
Apesar de ser um dos mais abundantes animais carnívoros no continente africano, a hiena-malhada (Crocuta crocuta) foi extinta no Egito há mais de 5 mil anos. Todavia, em fevereiro de 2024, após cinco milênios, um indivíduo da espécie apareceu na área de proteção Elba, no sudeste do país, perto da fronteira com o Sudão.
Infelizmente, a hiena-malhada não sobreviveu muito tempo. Após atacar duas cabras, em um período de 48 horas, no vilarejo de Wadi Yahmib, moradores da região a mataram. Contudo, foram feitos registros do animal, que surpreenderam pesquisadores.
“Minha primeira reação foi de descrença até que eu chequei as fotos e vídeos dos restos mortais”, revelou Abdullah Nagy, cientista da Universidade Al-Azhar, do Egito, e principal autor de um artigo científico que relata o acontecido. “Vendo as evidências, fiquei completamente surpreso. Era além de qualquer coisa que esperávamos encontrar no Egito.”
A surpresa se deve à área mais próxima de ocorrência da espécie estar a 500 km ao norte, no Sudão, de onde essa hiena-malhada foi encontrada. A hipótese dos pesquisadores é que o aumento do período e frequência de chuvas e o crescimento de vegetação teriam aberto um novo corredor migratório para a espécie.
Para comprovar essa suposição, eles fizeram uma série de análises com dados climáticos e imagens de satélites, entre 1984 e 2022, que apontaram nos últimos cinco anos foi realmente observada uma taxa mais alta de crescimento da vegetação, que seria de abrigo para presas, alvos da hiena-malhada.
“O fato de que a área do corredor se tornou menos agressiva ambientalmente, oferecendo passagem mais fácil pela ‘estrada’, pode explicar como a hiena chegou tão ao norte”, acredita Nagy. “No entanto, a motivação para sua longa jornada para o Egito ainda é um mistério que exige mais pesquisas.”
A descoberta mostra ainda como as mudanças no clima do planeta podem afetar a migração de diversas espécies de animais.
Ele explica que, hienas-malhadas costumam atacar e se deslocar em grupo, podendo percorrer distâncias de mais de 25 km por dia. Com uma capacidade muito grande de adaptação, elas são observadas em diferentes habitats. Embora ocorram mais comumente em florestas mistas e savanas, também sobrevivem em desertos da África Subsaariana.

Foto: Mammalia (2024)/De Gruyter Brill
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*Com informações e entrevistas contidas no site Eureka Alert
Foto de abertura: Yathin S Krishnappa, CC BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons