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Amazônia registra alertas de desmatamento em mais de mil km2 em abril, em plena estação chuvosa: esse número é 74,6% maior que o recorde, em 2021

Jair Bolsonaro dobrou a meta. Em plena estação chuvosa, a área de alertas de desmatamento na Amazônia em abril chegou a surreais 1.012 km2área equivalente a 1.389 campos de futebol padrão FIFA, segundo o Greenpeace Brasil – um número 74% maior do que o recorde anterior da série histórica, batido no ano passado pelo próprio Bolsonaro (580 km2).

Comparada à média dos seis anos anteriores para abril, a área de alertas é 165% maior.

Esta é a primeira vez na história do sistema Deter-B, do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que os alertas mensais de desmatamento ultrapassam mil km2 no mês de abril.

Isso é grave porque abril ainda é um mês de chuvas na Amazônia — o último do chamado “inverno” amazônico, quando o ritmo das motosserras naturalmente arrefece. Antes do governo Bolsonaro, era raro um dado mensal de alertas ultrapassar um mil km2, até mesmo na estação seca.

E um detalhe: o dado de abril se refere a apenas 29 dias. O mês ainda não fechou nas medições do Inpe, o que só ocorrerá na semana que vem. Portanto, o número final será maior que 1.012 km2.

No acumulado do ano até aqui (o Inpe sempre mede o desmatamento de agosto de um ano a julho do ano seguinte), os alertas já chegam a 5.070 km2, 5% a mais do que no ano passado e segundo maior número da série histórica — perdendo apenas para o recorde de 5.680 km2 batido pelo próprio governo Bolsonaro em 2020.

Desde agosto passado, os alertas vêm batendo recordes: em outubro, janeiro, fevereiro e, agora, em abril.

Amazonas, campeão

Vista aérea de desmatamento em Lábrea, Amazonas / Foto: Victor Moriyama/Aliança Amazônia em Chamas

O Amazonas foi o campeão de alertas (34,2%) pela primeira vez no ano, com Lábrea, no sul do Estado, na primeira posição entre os municípios mais desmatados. Isso se deve à explosão da grilagem na região, por conta da tentativa do ex-ministro da Infraestrutura e hoje candidato ao governo paulista, Tarcísio Freitas, de pavimentar na marra a BR-319 (Manaus-Porto Velho).

A estrada corta uma das áreas mais intocadas da floresta amazônica e estudos indicam que seu asfaltamento quadruplicará a devastação.

Pará (28,3%) e Mato Grosso (23,8%) ficaram em segundo e terceiro lugares no ranking de alertas de desmatamento do sistema Deter, do Inpe, de acordo com informações do Greenpeace Brasil.

Cautela com os números

Alertas mensais de desmatamento precisam necessariamente ser olhados com cautela por uma série de motivos, entre elas:

  1. O sistema Deter não é feito para medir área desmatada, e sim para orientar o trabalho do Ibama (que, como é sabido, não tem ocorrido durante o regime Bolsonaro devido ao desmonte do órgão promovido pelo governo).

    O Deter é ágil, mas seus satélites são “míopes”, sendo incapazes de enxergar pequenas áreas desmatadas. O dado oficial é informado pelo sistema Prodes, mais lerdo, porém acurado, uma vez por ano;
  2. Depois, as detecções mensais do Deter são muito atrapalhadas por nuvens, em especial nos meses de novembro a abril, quando a floresta está debaixo de chuva.

    Há uma chance grande de o número de alertas de abril incluir desmatamentos dos meses anteriores que não puderam ser vistos pelo satélite por estarem sob nuvens. No fim de cada mês, o Inpe informa o percentual da floresta que estava encoberto. O de abril será conhecido na semana que vem.

Feitas essas ressalvas, a magnitude do dado surpreendeu os técnicos e sinaliza que a taxa de desmatamento de 2022 deverá ultrapassar novamente os 10 mil km2. Não é possível descartar um inédito quinto aumento consecutivo da devastação.

Terra sem lei

As causas desse recorde têm nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro”, destaca Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

“O ecocida-em-chefe do Brasil triunfou em transformar a Amazônia num território sem lei, e o desmatamento será o que os grileiros quiserem que seja. O próximo presidente terá uma dificuldade extrema de reverter esse quadro, porque o crime nunca esteve tão à vontade na região como agora”.
_________________

*Este texto foi originalmente publicado no site do Observatorio do Clima (OC) em 6/5/2022 e, ao publicá-lo aqui, no Conexão Planeta, inserimos outras informações divulgadas pelo Greenpeace Brasil (indicadas no texto)

Foto: Christian Braga/Greenpeace Brasil (desmatamento no município de Lábrea (AM), registrado em sobrevoo de monitoramento realizado em 26/3/2022)

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