Uma imagem vale mais que mil palavras

sapo pingo de ouro

O sapo-pingo-de-ouro (Brachycephalus pernix) é sem dúvida uma pequena joia da natureza. Vive nas montanhas do Paraná. O mais curioso é que em cada cume de montanha do estado a espécie é diferente. A explicação é que num tempo muito remoto existia um ancestral comum em toda a região, onde hoje está a cadeia de montanhas da Serra do Mar. Ao longo dos milênios, a serra do mar foi soerguendo, sendo erodida, criando vales e isolando os cumes cada vez mais.

Este anfíbio é muito exigente com relação ao ambiente habitando uma estrita faixa próxima ao cume das montanhas chamada de mata nebular. Quando houve a fragmentação, populações foram se isolando umas das outras. As montanhas acabaram virando verdadeiras ilhas para os pequenos pingos-de-ouro. Com o tempo estas populações isoladas começaram a sofrer o que é chamado de especiação, quando naturalmente, a vida vai abrindo novos caminhos e surgem diferenças, que ao fim, produzem espécies distintas. Hoje, cada cume da nossa Serra do Mar tem espécies diferentes deste minúsculo vertebrado.

Quando o biólogo Luiz Fernando Ribeiro me mostrou estes anfíbios fiquei imaginando como fotografá-lo de forma a mostrar suas dimensões. Este anfíbio está entre os menores vertebrados do planeta, se não o menor. Como mostrar esta escala numa única foto?

Tenho uma preocupação nas minhas fotografias que é de contar uma história, fazendo valer o provérbio chinês que diz: “uma imagem vale mais que mil palavras”.

Fiz várias fotografias dos pingos-de-ouro nas folhas do chão da floresta onde vivem, sobre a mão, sobre réguas para mostrar a escala… Aí veio a idéia de colocar uma escala humana mais marcante. O olho e a unha do pesquisador. Então pedi ao Luiz Fernando que colocasse o sapo sobre sua unha e pusesse a mão na frente do seu rosto para que, na mesma fotografia, aparecesse o sapo sobre a unha e o olho. Dois elementos imediatamente identificáveis e que por si só já são a escala que eu precisava. O pequenino anfíbio em contraste com o olho humano, que parece enorme, transmitindo uma idéia de que o destino do pequeno animal está literalmente nas mãos nossas mãos.

Numa única foto foi possível passar uma mensagem da responsabilidade que temos em relação à manutenção da vida no planeta e, ao mesmo tempo, a fragilidade da vida animal.

Bem, pelo menos foi esta a ideia.

Para esta foto utilizei uma lente macro 60mm e dois flashes dedicados com rebatedor. Escolhi uma abertura na lente que me proporcionasse uma profundidade de campo suficiente para focar bem o anfíbio, porém com ligeiro desfoque no olho do Luiz Fernando com a intenção de chamar a atenção para o anfíbio.

Foto: Zig Koch

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Zig Koch

Fotógrafo profissional com ênfase em imagens de natureza, turismo e viagens. Autor de 14 livros e 25 exposições individuais, sendo quatro internacionais. Percorreu todos os biomas brasileiros, viajou para vários países de outros continentes, fotografando para revistas, ONGs e empresas.