
Que momento histórico! Ontem à noite (5/1), em Los Angeles (EUA), a atriz Fernanda Torres concorreu com grandes estrelas de Hollywood – Angelina Jolie, Tilda Swinton, Kate Winslet, Nicole Kidman e Pamela Anderson – e venceu o prêmio Globo de Ouro (Golden Globe Awards) de melhor atriz, na categoria drama, por sua atuação majestosa no filme Ainda Estou Aqui, dirigido pelo cineasta Walter Salles, que estreou em 7/11/2024 e já levou mais de três milhões de pessoas ao cinema.
Assim, ela se tornou a primeira brasileira a receber a estatueta e, também, a primeira atriz brasileira a vencer um prêmio internacional de cinema.
Lançado em 1944 pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood(Hollywood Foreign Press Association) – e vendido em 2022, em meio a polêmicas sobre sua administração, para donos de veículos especializados, como a Variety e o site Deadline – o Globo de Ouro visa homenagear os melhores profissionais do cinema e da televisão no mundo.
O prêmio tem papel de destaque na indústria cultural não apenas por reconhecer realizações artísticas, mas também por ser um espaço aberto a declarações de impacto social e político. Mas há muito tempo deixou de ser relevante como “prévia” do Oscar, o principal prêmio da indústria do cinema no mundo.
No filme – baseado no livro homônimo e autobiográfico do escritor Marcelo Rubens Paiva -, Fernanda Torres interpreta Eunice Paiva (1929/2018), mãe de Marcelo e viúva de Rubens Paiva, deputado federal cassado e assassinado por agentes da ditadura militarno Rio de Janeiro, em 1971 (seu corpo nunca foi encontrado).
Antes dona de casa de uma família de classe média alta, ela se tornou advogada e ativista dos direitos humanos após a prisão e o consequente desaparecimento do marido. Eunice também foi presa com uma de suas filhas, Eliana Paiva, e passou quarenta anos procurando a verdade sobre o paradeiro de Rubens.
Em sua trajetória marcante, ainda teve papel importantíssimo na defesa dos direitos de indígenas e de quilombolas, também perseguidos por militares da época da ditadura no Brasil.
Em seu discurso de agradecimento (que você pode ler, na íntegra, no final deste post), Fernanda Torres destacou que sua premiação “é uma prova de que a arte pode durar pela vida, até nos momentos difíceis”, como os que Eunice Paiva vivenciou. “Este é um filme que nos ajuda a pensar em como sobreviver em tempos difíceis como estes”.
A atriz certamente se referia à realidade política pela qual passa o Brasil que, após a vitória de Lula, tem sofrido ataques constantes – incluindo uma tentativa comprovada de golpe de estado (ao que tudo indica, orquestrada por Jair Bolsonaro e militares) –, apoiados por parlamentares que dominam o Congresso Nacional e representam minorias, a elite financeira e a extrema-direita.
Em entrevista à TV Globo, Fernanda se desculpou com o autor do livro que deu origem ao filme. “Marcelo, eu não falei teu nome, Marcelo! Eu amo você, cara […]”. E completou: “O livro dele que moveu este filme, é tudo muito bonito assim!”.
Com a conquista do Globo de Ouro, Fernanda agora integra o seleto grupo de atrizes que venceram a estatueta por filmes de drama não falados em inglês, ao lado de Liv Ullmann, Anouk Aimée e Isabelle Huppert.
“Mamãe tinha certeza!”
Ainda Estou Aqui estava entre os indicados ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, mas perdeu para a produção musical Emilia Pérez, da França.
Como contou Fernanda, há 26 anos (1999), sua mãe, a atriz Fernanda Montenegro, disputou a mesma categoria pela atuação no filme Central do Brasil, também dirigido por Walter Salles. Ela não venceu (perdeu para Gwyneth Paltrow), mas o filme, sim.
“Mamãe tinha certeza [da vitória]. Eu falava ‘mãe, não’, mas ela dizia que eu ia levar”, contou Fernanda que, no discurso, dedicou a estatueta à ela.
Enquanto, na plateia, Selton Melo já vibrava com o anúncio do nome de Fernanda Torres pela atriz americana Viola Davis (que apresentou as indicadas e a vencedora da categoria), ela ainda parecia meio atordoada, até que se levantou, cumprimentou o marido, o diretor Andrucha Wadington, o amigo Walter Salles, o ator, que interpretou Rubens Paiva a seu lado, e seguiu para o palco.
Em seu Instagram, muito emocionado com a vitória da amiga, o ator compartilhou vídeo enquanto a aguardava descer do palco para abraçá-la. “Que coisa histórica, e eu vi isso ao vivo! Eu estava com ela em cada dificuldade, foi tão lindo. É do Brasil!”.
A trajetória do filme
A estreia de Ainda Estou Aqui se deu no Festival de Veneza, em 1/9/2024, onde foi aplaudido por dez minutos consecutivos pelo público e, em seguida, premiado com o Golden Osella (Osella de Ouro) de Melhor Roteiro.
A obra foi selecionada para participar de mais de 50 festivais pelo mundo e escolhida pela Academia Brasileira de Cinema como representante do Brasil no Oscar 2025, na categoria de Melhor Filme Internacional.
As próximas premiações do cinema
A emoção com a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro é imensa. Então, prepare o coração porque a cerimônia de entrega do Globo de Ouro apenas iniciou a temporada de premiações.
Janeiro é o mês em que serão anunciados os indicados ao DGA Awards, prêmio do Sindicato dos Diretores; ao SAG Awards – Screen Actors Guild Awards, prêmio oferecido pelo sindicato dos atores e considerado como “o indicador” do resultado do Oscar; ao WGA Awards, prêmio do Sindicato dos Roteiristas); ao PGA Awards, prêmio do Sindicato de Produtores; ao BAFTA, prêmio da Academia Britânica de Cinema e Televisão; e ao Oscar(17). E ainda serão entregues os prêmios Critics Choice e Satellite.
Já em fevereiro serão realizadas as cerimônias de entrega do Grammy (2); do DGA Awards e do PGA Awards (8); WGA Awards; BAFTA (16); SAG Awards (23); além da realização do Festival Internacional de Cinema de Berlim (13 a 23/2).
Em 2 de março, será realizada a cerimônia de entrega do Oscar 2025. Em 17 deste mês, saberemos se Ainda Estou Aqui estará lá, entre os finalistas.
O discurso de Fernanda Torres, na íntegra
“Meu Deus! Eu não tinha preparado nada porque já estava satisfeita [com a indicação].Este é um ano incrível para atuações femininas. Tantas atrizes aqui, que eu admiro tanto.
Claro que quero agradecer a você, Walter Salles, meu parceiro, meu amigo. Que história, Walter! E é claro, quero dedicar isso à minha mãe. Vocês não têm ideia. Ela esteve aqui há 25 anos [foi em 1999, portanto, há 26 anos].
E esta é a prova de que a arte pode durar pela vida, até nos momentos difíceis, como esta incrível Eunice Paiva, que eu fiz. É a mesma coisa que está acontecendo em um mundo com tanto medo. E este filme nos ajuda a pensar em como sobreviver em momentos duros, como este.
Então, à minha mãe, à minha família, a Andrucha, a Selton, a meus filhos, a todos. Muito obrigada! Globo de Ouro, Michael Barker, Mara, tantas pessoas. Muito obrigada!”.
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Foto: Rick Polk / Golden Globes / divulgação
Com informações de Golden Globes, Variety, The Guardian, TV Globo