Vaga-lumes, um dos animais mais mágicos da natureza, estão ameaçados de extinção

Vaga-lumes, um dos animais mais mágicos da natureza, estão ameaçados de extinção

Começo este texto contando uma experiência pessoal. Na minha infância, há muitas décadas, quando passava a maior parte do meu dia (e da noite), brincando no quintal da casa dos meus avós, em Curitiba, um dos momentos mais esperados era o encontro com os vaga-lumes. Eu simplesmente adorava ver o brilho deles no escuro. Era algo mágico, inesquecível.

Infelizmente, em um artigo divulgado recentemente na publicação Bioscience, cientistas afirmam que, como outros insetos, os vaga-lumes estão em risco de extinção.

Há mais de 2 mil espécies de vaga-lumes no mundo, que pela biologia, são considerados besouros do gênero Pyrophorus. Esses animais são (ou melhor, eram) encontrados nos mais diversos ecossistemas: pântanos, pastagens, florestas, parques urbanos…

Todavia, nunca antes havia sido feito um estudo mais aprofundado sobre a situação atual dos vaga-lumes no planeta. Pesquisadores da Tufts University, em Massachusetts, nos Estados Unidos, coletaram dados e números sobre as espécies no mundo inteiro.

“O declínio de insetos e suas causas atraíram considerável atenção recente. Entretanto, vaga-lumes são insetos icônicos, cujas exibições conspícuas de namoro bioluminescente carregam significado cultural único, dando-lhes valor econômico como atrações ecoturísticas”, escreveram os cientistas.

Os vaga-lumes usam o seu brilho, a bioluminescência, para atrair parceiros e se reproduzir.

Vaga-lumes, um dos animais mais mágicos da natureza, estão ameaçados de extinção

O resultado do levantamento aponta uma triste realidade. Em quase todos os continentes há uma redução significativa da população desses besouros. Os principais responsáveis por essa tragédia são o desmatamento, pesticidas, além da poluição visual, provocada pela luz artificial.

Esta última descoberta surpreendeu bastante os pesquisadores, já que o excesso de luz artificial pode atrapalhar a reprodução dos vaga-lumes.

“Além de interromper os biorritmos naturais – incluindo os nossos -, a poluição luminosa realmente atrapalha os rituais de acasalamento dos vaga-lumes”, destaca Avalon Owens, biólogo da Tufts e co-autor do estudo. Ele destaca que a substituição de lâmpadas fluorescentes para LEDs, energeticamente mais eficientes e brilhantes demais, não ajuda. “Mais brilhante não é necessariamente melhor”, diz.

Já a exposição a inseticidas nesses insetos ocorre durante os estágios larvais – os vaga-lumes juvenis passam até dois anos vivendo abaixo do solo ou debaixo d’água. E pesticidas como organofosforados e neonicotinóides são projetados para matar pragas, mas também afetam “insetos benéficos”.

Mas o que o novo estudo ressalta é mesmo que o desmatamento é o principal vilão para esses seres fascinantes da natureza.

“Muitas espécies de animais silvestres estão em declínio porque seu habitat está diminuindo, portanto não foi uma grande surpresa observarmos isso fosse considerado a maior ameaça”, diz Sarah Lewis, professora da Tufs e principal autora do estudo. “Mas no caso dos vaga-lumes, eles são muito afetados quando seu habitat desaparece porque precisam de condições especiais para completar seu ciclo de vida”, explica.

Um exemplo é o Pteroptyx tener, da Malásia, famoso por seu brilhar de luz sincronizado. Ele vive em manguezais e a conversão do mangue em plantações de óleo de palma e fazendas de aquicultura está impactando sua sobrevivência.

Os cientistas americanos esperam que, ao deixar mais claro quais são as ameaças aos vaga-lumes e avaliar o status de conservação das espécies em todo mundo, será mais fácil tentar preservar essas luzes mágicas para as futuras gerações.

“Nosso objetivo é disponibilizar esse conhecimento para administradores de terras, formuladores de políticas e fãs de vaga-lume em qualquer lugar”, diz Sonny Wong, outro co-autor do artigo. “Queremos manter os vaga-lumes iluminando nossas noites por muito, muito tempo.”

*Com informações e textos da Tufts University

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Fotos: divulgação Tufts University/Radim Schreiber (abertura e última imagem) e terry priest/creative commons/flickr (demais)

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.