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Baleias cantam mais quando estão “de estômago cheio”, revela estudo

Baleias cantam mais quando estão "de estômago cheio", revela estudo

Quando baleias de diferentes espécies migram para o sul, em busca de águas mais quentes, e aparecem na costa brasileira (entre outras) para acasalar e se reproduzir, é uma beleza só! É a temporada de avistamento de bandos delas, de suas incríveis acrobacias (exibidas!) e, ainda, de mamães com filhotes. Mesmo por vídeo, nas redes sociais, é uma alegria vê-las.

Pois saiba que as baleias só conseguem migrar para viver essa fase tão especial de suas existências (durante o inverno de seu local de origem) porque, nos meses anteriores, se instalam em habitats biologicamente ricos para forrageamento, onde procuram e exploram alimentos.

É nesse período – primavera e verão – que elas se abastecem de grandes estoques de comida e energia porque, durante o acasalamento, o parto e a amamentação, pouco ou nada comem.

Após tantos meses “longe de casa”, baleias jubarte e azuis (ambas baleias de barbatana) voltam para a costa da Califórnia com suas crias, em busca de comida. É nesse período que produzem “paisagens sonoras complexas nos oceanos”, como conta o site Earth Mission. E, na maioria das vezes, suas canções podem ser ouvidas a milhares de quilômetros quadrados de distância. 

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Canto e comida

Foi-se o tempo em que os sons emitidos por elas eram associados (somente) ao acasalamento ou a determinados comportamentos sociais. Novo estudo, realizado durante seis anos no leste do Pacífico Norte, na costa da Califórnia, nos Estados Unidos, acaba de ser publicado (em 28/2, na plataforma PLOS One – Mudanças audíveis na ecologia trófica marinha: o canto das baleias-de-barbatana rastreia as condições de forrageamento no leste do Pacífico Norte) – e de dar novo significado à sua vocalização.

Elas usam os sons para se comunicar, forragear, reproduzir, socializar e navegar no vasto e escuro mundo subaquático. Agora, os pesquisadores descobriram que, quando estão de estômago cheio, as baleias cantam mais. E, quanto maior é a disponibilidade de alimento e a variedade que uma espécie aprecia – a jubarte, por exemplo, come krill e pequenos peixes de cardume, como anchovas; a azul, apenas krill –, mais intenso é o som que emite.

Uma baleia satisfeita, é uma baleia cantora, uma boa cantora.

O estudo foi realizado a partir da cooperação de instituições de pesquisa, universidades e grupos de conservação e seu objetivo era descobrir se alterações no ecossistema se refletiam no canto das baleias. Descobriram que, mesmo nesse período em que o alimento abunda, há momentos de escassez, ou seja, nunca é igual. E assim também é com sua cantoria. 

Jubartes, mais resilientes; azuis, mais vulneráveis 

Para registrar continuamente os sons do oceano, os cientistas usaram um sistema de escuta subaquático. Junto com as gravações, os pesquisadores coletaram dados sobre a abundância de presas, as condições da água, entre outros.

Baleias cantam mais quando estão "de estômago cheio", revela estudo
Baleia jubarte
Foto: Christopher Michel / Wikimedia Commons

Uma das descobertas mais impressionantes veio nos anos que sucederam uma grande onda de calor marinha na costa californiana, que impactou o suprimento de alimentos das baleias. Durante esse período, seu canto foi registrado em níveis muito baixos, mas, à medida que o ecossistema se recuperava, o canto se intensificou.

Outro detalhe: a relação entre disponibilidade de alimentos e canto era maior entre as baleias jubarte. Com a explosão de anchovas do norte – a maior registrada em 50 anos –, por exemplo, sua atividade de canto se expandiu. E, como passaram a comer mais peixes, sua capacidade de cantar aumentou.

Com as baleias azuis, a influência do alimento no canto também se verificou. E, como elas se alimentam exclusivamente de krill – e com a onda de calor, a quantidade de krill foi reduzida drasticamente –, seu canto foi prejudicado. 

Baleias cantam mais quando estão "de estômago cheio", revela estudo
Baleia azul
Foto: NOAA Photo Library / Wikimedia Commons

Para driblar a escassez e encontrar comida suficiente, as baleias azuis tiveram que expandir sua área de forrageamento, o que pode ter interferido em sua energia para cantar, já que precisou dela para ir mais longe.

Esse cenário revela que, entre as duas espécies, as jubartes são mais flexíveis na dieta – alternam entre krill e peixes – e, portanto, são mais resilientes e têm maior capacidade de adaptação ao ambiente e suas transformações.

Já a dependência de um único tipo de presa, torna das baleias azuis mais vulneráveis ​​a mudanças na cadeia alimentar.

Entender essas diferenças é essencial para fazer previsões sobre a resposta da vida marinha aos efeitos das mudanças climáticas e de atividades humanas de impacto.

Indicadores de saúde do oceano

As baleias e seus cantos (ou a ausência deles) são como indicadores vivos da saúde dos oceanos. Se elas cantam, estão bem alimentadas e o ambiente está bem. Se estão quietas, pode ser que sua comida esteja acabando e o ambiente, desequilibrado.

Ouvi-las cantar nos oferece mais do que a apreciação de seus sons. É uma forma de compreender dificuldades e vitórias da espécie, adaptações e seu papel no ambiente marinho em transformação.

De acordo com os pesquisadores do Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI), gravações sonoras como a que você pode ouvir a seguir oferecem informações preciosas sobre a complexa ecologia das baleias

“As sequências rítmicas, estruturadas e complexas de sons produzidos por baleias jubarte machos maduros podem abranger mais de nove oitavas — mais do que um piano — e são descritas como canções. Canções individuais, compostas de frases e temas, podem durar de dois a 30 minutos, e baleias individuais podem cantar quase continuamente por até um dia inteiro”.

Ouça o canto de uma baleia nas profundezas do Santuário Marinho Nacional da Baía de Monterey, registrada pelo MBARI, em fevereiro.

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Foto: Embaixada dos EUA na Nova Zelândia

Com informações do Earth Mission, da The Conversation e MBARI

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