Tomando banho com as onças

Tomando banho com as onças

“Em dia de chuva não dá para fotografar na natureza”.

Dentre tantos mitos da fotografia, este é um comentário recorrente que vira e mexe a gente escuta por aí. Mas muitas vezes as experiências acabam provando o contrário.

Era minha primeira manhã no Pantanal procurando onças com Mark – um cliente de longa data que virou amigo – e sua filha.

Quando nos encontramos para o café da manhã, ainda antes do dia clarear, o céu parecia limpo e estável. Nos equipamos normalmente e subimos no barco para ir atrás do nosso objetivo.

Mas algo naquele amanhecer parecia esquisito lá para os lados do oeste. O céu estava meio escuro e “pesado”, mas eu acreditei que era apenas pelo fato de o sol ainda não ter nascido.

Porém, poucos minutos após começarmos a navegar e virarmos a primeira curva do rio, veio a realidade: havia um BAITA paredão preto na nossa frente e logo começamos a ver outros barcos voltando para o hotel.

Consultei o Beto, nosso guia e piloto, que deixou a decisão a nosso critério – ele nos avisaria se houvesse algum risco maior, de segurança, além do fato de nos molharmos, caso chovesse muito.

Conversei com os clientes e eles toparam seguir adiante, afinal tinham vindo de tão longe e a expectativa de ver a primeira onça era incontrolável.

Logo veio a chuva – pesada, forte, gelada. Mas nós seguimos adiante, já ensopados, mesmo com a cobertura de lona nos protegendo parcialmente. Naquele momento, acredito que éramos o único barco no rio.

Quem disse que chuva é empecilho pra ver onça?

Todos – inclusive eu – estávamos meio desanimados e com aquela sensação de perda de tempo. Porém, mesmo se a onça não aparecesse, seria mais legal passar a manhã curtindo a paisagem pantaneira do que ficar fechado em um quarto de hotel, vendo TV ou lendo um livro…

E felizmente o desânimo não durou muito!

Ao chegarmos em um canal mais estreito, Beto solta a tão esperada frase: “Olha a onça!”.

Lá estava ela, molhada e muito escondida em meio à vegetação. Menos de um minuto depois, lá vem Beto novamente: “Tem mais uma, são duas onças!!!”.

A chuva continuava caindo e nos molhando. Decidimos parar o barco para esperar o que ia acontecer, e então, aquele momento mágico, que todo fotógrafo de natureza conhece bem, aconteceu.

O casal saiu da mata e começou a subir em uma árvore, iniciando um ritual de namoro e acasalamento bem na nossa frente! O resultado está nas fotos desta postagem, e posso garantir que, deste encontro inusitado, nenhum outro fotógrafo, além de Mark e eu, tem imagens.


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Daniel De Granville

Biólogo com pós-graduação em Jornalismo Científico, começou a carreira fotográfica na década de 90, quando vivia no Pantanal e trabalhava como guia para fotógrafos renomados de várias partes do mundo, o que estimulou seu interesse pela atividade. Já apresentou exposições, palestras e cursos na Alemanha, EUA, Argentina e diversas regiões do Brasil. Em 2015 foi o vencedor do I Concurso de Fotografia de Natureza do Brasil, da AFNATURA, e em 2021 ganhou o primeiro prêmio na categoria “Paisagem” do Concurso Global da The Nature Conservancy. Vive atualmente em Florianópolis, onde tem se dedicado ao ensino de fotografia e continua operando expedições em busca de vida selvagem Brasil afora