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‘Ainda Estou Aqui’ é o primeiro filme brasileiro a conquistar um Oscar

Ainda Estou Aqui’ é o primeiro filme brasileiro a conquistar um Oscar

‘Ainda Estou Aqui’, de Walter Moreira Salles, era favorito entre os indicados da 97ª edição do Oscar, na categoria de Melhor Filme Internacional, e ganhou a cobiçada estatueta. 

Mas, até no tapete vermelho, o diretor desta obra magnífica – que também dirigiu Terra Estrangeira (sobre o terror político e social do período Collor, com Fernanda Torres) e Central do Brasil (que retomou a ética e a valorização do cinema, com Fernanda Montenegro; ambos indicados ao Oscar há 26 anos) – declarou que estar ali, entre os escolhidos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, já era um prêmio e que a produção brasileira não tinha a menor chance. 

Chegou a dizer que, se fosse para o Brasil ganhar um só Oscar, que ele preferiria que fosse “a Nanda porque ela é a alma do filme. Se puder ser pra ela, vou ficar tão feliz”. Antes, já havia declarado, em entrevistas, que “os otimistas, em geral, são mal-informados”.

Que bom que Walter estava errado e o longa-metragem protagonizado por Fernanda Torres – que também concorreu ao Oscar, mas não levou a estatueta de melhor atriz – se tornou o primeiro filme brasileiro a vencer um Oscar. Com um detalhe: totalmente falado em português!

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Visivelmente surpreso, após ganhar um abraço caloroso e emocionado de Fernanda Torres, Walter se dirigiu ao palco para receber o Oscar com um sorriso quase discreto (foi cumprimentado durante o percurso até o palco). Ao entregar a estatueta ao diretor brasileiro, a atriz espanhola Penélope Cruz não escondeu sua alegria e também o abraçou, cena inédita no palco do maior prêmio internacional de cinema do mundo.

Ainda Estou Aqui’ é o primeiro filme brasileiro a conquistar um Oscar
Ao entregar o Oscar, a atriz espanhola Penélope Cruz abraça Walter Salles,
cena inédita na cerimônia de entrega do prêmio
Foto: reprodução de vídeo

“Em nome do cinema brasileiro, é uma honra tão grande receber isto [e apontou para a estatueta] e neste grupo tão extraordinário de cineastas. Este prêmio vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande em um regime autoritário, decidiu não se curvar e resistir. Este prêmio vai para ela: seu nome é Eunice Paiva”, declarou no discurso de agradecimento.

Walter ainda dedicou a conquista às atrizes que interpretam Eunice em sua obra: “Também vai para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela: Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”. Por fim, citou os nomes de Tom Bernard e de Michael Baker, executivos da Sony Pictures Classic, principal produtora internacional do filme.

Após a cerimônia, ele ainda contou à imprensa: “Queria falar em português e dizer que esse prêmio é para o cinema brasileiro, é para a cultura brasileira e para a literatura brasileira, que é representada pelo livro [homônimo] do Marcelo Rubens Paiva. Queria dizer que esse prêmio é para a música brasileira, através de Caetano Veloso e Gal Costa É um prêmio para todo talento na frente e por trás das câmeras”.

E, mais uma vez, destacou a importância da atuação das Fernandas, filha e mãe: “Elas nos elevaram e nos ensinaram a abraçar uma forma de atuação”. E comentou sobre o apoio de cineastas que ajudaram na visibilidade do filme pelo mundo com seus elogiosa, arrematando: “É um prêmio coletivo, um prêmio dado para uma forma de se fazer cinema, que acaba de ser reconhecida. Obrigado!”.

Num vídeo em inglês – reproduzido pela Mídia Ninja – disse: “Esta é a culminação de sete anos de imersão para desenvolver e conta esta história. Então, é uma sensação maravilhosa e eu acho também que é a primeira vez que o cinema brasileiro ganha este prêmio. Do ponto de vista simbólico, é realmente muito significativo pra todos nós”.

Ainda Estou Aqui’ é o primeiro filme brasileiro a conquistar um Oscar
Fernanda Torres celebra com Walter Salles o Oscar de Melhor Filme Internacional
Foto: reprodução Instagram

Democracia X retrocessos

Para além da conquista da estatueta dourada, a vitória de Ainda Estou Aqui é um aceno da academia à democracia (novamente frágil no Brasil e no mundo) e contra os regimes autoritários, numa posição de evidente preocupação com o governo de Donald Trump, que tem promovido retrocessos diários no país, desde o dia de sua posse. 

Não é pouco, ainda mais diante da variedade de concorrentes talentosos: o belíssimo drama dinamarquês A garota da Agulha, o alemão A semente do fruto sagrado, o francês Emília Pérez (criticado por apresentar mexicanos estereotipados, além de não ser filmado no México, e de polêmicas envolvendo a atriz Karla Sofia Gascón, que concorria ao prêmio de Melhor Atriz) e o desenho Flow, dirigido pelo letão Gints Zilbalodis, que uniu produtores do seu país, da Bélgica e da França, conquistou o Golden Globe (contamos aqui), e, ontem, o Oscar de Melhor Animação

Durante a cerimônia, outros dois momentos foram claramente direcionados às atitudes nada democráticas do presidente norte-americano. 

O primeiro foi o discurso da atriz Zoe Saldanha, que venceu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante (em Emília Perez) e declarou, chorando: “Minha avó veio para este país em 1961. Tenho orgulho de ser filha de imigrantes! Com sonhos, dignidade e mãos trabalhadoras. E sou a primeira dominicana-americana a receber um Oscar”.

Após o destaque de Anora, com direito a imagens marcantes do filme nos telões (todos os longas que concorriam a Melhor Filme ganharam essa homenagem ao longo da cerimônia), o comediante Conan O’Brien alfinetou Trump ao brincar com o enredo do filme (o grande vencedor da noite), dirigido por Sean Baker. “Os americanos estão entusiasmados por, finalmente, verem alguém enfrentar um russo poderoso”. 

Conquista histórica 

Antes de Ainda Estou Aqui, seis longas brasileiros chegaram perto de conquistar o Oscar. Um ganhou. Foi Orfeu Negro, considerado o Melhor Filme Estrangeiro de 1960 (a mudança para Internacional só ocorreu em 2020). Mas – apesar de ser falado em português e ter atores brasileiros –, o Oscar foi recebido pelo diretor francês Marcel Camus. Ou seja, o Brasil estava lá representado, a história era brasileira, mas não ganhamos a estatueta.  

Depois vieram O Pagador de Promessasde Anselmo Duarte, em 1963, O quatrilhode Fábio Barreto, em 1996, O que é isso companheiro?, de Bruno Barreto (irmão de Fábio), em 1998 – ambos inspirados em livros –, e Central do Brasil, dirigido por Walter Salles, com Fernanda Montenegro, e em 1999. 

Todos indicados à Melhor Filme Estrangeiro como Cidade de Deus (também inspirado em livro), em 2004, dirigido por Fernando Meirelles, que criou grande expectativa já que ainda concorreu a outras quatro estatuetas: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Edição e Melhor Direção, mas não ganhou nenhuma.

Por tudo isso, a conquista de Ainda Estou Aqui é histórica para o cinema brasileiro, mas também para o momento político vivido no país. O Oscar de Melhor Longa-Metragem Internacional marca, assim, o fim da primeira etapa da trajetória de sucesso do filme de Walter Salles no Brasil e no mundo. 

Lançado no Brasil em novembro de 2024, até fevereiro deste ano levou mais de 5,1 milhões de pessoas ao cinema no Brasil e no exterior, faturando R$ 159 milhões (sendo R$ 104,6 milhões aqui). É a quinta maior bilheteria do cinema nacional, de acordo com a Ancine – Agência Nacional do Cinema, desde 2018. 

Vale destacar que, logo após o lançamento do longa no Brasil, Fernanda Torres declarou à Exame: “É um ano difícil para o prêmio de Melhor Atriz, porque tem muitas performances extraordinárias. Acho que o filme tem mais chances do que eu”. Mal sabia ela que, representar Eunice com tanta maestria – somado à simpatia e ao jogo de cintura com que lidou com a imprensa internacional e programas de entrevistas na TV -, a transformaria na atriz mais popular e amada da temporada de festivais e lançamentos pela Europa e EUA.

Fernanda virou meme, grafite, máscara e fantasia de Carnaval, até boneco de Olinda: “Isso, sim, é a consagração!”, declarou ontem (2) no tapete vermelho.

Festivais, prêmios, salas e arrecadação

Vieram os festivais e é impossível esquecer a cena do público aplaudindo Walter, Fernanda e Selton de pé, após a exibição do filme no Festival de Veneza. Lá, ganhou os prêmios de Melhor Roteiro (Heitor Lorega e Murilo Hauser), Signis Award (Walter Salles) e Green Drop Award (Walter Salles).

Em seguida, vieram as críticas – nacionais e estrangeiras -, elogiosas na grande maioria. O especialista do Le Monde não gostou e os brasileiros não souberam relevar, desfiando uma centena de comentários – alguns bastante agressivos – num post da publicação no Instagram. Mas nada abalou a reputação do filme de Walter que, na Rotten Tomatoes, plataforma que agrega avaliações da imprensa especializada, foi aprovado por 97% dos críticos, que escreveram 156 artigos. Não é pra qualquer um.

E vieram outros prêmios: ao todo são 50, com o Oscar. Entre eles, destaco os de Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro e no Satellite Awards (prêmio concedido pela IPA, associação de jornalistas de entretenimento dos EUA); Melhor Filme Ibero-Americano no Goya Awards (Espanha), Vice-campeã em Melhor Atuação Principal (Fernanda empatou com Demi Moore) no Los Angeles Film Critics Association Awards; Melhor Filme pelas associações paulista, cearense, gaúcha e carioca de Críticos de Arte, sendo que na APCA, Fernanda Torres também ganhou como Melhor Atriz; e The Fido Awards para os cachorros que representaram o mascote Pimpão na trama (Suri e Ozzi, como contamos aqui).

Além do Brasil – onde está sendo exibido em 650 salas -, o filme logo chegou aos Estados Unidos (após a conquista do Golden Globe ocupou 500 salas e rapidamente passou para 762), na França (475 salas), em Portugal (55) e na Espanha. 

Hoje, há mais de 14 países assistindo à história de transformação de Eunice Paiva em uma das maiores ativistas dos Direitos Humanos do país, após o assassinato de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), pela ditadura militar: Argentina, Austrália, Canadá, Colômbia, Irlanda, Itália, México, Nova Zelândia, Países Baixos, Polônia, Russia, Suíça, Reino Unido, Uruguai, Grécia, Romênia, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Eslováquia, Turquia, Indonésia e Marrocos.

Resistência e amor

Mas a que se deve tanto acolhimento dos espectadores a um filme político, que conta a história de uma família dilacerada pela violência da ditadura militar?

Não há cenas escancaradas de tortura física porque não é preciso. A cena em que Rubens Paiva é levado para interrogatório é a última do ator Selton Mello. A partir do sumiço de Rubens, Eunice vive torturas psicológicas diárias, também quando é presa. Ao mesmo tempo, ela tenta proteger os filhos. As emoções que a história provoca em cada um de nós – medo, temor, revolta, indignação, tristeza, empatia, raiva, ódio, ansiedade -, tenhamos ou não tido contato com esse período sombrio do país, são suficientes para capturar a atenção. E o coração. O longa fala com nossas entranhas e com nossa alma.

Para Walter, a obra mobiliza tanto as pessoas por ser “uma história sobre resistência — em um contexto de “fragilidade da democracia”, no Brasil e no mundo.

Em uma das entrevistas que concedeu ontem, depois de passar pelo tapete vermelho e antes da cerimônia, Fernanda Torres explicou bem: “Esse filme fala dessa família que tentaram apagar da história e, aí, através da literatura do Marcelo [Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme] e do filme do Walter, essa família voltou e é a alma do Brasil, é um lado amoroso da gente, que ama a cultura, que ama a liberdade, que ama a empatia. Essa família furou a bolha [ num momento em que] a gente estava de [cercada por] ódio. E, de repente, nesse filme, muito por essa mulher chamada Eunice Paiva, que lutou pela civilidade, pela Justiça no mundo, veio essa onda de amor. É um filme amoroso”

Para Caryn James, crítica de cinema da BBC, por trás das indicações do filme ao Oscar “está uma mistura alquímica do pessoal, do político e do artístico. Poucos filmes retrataram os efeitos devastadores da política sobre os indivíduos de uma forma tão íntima, visceral ou oportuna, chegando em um momento em que a ascensão do autoritarismo se tornou uma preocupação global”.

O legado do filme para a Lei da Anistia 

Enquanto aconteciam as primeiras sessões do filme, questões sobre a época que ele retrata e o paradeiro dos algozes de Rubens Paiva surgiram. Onde estariam os responsáveis pela tortura que levou à morte do ex-deputado? E pela ocultação de seu cadáver?

Os nomes dos acusados de envolvimento na morte de Paiva foram declarados somente durante os trabalhos da Comissão da Verdade, criada em 2012 para apurar crimes da ditadura. São eles: o general reformado José Antônio Nogueira Belham, 

Mas nenhum deles foi preso porque a comissão não tinha poder de polícia. Por isso, até hoje, o desaparecimento de Paiva segue sem responsabilização judicial. Mas devido ao impacto do filme na sociedade brasileira, o caso pode ter novidades.

NOVA CERTIDÃO DE ÓBITO

A primeira vitória aconteceu no final do ano passado: por determinação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os cartórios devem modificar os documentos de mortos e desaparecidos durante a ditadura militar, incluindo no campo Causa da Morte a seguinte informação: “Não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964”.

A medida – possível graças ao trabalho da Comissão Nacional da Verdade (CNV) – resultou na retificação, em 23 de janeiro, da certidão de óbito do ex-deputado Rubens Paiva. Numa das cenas mais contundentes do filme, Eunice Paiva aparece feliz diante da imprensa porque, finalmente conseguiu a certidão de óbito do marido, o que destravaria os bens da família para que ela pudesse dar andamento à sua vida com os filhos. Agora, esse documento foi substituído por uma nova certidão de óbito, já recebida pela família.

Ainda Estou Aqui’ é o primeiro filme brasileiro a conquistar um Oscar
Eunice Paiva apresenta a certidão de óbito de seu marido à imprensa, depois de anos
de luta para obter o documento: na vida real e no filme, com Fernanda Torres
Fotos: reprodução

O direito se estende às famílias de outros 413 mortos e desparecidos durante a ditadura militar.  

Antes da medida, as certidões das vítimas eram preenchidas, no referido campo, apenas como “desconhecida” ou “de acordo com a Lei 9.140” (Lei dos Desaparecidos Políticos, Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995que reconheceu como mortas pessoas que sumiram em razão de participação ou acusação de participação em atividades políticas durante a ditadura).

STF E A LEI DE ANISTIA

Em meados de fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu desarquivar ações que questionam a Lei de Anistia (nº 6.683), sancionada pelo presidente general João Batista Figueiredo em 28 de agosto de 1979, após ampla mobilização social, ainda durante a ditadura. 

A Corte está há anos sem julgar o tema e, certamente devido ao impacto do filme decidiu dar repercussão geral (ou seja, o resultado do julgamento de um caso é válido para processos semelhantes) a recursos que visam destravar processos criminais contra os acusados de matar opositores do regime – entre eles, Rubens Paiva – durante a ditadura militar.

Mas, primeiro, o STF vai julgar se procede o mérito desses recursos, ou seja, se a Lei de Anistia precisa ser revista, o que pode tornar possível a punição por crimes cometidos há mais de 50 anos e se há disposição coletiva para enfrentar um dos períodos mais violentos da história recente do Brasil. 

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a idade avançada dos acusados (no caso de Paiva, são dois), não impede o cumprimento da pena. Mas ainda não há qualquer previsão de data para iniciar a análise.

OS ACUSADOS PELA MORTE DE PAIVA

Dias depois da decisão do STF, em 24 de fevereiro, militantes do coletivo Levante Popular da Juventude organizaram protesto em frente à casa de um dos acusados pela morte de Rubens Paiva, o general reformado José Antônio Nogueira Belham, na zona sul do Rio de Janeiro.  

De acordo com denúncia criminal apresentada em 2014, eram cinco os ex-integrantes do sistema de repressão da ditadura militar acusados de assassinato e ocultação do cadáver de Paiva nas dependências do DOI-Codi na capital fluminense: além de José Antônio, os militares Rubens Paim Sampaio, Raymundo Ronaldo Campos, Jurandyr Ochsendorf e Jacy Ochsendorf. No entanto, hoje, apenas dois estão vivos.

Paiva foi levado por agentes do regime em janeiro de 1971 ao Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, mais conhecido como DOI-CODI, no bairro da Tijuca, e morreu sob custódia militar, segundo o MPF.

A referida denúncia foi feita por Sérgio Suiama, procurador da República – integrante do Grupo de Trabalho Justiça de Transição do Ministério Público Federal (MPF) -, aceita pela Justiça em primeira instância. A abertura do processo foi confirmada pelo Tribunal Regional da 2ª Região. No entanto, decisão do STF (de quem?) travou o andamento do caso, ainda em 2014. O motivo: o entendimento de que violava a Lei da Anistia.

Fatos novos, porém – o Brasil foi condenado duas vezes na Corte Interamericana de Direitos Humanos, que analisou o caso e sentenciou que a Lei da Anistia impede investigações e a responsabilização de graves crimes contra a humanidade, portanto, é incompatível com a Convenção Interamericana sobre o tema – reforçaram a necessidade de dar andamento aos novos recursos no STF. Mas a Corte não se dedicou á questão e três deles morreram impunes.

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Foto: RS/Fotos Públicas

Com informações de Ainda Estou Aqui, Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, G1, BBC

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