Modelo transgênero ganha concurso na Espanha e vai disputar Miss Universo 2018

Alguma coisa está fora da ordem nos concursos de Miss. E não é de hoje. Quando li que a primeira etapa realizada em Tarragona, na Espanha – e em outros 39 países para escolher as candidatas para a disputa mundial – elegeu a modelo transgênero Angela Ponce, de 23 anos, vibrei. Pensei que fosse inédito. Não é.

Logo em seguida, descobri que, neste país, o concurso liberou a participação de transgêneros em 2012 e, também, que Ponce não é a primeira em sua condição a disputar o Miss Universo. No mesmo ano em que os espanhóis aceitaram a diversidade no concurso, a canadense Jenna Talackova – também transgênero – ficou entre as 12 mulheres mais bonitas da competição no mundo. Poxa, estamos evoluindo!

Assim, Ponce recebeu a coroa de Miss Espanha de Sofia Del Prado (foto ao lado), vencedora do concurso em 2017 e deverá disputar a etapa mundial – ainda sem local e data definidos – com outras 40 misses eleitas, entre elas Mayra Dias, a amazonense eleita Miss Brasil em maio. Páreo duro. Veja a moça no Instagram.

Muito bacana, sem dúvida. Como já disse, um avanço. Mas jogo, aqui, uma reflexão a respeito do objetivo deste tipo de concurso que, além de alimentar o mercado da beleza nos países em que é realizado, contribui para perpetuar a objetificação da mulher. Em algumas de suas fotos, no Instagram, Angela parece uma Barbie de tão perfeita: cintura finíssima, seios e quadris fartos, esguia, cabelo impecável e liso, pele de veludo e lábios exageradamente carnudos.

É esse o modelo de beleza que ainda queremos promover nestes tempos tão artificiais?

Esse ideal inalcançável de beleza tem levado meninas, adolescentes e mulheres à depressão e a atitudes drásticas. Quando dispõem de recursos, se entregam a intervenções cirúrgicas muito cedo, ou seriadas. Ou desenvolvem distúrbios alimentares, como bulimia e anorexia, entre elas. Sem falar que ajudam a promover o assédio moral (bulliyng) que pode acabar de forma fatal. E, aqui, pouco importa se o ideal vem de uma mulher nascida como tal ou por uma transgênero. Enfim… vale pensar. O que, obviamente, não invalida a importância desta ousadia dos espanhóis, protagonizada há seis anos pelos canadenses. Exemplos a seguir, sem dúvida.

Fotos: Instagram do Miss Universo 2018, Angela Ponce e Mayra Dias

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.