
Não há como não notá-los. Os guarás são uma das mais belas aves existentes na natureza. Por causa do vermelho vibrante de sua plumagem, a espécie Eudocimus ruber é conhecida por diversos nomes populares, como guará-vermelho, ibis-escarlate, guará-rubro, guará-piranga e garça-vermelha.
E foi justamente por causa de sua beleza exuberante e também, por não ser avistada há exatos 256 anos, na cidade de Florianópolis, que houve tanto alvoroço quando um enorme grupo de de guarás apareceu em manguezais da capital catarinense recentemente.
“Esta ave já era observada desde a chegada dos viajantes naturalistas, nos séculos XVII e XVIII, quando passaram por Florianópolis, todavia, os últimos registros de guarás na ilha de Santa Catarina remontam a 1763”, conta o biogeógrafo Fabricio Basilio Almeida, pesquisador do Laboratório de Gestão Costeira Integrada e do Observatório de Áreas Protegidas da Universidade Federal de Santa Catarina e diretor do Instituto Aprender Ecologia.

São mais de mil aves no bando que chegou a Florianópolis
Segundo Almeida, os guarás teriam desaparecido da região por três motivos: a perda de habitat, ou seja, degradação do seu principal ambiente de sobrevivência que são os manguezais; a caça (as aves eram abatidas para que suas penas fossem utilizadas em adornos festivos e até, exportadas para fora do Brasil) e por último, devido à poluição dos oceanos e consequentemente, dos manguezais.
O bando avistado nas últimas semanas tem mais de 1 mil indivíduos. Os pesquisadores estão tentando compreender o que motivou o retorno deles para Florianópolis.
“Ainda precisamos investigar mais para saber realmente de onde os guarás vieram e se vão se estabelecer por aqui. Uma hipótese é que vieram da região norte do estado, como da Baía da Babitonga (municípios de São Francisco do Sul, Itapoá e Joinville), pois nestes locais existem bandos grandes também, mas ainda não temos certeza disso”, explica o especialista. “Foi uma surpresa para nós este retorno, mas estamos muito felizes com isso”.
A expectativa agora também é saber se as aves permanecerão nos manguezais de Florianópolis. Almeida destaca que essa é a época de reprodução da espécie e elas podem ter chegado ali na busca de um lugar para procriar. “É possível que elas se estabeleçam por aqui, pois existe ambiente propício para que isso ocorra e é isso que estamos torcendo que aconteça, já que o guará é natural daqui”, destaca.
O guará-vermelho
O Eudocimus ruber pode ser encontrado em vários países da América do Sul, como Colômbia, Venezuela e Guianas, e também, na ilha caribenha de Trinidad e Tobago, onde a ave é um símbolo nacional.
No Brasil, o guará é visto ao longo da costa brasileira, nos estados do Norte, Nordeste, Sudeste e Sul. Todavia, nesse último, ficou quase um século sem ser observado, o que o fez ser inserido na lista vermelha de animais ameaçados do estado.

Há alguns anos, a ave voltou a aparecer também, de forma natural, no litoral do Paraná (leia mais sobre o assunto aqui).
Nome indígena
Essa linda ave de plumagem vermelha influenciou a escolha do nome de várias localidades litorâneas do país. Muitas delas foram batizadas devido à presença do guará, como Guaratuba – que em tupi significa ajuntamento de guarás -, Guaraqueçaba (Paraná), Guaratiba (Rio de Janeiro) e Guarapari (Espírito Santo).
Medindo entre 50 e 60 cm, a espécie possui bico fino, longo e levemente curvado para baixo. Seus ninhos são feitos no alto das árvores, na beira de mangues e lamaçais litorâneos. Se alimentam de caranguejos, que vivem nos manguezais, onde são abundantes, e por isso, este ambiente é essencial para a espécie.

A linda revoada dos guarás em Santa Catarina
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Fotos: Rodrigo Pacheco (abertura e última), Fabricio Basilio Almeida (segunda) e Lenir Alda do Rosário (terceira)