nosso estudo demonstra como as vocalizações são flexíveis. O que tínhamos eram apenas evidências anedóticas oferecidas por estudos anteriores”.
Janik contou que outros animais marinhos como orcas e uma baleia beluga também já foram ensinados por pesquisadores a emitir sons como seres humanos, ficando provado que elas poderiam cantar uma música bem definida. Mas o que chama a atenção, aqui, é o fato de as focas usarem as mesmas estruturas supralaríngeas que nós. Isso significa que elas podem ajudar nas pesquisas sobre como os seres humanos falam, o que não é possível com primatas.
“Surpreendentemente, os primatas têm habilidades muito limitadas neste domínio”, acrescentou ele. “Encontrar outros mamíferos que usam seu trato vocal da mesma maneira que nós para modificar sons nos informa sobre como as habilidades vocais são influenciadas pela genética e pela aprendizagem e podem ajudar a desenvolver novos métodos para estudar distúrbios da fala“.
Agora veja como ficou o tema de Star Wars – e também Twinkle Twinkle Litle Star – na interpretação das foquinhas cinzentas da Escócia:
Foto: Nathan Glynn / Unsplash