Terra Madre Brasil: maior evento sobre biodiversidade, alimentos e culturas acontece em novembro

Alimentos bons, limpos e justos para todos. Esse é o mote do Terra Madre Brasil 2020, que acontece de modo totalmente virtual, e gratuito, entre 17 e 22 de novembro.
Promovido pelo movimento Slow Food Brasil e parceiros, é um importante espaço para refletirmos sobre conservação da sociobiodiversidade e valorização dos alimentos e das culturas em que estão inseridos. Da agricultura familiar, extrativista, quilombola e indígena.
De resgate de saberes e sabores pouco presentes na alimentação de brasileiras e brasileiros, em grande parte por causa do que a grande indústria alimentar escolheu nos oferecer nos comerciais, gôndolas de supermercados e afins.
O Terra Madre é considerado o maior encontro mundial dedicado à biodiversidade e às culturas alimentares. A edição brasileira que acontece neste mês inclui mais de 50 atividades, participação de centenas de agricultores familiares, camponeses e extrativistas e milhares de ativistas em diversas partes do mundo.
É um evento mais do que bem-vindo neste momento de retrocessos no Brasil, quando há bem pouco tempo vimos – e com mobilização, conseguimos estancar – uma grande movimentação para rever o Guia Alimentar para a População Brasileira, que recomenda a minimização do consumo de alimentos ultraprocessados a partir de uma classificação do impacto ambiental, social e cultural causado pelo tipo de processamento.
Agricultoras e agricultores familiares não foram contemplados com o auxílio emergencial do governo federal durante a pandemia, que fez com que muitos deles tivessem dificuldade em escoar a produção com a suspensão de feiras e espaços de comercialização.
É ali, junto a esses agricultores e agricultoras, a quilombolas e indígenas, a comunidades ribeirinhas e extrativistas, que temos uma decolonização da alimentação, resgatando conhecimentos e sabores ancestrais. E percebemos o quanto essas pessoas são guardiãs da biodiversidade e das culturas alimentares no país.
Programação diversa
Rodas de conversa, diálogos, oficinas e espaços educativos estão entre as atividades programadas pelo Terra Madre Brasil este ano.
Na programação ao vivo, serão promovidas mesas sobre patrimônio e cultura alimentar, segurança alimentar e nutricional, manejo agroecológico da sociobiodiversidade, comida de terreiro, resistência das mulheres negras, o papel das escolas e dos processos educativos, economia solidária, turismo de base comunitária e desenvolvimento territorial, juventudes de comunidades tradicionais e povos originários entre o campo e a cidade.
Ainda ao vivo, apresentações musicais – com destaque para Chico César no dia de abertura – e o lançamento do curta documental Dois Riachões: cacau e liberdade, de Fellipe Abreu e Patrícia Moll, que apresenta a história do pré-assentamento Dois Riachões, no Baixo Sul da Bahia.
Oficinas do gosto também serão oferecidas ao longo do evento – aulas de cozinha utilizando alimentos da sociobiodiversidade dos biomas brasileiros, cervejas, cacau e chocolate, vinhos e outros temas.
Vozes diversas como Jerá Guarani, da Terra Indígena Tenondé Porã, a chef Bel Coelho, o chocolatier César De Mendes, a bartender, pesquisadora e consultora de bebidas Neli Pereira, Bela Gil e muitos outros profissionais e ativistas se unem para ecoar toda essa diversidade.
Uma instalação artística virtual sobre aspectos patrimoniais, de segurança alimentar e nutricional e da cultura alimentar nos territórios onde as farinhas são produzidas a partir de técnicas e saberes tradicionais será também disponibilizada ao público durante o Terra Madre.
Para completar, um mapa interativo permite conhecer cooperativas da agricultura familiar e empreendimentos coletivos ligados às indicações geográficas das cinco regiões brasileiras, indicando onde é possível comprar seus produtos.
Enquanto não podemos temperar toda essa riqueza com a troca in loco com esses descolonizadores alimentares, a edição virtual do Terra Madre é uma excelente oportunidade para ter contato com a diversidade trazida por todo esse universo de pessoas, agricultores, camponeses, comunidades, cozinheiros que dão a conhecer e colocam a mão na massa por esse mundo da valorização do outro, do diverso e do sabor.
Afinal, a empatia pode começar pela nossa mesa.
Edição: Mônica Nunes
Foto: Carolina Oda/Slow Food
Jornalista e mestre em Antropologia. Atua nas áreas de meio ambiente, investimento social privado, governos locais, políticas públicas, economia solidária e negócios de impacto, linkando projetos e pessoas na comunicação para potencializar modos mais sustentáveis e diversos de estar no mundo.