Xingu faz 60 anos e ganha ‘Mostra Ecofalante de Cinema’, online e gratuita, com 31 filmes realizados entre 1932 e 2021

Xingu completa 60 anos e ganha 'Mostra Ecofalante de Cinema', online e gratuita, com 31 filmes realizados entre 1932 e 2021

Atualizado em 10/12/2021
Inicialmente marcada para terminar em 12 de dezembro, a Mostra Ecofalante de Cinema – Especial Xingu ganhou mais alguns dias: foi prorrogada até o dia 30. Que maravilha
, aproveite!
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O indígena na imagem acima é uma das maiores lideranças dos povos originários, conhecido e respeitado no Brasil e no mundo: o cacique Raoni, do povo Kayapó. Esta é uma cena do filme sobre sua vida, dirigido em 1975 pelo cineasta e escritor belga Jean-Pierre Dutilleux e pelo fotógrafo e montador brasileiro Luiz Carlos Saldanha. Raoni abre a Mostra Ecofalante de Cinema60 Anos do Xingu, de 1 a 30 de dezembro, online e gratuita.

O Parque Nacional do Xingu foi idealizado pelos irmãos Villas-Bôas e criado em 1961. É a primeira terra indígena homologada do país: a maior e uma das mais conhecidas reservas do gênero no mundo. Em 1973, seu nome foi alterado para Parque Indígena do Xingu (PIX) e, em seguida para Terra Indígena do Xingu (TIX), como são denominadas todos os territórios desses povos.

Esta edição especial da mostra exibe 31 filmes de curtas, médias e longas-metragens – entre produções pioneiras realizadas a partir de 1932 até títulos finalizados em 2021 e ainda inéditos – pela plataforma Cultura em Casa.

A seleção apresenta obras assinadas por cineastas consagrados, como Aurélio Michiles, Mari Corrêa, Maureen Bisilliat, Paula Gaitán e Vincent Carelli (com seu projeto Vídeo nas Aldeias), e trabalhos recentes realizados por indígenas do Xingu, como Takumã Kuikuroque estreia dois novos títulos nesta mostra -, Kamikia Kisêdjê e Kamatxi Ikpeng.

E o evento ainda promove dois debates: Parque Indígena do Xingu (PIX): Origens, em 2/12, às 18h00; e Imagens do Xingu – 3/12, às19h que você pode acessar pelo site da mostra.

Todos os filmes ficam disponíveis após a primeira transmissão até às 23h59 de 12/12 (domingo), com exceção de Uaka, que ficará acessível por apenas 4 dias. Consulte a programação.

Raoni, desde sempre, ameaçado

Xingu completa 60 anos e ganha 'Mostra Ecofalante de Cinema', online e gratuita, com 31 filmes realizados entre 1932 e 2021

O documentário Raoni acompanha a luta do cacique Raoni pela preservação do Parque Nacional do Xingu, ameaçado por grileiros, caçadores e madeireiras.

As gravações foram realizadas de forma clandestina, no então Parque Nacional do Xingu, em plena ditadura militar. É uma coprodução franco-belgo-brasileira, que conquistou quatro premiações no Festival de Gramado, incluindo a de melhor filme. E também foi indicada ao Oscar de melhor documentário, para o qual ganhou versão norte-americana, com locução de Marlon Brando.

Na versão brasileira ganhou narração do ator Paulo César Pereio. A cópia que será exibida nesta mostra “foi digitalizada recentemente, em resolução 4K, que oferece a maior qualidade de imagem”, destaca a organização.

Os filmes

Xingu completa 60 anos e ganha 'Mostra Ecofalante de Cinema', online e gratuita, com 31 filmes realizados entre 1932 e 2021
Para Onde Foram as Andorinhas?, de Mari Corrêa, sobre o qual já falamos aqui, no Conexão Planeta

Entre os filmes selecionados para esta mostra especial, há preciosidades, registros de muito impacto e de grande beleza. Um mergulho neste universo indígena muito particular, com cultura semelhante, ao mesmo tempo que única.

Todos os povos cultivam praticamente as mesmas atividades e práticas – pesca, cerâmica, rituais, pintura, bancos, cestaria, artesanato, luta -, mas cada um manifesta vocações distintas, sendo expert em algumas delas.

Assim, de alguma forma, estão representados na mostra praticamente todas as etnias que habitam o Xingu. São 16: Aweti, Ikpeng, Kaiabi, Kalapalo, Kamaiurá, Kĩsêdjê, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Wauja, Tapayuna, Trumai, Yudja, Yawalapiti.

Em seu site, a Ecofalante apresenta cada documentário, revelando particularidades e acontecimentos que marcaram a obra. Está neste link.

Xingu/Terra, de Maureen Bisiliat
Kuarup, de Heinz Forthmann

Não vou aqui destacar os que mais aprecio porque correria o risco de ser injusta. Por isso, organize sua agenda e procure incluir a maior quantidade de títulos para compreender melhor a importância desta obra idealizada pelos irmãos Villas-Bôas, que vislumbraram que, sem proteção, esses povos seriam varridos do mapa pelo desenvolvimento.

A pressão sobre eles é grande, sim, e até uma estrada – !!! – foi construída na Terra Indígena do Xingu, cortando e expondo a região protegida. Não fosse a visão dos irmãos aventureiros, esses povos seriam apenas uma lembrança.

Topawa, de Kamikia Kisêdjê e Simone Giovine
Território Pequi, de Takumã Kuikuro
Uaka, de Paula Gaitán, o único documentário que ficará disponível em apenas 4 dias

Os debates

Para aproveitar esta oportunidade para esmiuçar a Terra Indígena do Xingu – revelando as circunstâncias em que foi criado, o impacto da primeira grande Terra Indígena demarcada pelo governo federal e os desafios que enfrenta até hoje, a mostra organizou dois debates:

  • Parque Indígena do Xingu (PIX): Origens, em 2/12, quinta-feira, às 18h, reúne André Villas-Bôas (antropólogo e secretário executivo do ISA – Instituto Socioambiental), Maiware Kaiabi (líder do povo Kaiabi) e Mekaron Txucarramãe (líder Kayapó e primeiro indígena a se tornar diretor da TIX).

    A intenção desta conversa é contextualizar a decisão de criar o parque, o momento histórico em que esse projeto se concretizou e os obstáculos que os seus idealizadores tiveram que enfrentar. 
  • Imagens do Xingu, 3/12, sexta-feira, às 19h, contará com a presença de Kamatxi Ikpeng (cineasta), Kamikia Kisêdjê (cineasta), Takumã Kuikuro (cineasta) e Mari Corrêa (cineasta, fundadora e diretora do Instituto Catitu), com mediação de Flávia Guerra (documentarista e jornalista cultural).

    Os participantes debaterão sobre a representação audiovisual dos povos indígenas do Xingu, desde a documentação dos cineastas – em sua maioria, estrangeiros –  que acompanharam os irmãos Villas-Bôas em suas expedições, até o recente surgimento dos coletivos indígenas de cinema e sua apropriação do meio audiovisual e de sua própria representação. 

Foto: reprodução do vídeo

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.