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“Talvez a maior ameaça à resposta à Covid-19 para o Brasil seja Bolsonaro”, diz uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo

"Talvez a maior ameaça à Covid-19 para o Brasil seja o presidente Jair Bolsonaro", diz uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo

*Atualizado em 13/05/20

180 mil casos confirmados. Mais de 12 mil mortes. Números oficiais do Ministério da Saúde sobre a pandemia do novo coronavírus no Brasil, mas segundo especialistas, subestimados, já que há pouquíssimos testes sendo feitos e com isso, a real dimensão dos óbitos e infectados pela COVID-19 deve ser muito maior.

Apesar da doença ter chegado mais tarde ao Brasil, ele já aparece em 8o lugar na lista de países com mais casos de contaminados pelo vírus, de acordo com as estatísticas da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, que analisa a disseminação da doença pelo mundo.

Infelizmente, a então “gripezinha” que o presidente Jair Bolsonaro desdenhou já tirou a vida de milhares de brasileiros – não apenas idosos, como ele acreditava -, e está levando ao colapso o já frágil sistema de saúde público de diversos estados.

Artigos divulgados recentemente apontam que o Brasil será o novo epicentro global da pandemia. A previsão foi feita por dois estudos diferentes, envolvendo pesquisadores brasileiros e do exterior – das Universidades de Oxford, na Inglaterra, e da Universidade Johns Hopkins (leia mais aqui).

E de quem seria a culpa pela explosão de casos e mortes por coronavirus no Brasil?

Para uma das mais importantes publicações científicas do mundo, a Lancet, “Talvez a maior ameaça à resposta à Covid-19 para o Brasil seja o seu presidente, Jair Bolsonaro“.

A afirmação faz parte de um editorial publicado hoje pela revista em que se faz duras críticas ao comportamento irresponsável e criminoso do atual presidente brasileiro. “Bolsonaro precisa mudar drasticamente o seu rumo ou terá de ser o próximo a sair“, diz o texto.

O editorial tem como título COVID-19 no Brasil : “ E daí ?” , em referência à frase dita por Bolsonaro na semana passada, quando confrontado por jornalistas sobre o aumento do número de mortes no Brasil, e ele respondeu que “E daí, o que posso fazer. Meu nome é Messias, mas não faço milagres”.

Não bastasse os brasileiros estarem passando por um momento tão difícil, adoecendo e perdendo seus entes queridos, ainda precisam se confrontar com a realidade de que o Brasil está sendo administrado por alguém que não possui respeito pela vida humana e não tem a menor intenção de salvar vidas.

Abaixo, o editorial da Lancet, na íntegra, traduzido para o português:

COVID-19 no Brasil : “ E daí ?”

A pandemia da Covid-19 atingiu a América Latina mais tarde do que outros continentes. O primeiro caso registado no Brasil foi em 25 de Fevereiro de 2020. Mas agora, o Brasil tem o maior número de casos e mortes por Covid-19 na América Latina (105 222 infecções e 7288 casos, respectivamente, registrados no dia 5 de Maio), e estes números provavelmente representam uma enorme subestimativa. Ainda mais preocupante é o fato de a estimativa da taxa de duplicação do número de mortes ser apenas de 5 dias, e de o Brasil ser o país com a mais elevada taxa de transmissão (R0 de 2.81), de acordo com um estudo recente do Imperial College (Londres, Reino Unido) que analisou a taxa ativa de transmissão do COVID-19 em 48 países.

Neste momento, cidades grandes como São Paulo e Rio de Janeiro são os principais focos, mas há sinais de que a infecção está se deslocando para o interior dos estados, onde estão localizadas cidades menores, sem provisões adequadas de leitos com cuidados intensivos e ventiladores. Ainda assim, talvez a maior ameaça à resposta à Covid-19 para o Brasil seja o seu presidente, Jair Bolsonaro. Quando na semana passada os jornalistas o questionaram sobre o rápido aumento de casos, ele respondeu: “E daí? Lamento, quer que eu faça o quê? ” Ele não só continua semeando confusão, desprezando e desencorajando abertamente as sensatas medidas de distanciamento físico e confinamento introduzidas pelos governadores de estado e pelos prefeitos das cidades, mas também perdeu dois importantes e influentes ministros nas 3 últimas semanas.

Primeiro, no dia 16 de abril, Luiz Henrique Mandetta, o respeitado e estimado ministro da Saúde, foi despedido na sequência de uma entrevista televisiva, na qual ele criticou fortemente as ações de Bolsonaro e apelou para uma voz de unidade para evitar que os 210 milhões de brasileiros fiquem totalmente confusos. Depois, no dia 24 de Abril, na sequência da exoneração do diretor geral da Polícia Federal por Bolsonaro, o ministro da Justiça Sérgio Moro anunciou a sua própria demissão.

Este ministro era uma das figuras mais poderosas do governo de direita do Brasil, nomeado por Bolsonaro para combater a corrupção. Esta desorganização no centro da administração do governo é não só uma distração com consequências fatais no meio de uma situação de emergência de saúde pública, mas também um forte sinal de que a liderança no Brasil perdeu o seu compasso moral, se é que alguma vez teve um.

Mesmo sem ações políticas em nível federal, o Brasil teria um desafio difícil no combate à Covid-19. Cerca de 13 milhões de brasileiros vivem em favelas, que frequentemente têm casas com mais de três pessoas por cômodo e reduzido acesso a água limpa. Recomendações para distanciamento físico e higienização são praticamente impossíveis de seguir nestas condições. Mesmo assim, várias favelas se organizaram para implementar medidas da melhor forma possível.

O Brasil tem um setor de emprego informal bastante grande, em que a maior parte das fontes de rendimento deixaram de ser opção perante as medidas implementadas. A população indígena já estava sob ameaça séria mesmo antes da chegada da Covid-19 porque o governo tem ignorado ou até incentivado a exploração ilegal de minas e de madeira na floresta amazônica. Agora há o risco destes mineiros e madeireiros introduzirem esta nova doença em populações remotas. Uma carta aberta publicada em 3 de maio, escrita por uma coligação global de artistas, celebridades, cientistas, e intelectuais, e organizada pelo fotojornalista Sebastião Salgado, alertou para um genocídio iminente.

E como tem reagido a comunidade científica e a sociedade civil, num país conhecido pelo seu ativismo e franca oposição à injustiça e desigualdades, e onde a saúde é um direito constitucional? Muitas organizações científicas, como a Academia Brasileira de Ciências e a Abrasco, há muito se opõem a Bolsonaro por causa dos cortes drásticos no financiamento da ciência e pela destruição da segurança social e serviços públicos em geral.

No contexto da Covid-19, muitas organizações lançaram manifestos dirigidos ao público, como por exemplo o “Pacto pela vida e pelo Brasil”, e escreveram declarações e apelos a oficiais do governo pedindo unidade e soluções conjuntas. Protestos da população são frequentes e incluem bater em panelas nas varandas durante comunicações da Presidência. Há muita pesquisa a ser feita, desde as ciências básicas à epidemiologia, e há uma produção rápida de equipamentos de proteção individual, respiradores, e kits de teste.

Estas são ações esperançosas. Contudo, a liderança no nível mais elevado do governo é crucial para rapidamente evitar o pior nesta pandemia, como tem sido evidenciado em outros países. Na nossa série de artigos publicados sobre o Brasil em 2009, os autores concluíram: “Em última análise, o desafio é político, exigindo o envolvimento contínuo da sociedade brasileira como um todo, para garantir o direito à saúde de todo o povo brasileiro.” O Brasil como país deve unir-se para dar uma resposta clara ao “E daí? “ do presidente Bolsonaro. Ele precisa mudar drasticamente o seu rumo ou terá de ser o próximo a sair“.

*O editorial, em inglês, você encontra neste link.

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*Texto alterado para atualizar o número de casos confirmados e mortes pelo coronavirus no Brasil

Leia também:
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Foto: Isac Nóbrega/PR/Fotos Públicas

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Sandra
Sandra
3 anos atrás

Realmente estamos órfãos. Quando mais brasileiros precisam de um colo de mãe e do abraço forte de um pai, tateamos, medrosos, na escuridão em volta, inseguros e vacilantes, em meio às contradições políticas das diretrizes sem direção que não nos tranqüilizam ou apaziguam durante a tempestade, pelo contrário, mais nos inquietam e atemorizam, fantasmagóricas demais. Precisamos ser valentes, quem nos ensina valentia? Queremos não chorar, quem nos concede um motivo? Medrosos e sozinhos, buscamos o rosto de vizinhos do outro lado do muro, porém não falam nossa língua e, solidárias, suas mãos que acenam, não nos podem alcançar. “Tenham fé, tudo passa!” traduzimos estes sons que nos chegam de amigos que querem ser, de irmãos que sempre foram, mas descobrimos que choram também a mesma dor que a nossa, a mesma orfandade e o mesmo luto. Duvidamos até deste Poder Maior que nos ensinaram, quando pequenos, balbuciando as orações que decoramos na infância mas que hoje já não queremos lembrar, contraditórias que são diante de tantos apocalipses e inumeráveis armagedons. No entanto, se a razão nos esclarece que importa prosseguir com o melhor de cada um em favor do bem de todos, impedimentos nos fazem até mesmo descrer de que Deus esteja mesmo acima de tudo e, que do Céu, onde se encontra, consiga nos enxergar mergulhados nesta Terra tão frágil e tão pequena, órfã Dele, também.

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