Johnny, Rocky e Rambo estão entre outros milhares de animais no mundo retirados da vida selvagem para serem explorados como atração turística. Primeiro os três golfinhos foram vendidos para um circo itinerante na Indonésia e após alguns anos foram comprados por um hotel, em Bali, onde viviam e faziam shows dentro de uma piscina plástica. Uma história de décadas de muito sofrimento e crueldade, até que em 2019, eles foram resgatados e começou-se um longo processo de reabilitação para que enfim eles pudessem voltar à natureza, que culminou com um final feliz no último dia 3 de setembro.
Poucos meses antes do mundo inteiro entrar em confinamento por causa da pandemia de covid, Johnny, Rocky e Rambo tinham sido retirados do Melka Excelsior Hotel, ao norte da Bali, pela Dolphin Project, organização fundada com o objetivo de reintroduzir golfinhos que vivem em cativeiro em seu habitat natural, quando possível.
Os três animais foram levados para o recém-criado Umah Lumba Rehabilitation, Release and Retirement Center, um centro de cuidados e reabilitação na Baía de Banyuwedang. Por causa do lockdown, a equipe de cuidadores ficou vivendo no local e os golfinhos receberam tratamento em tempo integral. Todos os golfinhos estavam abaixo do peso, mal nutridos e apresentavam algum tipo de problema de saúde.
Era Johnny o que preocupava mais os veterinários. Além de problemas na pele e um ferimento na barbatana peitoral direita, seus dentes estavam desgastados até abaixo da linha da gengiva. Também tinha uma lesão grave na córnea do olho esquerdo, mas que felizmente, não o impede de ter uma vida normal.
Mas com muito cuidado, pouco a pouco, os três golfinhos foram se recuperando. Engordaram e começaram a exibir seus instintos naturais. Nadando nas águas limpas da baía, caçavam os próprios peixes e usavam táticas em grupo para ir atrás de suas presas.

Johnny, com o equipamento de rastreamento, minutos antes da soltura
Há pouquíssimo tempo também, no verão de 2022, Johnny passou por um procedimento inédito e recebeu novos dentes. Graças a ele, ele consegue pegar, agarrar e manipular peixes vivos.
E agora, três anos após o início do processo de reabilitação, as comportas para a liberdade foram abertas. Na manhã do sábado, 3 de setembro, o mar estava calmo e o sol brilhava no céu. E às 8h da manhã, em ponto, a ministra do Meio Ambiente da Indonésia, Siti Nurbaya, abriu simbolicamente o portão do espaço onde os golfinhos estavam.
Johnny, Rocky e Rambo saem da baía e nadam em direção ao mar aberto
Durante 90 minutos os golfinhos ainda permaneceram no local, mas foi então que Johnny tomou a frente e começou a nadar para alto mar, seguido por Rambo e Rocky.
“Eles se viraram e voltaram para nós mais uma vez, quase para dizer obrigado e adeus. E então eles foram direto para o mar aberto e desapareceram”, contou Lincoln O’Barry, coordenador de Campanhas do Dolphin Project.
Os próximos meses serão cruciais para o sucesso da reintrodução. Será nos 90 dias a partir da soltura que se terá certeza da adaptação dos animais na vida selvagem. Diariamente a equipe do projeto sairá de barco para tentar avistar os três e checar se eles estão em boas condições de saúde.
Foi realizado ainda um trabalho de conscientização e educação ambiental com pescadores e moradores das comunidades da região para que protejam os animais e alertem a organização caso algum deles seja avistado.
E até o ano que vem será possível monitorar Rocky, Rambo e Johnny através de sensores GPS.
“Embora esperamos que eles retornem à sua vida natural como mamíferos selvagens e livres, nosso santuário permanecerá sempre aberto caso eles decidam retornar por um curto período de tempo ou decidam fazer do Umah Lumba Center seu lar permanente”, diz o organização.

Rocky nadando ao lado de peixes no Umah Lumba Center
De treinador de golfinhos, a defensor desses animais
O americano Richard (Ric) O’Barry é o fundador do Dolphin Project. Na década de 1960, ele foi contratado pelo Miami Seaquarium, onde capturou e treinou golfinhos, incluindo os cinco que “interpretaram” o papel do famoso personagem Flipper na popular série de TV do mesmo nome.
O’Barry também treinou Hugo, a primeira orca mantida em cativeiro a leste do Mississippi. Quando Kathy, o golfinho que fazia o papel de Flipper na maior parte do tempo no seriado morreu em seus braços, o então treinador percebeu que capturar esses animais e treiná-los para fazer truques era inaceitável.
Na primeira comemoração do Dia da Terra, em 1970, o americano lançou uma campanha contra a indústria multibilionária de cativeiro de golfinhos. Nascia ali o Dolphin Project.
Rambo foi capturado ainda muito jovem e separado de seu grupo
Fotos: DolphinProject.com