A toupeira-dourada-de-winton (Cryptochloris wintoni) estava entre os animais da lista “Search for Lost Species” – “Em busca de Espécies Perdidas ou Desaparecidas” – elaborada pela organização internacional Re:wild, e lançada em 2017. O objetivo da iniciativa era estimular pesquisadores e financiar seus projetos para que espécies não observadas há muitas décadas ou até séculos fossem redescobertas. Foi o que aconteceu, por exemplo, como azevinho pernambucano, desaparecido por quase dois séculos.
Agora a Re:wild acaba de anunciar que a toupeira-dourada também foi reencontrada. Espécie de mamífero que só existe na África do Sul, ela é cega mas tem uma superaudição e pode detectar vibrações no solo para escapar de predadores.
Com seu pelo dourado iridescente, a toupeira-dourada faz túneis na areia e por isso mesmo, é muito difícil encontrá-la. E para tornar essa tarefa ainda mais complicada, a espécie só vive numa pequena região da costa noroeste da África do Sul.
A última vez que uma Cryptochloris wintoni tinha sido registrada foi em 1936, ou seja, há mais de 80 anos ela estava desaparecida.
Mas os pesquisadores e geneticistas da Endangered Wildlife Trust (EWT) e da Universidade de Pretoria utilizaram uma técnica chamada de environmental DNA (eDNA) para localizá-la. Com a coleta de amostras de pelos, células mortas do corpo ou fezes deixadas no solo, por exemplo, os cientistas conseguem confirmar o DNA de uma determinada espécie.
Depois da confirmação da presença do animal no local analisado em 2021, a equipe percorreu uma área de 18 km de dunas até encontrá-lo.
“Extrair DNA do solo tem seus desafios, mas temos aprimorado nossas habilidades e refinado nossas técnicas – mesmo antes deste projeto – e estávamos bastante confiantes de que se a toupeira-dourada- de-winton estivesse no ambiente, seríamos capazes de detectar descobrindo e sequenciando seu DNA”, disse Samantha Mynhardt, geneticista conservacionista do Endangered Wildlife Trust e da Universidade de Stellenbosch.
O relato sobre o encontro da toupeira sul-africana está num artigo científico divulgado na revista Biodiversity and Conservation.
Sua audição compensa a falta de visão
(Foto: divulgação Re:wild / Nix Souness)
Além da toupeira de Winton, outras três espécie de toupeiras-douradas também foram detectadas na praia de Port Nolloth, uma delas bastante ameaçada e rara.
“Embora muitas pessoas duvidassem que a toupeira-dourada-de-winton ainda estivesse por aí, eu tinha boa fé que a espécie ainda não estava extinta”, revelou Cobus Theron, gestor sênior de conservação do EWT e membro da equipa de busca. “Estava convencido de que seria necessário apenas o método de detecção correto, o momento certo e uma equipe apaixonada por encontrá-lo. Agora não apenas resolvemos o enigma, mas também exploramos esta fronteira do eDNA, onde há uma enorme quantidade de oportunidades não apenas para as toupeiras, mas para outras espécies perdidas ou em perigo”.
Os rastros deixados pela toupeira embaixo da areia também ajudaram na descoberta
(Foto: divulgação Re:wild / Nix Souness)
Com a redescoberta da toupeira-dourada-de-winton já são onze as espécies reencontradas da lista da Re:wild. Há poucas semanas também foi achado o equidna-de-bico-longo-de-Attenborough (Zaglossus attenboroughi), um mamífero que põe ovos e surgiu há 200 milhões de anos. Ele não era visto há mais de 60 anos (leia mais aqui).
A Re:wild foi fundada pelo ator e ativista ambiental Leonardo DiCaprio.
A toupeira da África do Sul é a 11a espécie redescoberta da lista da Re:wild
(Foto: divulgação Re:wild / Nix Souness)
Foto de abertura: divulgação Re:wild / JP Le Roux)