#SOSAmapá: estado está sem luz e água há três dias, em meio à pandemia. Veja como ajudar!

Uma forte tempestade caiu sobre o estado do Amapá na terça-feira, 3/11, provocando enchentes e um acidente: um raio atingiu os três transformadores da subestação que faz o rebaixamento da linha de transmissão de Tucuruí e fornece energia para os municípios da margem esquerda do rio Amazonas, deixando cerca de 760 mil pessoas sem energia elétrica, sem água e sem conexão com a internet.

Apenas órgãos de serviços essenciais, de segurança pública e hospitais estão sendo mantidos com geradores próprios. As cirurgias foram canceladas.

A situação é caótica em 13 dos 16 municípios do Amapá. Apenas três cidades – Oiapoque, Laranjal do Jari e Vitória do Jari, que são atendidos por sistemas isolados – não foram afetados pelo apagão.

Lembrando que o estado está sofrendo com a pandemia do coronavírus.

Ontem, o governador de Macapá, Clécio Luís, decretou estado de calamidade pública por 30 dias. Na verdade, a cidade já estava nessa condição devido à pandemia, mas o decreto foi ampliado.

“Estamos tendo dificuldade de comprar outros tipos de insumos. Então, o decreto de calamidade pública vai nos ajudar a resolver problemas nesses dias enquanto não se encontra uma solução definitiva para o apagão“.

Como ajudar

Antes que as cidades entrassem em colapso total, cidadãos com acesso à internet denunciaram a situação pelas redes sociais, disseminando a hashtag #SOSAmapá. A intenção era tornar o apagão conhecido da imprensa e de boa parte dos brasileiros e pressionar governos, que demoravam para se manifestar.

Se você quer ajudar, espalhe a hashtag e conte sobre a situação para pressionar ministérios, prefeituras e os governos estadual e federal.

Mas, se puder ajudar com dinheiro, já existe uma campanha de arrecadação online: SOS Apagão, organizada pela rede de voluntários Amapá Solidário, que se formou no início da pandemia para atender mais de seis mil famílias no estado.

Lucas Abrahão, que faz parte desse movimento, gravou vídeo hoje, em Macapá – publicado no perfil do movimento no Instagram – para falar da campanha e pedir ajuda, destacando a importância de se engajar nas redes sociais para divulgar o assunto.

“Nós estamos vivendo um apagão aqui, há mais de sessenta horas, e precisamos urgentemente distribuir à população mais carente agua potável e suprimentos. Quero pedir a sua ajuda e de todo o Brasil!”.

E acrescenta: “Em primeiro lugar, precisamos dar visibilidade ao que está acontecendo no Amapá, então use a hashtag #SOSAmapá. Segundo, nos ajude através da vaquinha virtual. Nós vamos converter sua doação em água e suprimentos para as comunidades de Macapá e do interior do estado que mais precisam”.

E finaliza: “O apagão deve ser apurado e a responsabilidade do que causou, mas, enquanto isso, precisamos dar as mãos e ajudar a população que está sofrendo. O Amapá conta com a ajuda de todos vocês”.

Inclua também a hashtag #SOSapagão em seus posts nas redes sociais!

Vale destacar que, em situações como esta, em que a procura por alimentos e água aumenta e é urgente, os aproveitadores se esbaldam. Na página da campanha, o movimento conta que o galão de 20 litros de água custava cerca de 30 reais!

Como destaca o líder e pensador indígena Ailton Krenak, em suas palestras e em seus livros: “é a economia do desastre”. Lamentemos, mas lutemos para que isso não tenha continuidade!

Repercussão

Entre os relatos que li nas redes sociais, os de Heluana Quintas, no Facebook, que vive em Macapá, me chamaram a atenção porque viralizaram rapidamente.

Ela tem atualizado seu perfil com notícias sobre a situação sempre que pode. É das poucas pessoas que ainda consegue acessar a internet e tem prestado um super serviço á população.

Heluana também tem protestado contra alguns políticos do estado que nada fazem (conto sobre Randolfe Rodrigues, da Rede, neste post, que mora na cidade e é um dos mais combativos) e contra Bolsonaro que está mais preocupado com a derrota de Trump e com sua reeleição do que com o povo, como de costume (ontem, anunciou que quer resgatar o voto impresso!). Ontem, ela escreveu:

Para quem não mora no estado do Amapá, saiba o ABSURDO que ocorre neste momento:
1. Temos 16 municípios, 13 estão sem energia elétrica vai fazer 2 dias, incluído a capital, que tem aproximadamente 500 mil habitantes.
2. Não tem água encanada.
3. Não tem internet. (Raras vezes funcionam Claro e Vivo).
4. Os postos de gasolina não podem operar sem energia, então, não temos gasolina tbm.
5. Não dá pra sacar dinheiro nos caixas eletrônicos.
6. Não dá pra comprar comida com cartão.
7. Estamos num pico de contaminação e lotação nos hospitais devido a pandemia. Eles estão funcionando por gerador. Não sabemos por quanto tempo. As cirurgias foram interrompidas.
Torçam, rezem, orem, mandem positive vibration aos enfermos”.

Assim que tomou conhecimento da situação do Amapá, o escritor Xico Sá aderiu à mobilização nas redes, reclamando da falta de apoio da imprensa, que se concentrava na eleição de Trump:

“Que me desculpem os especialistas em Arizona ou zonas propriamente ditas -eleitorais ou não, mas há um Estado brasileiro sem energia elétrica, um caos da porra, há dois dias! Não custa nada a gente tentar resolver esse drama. Esqueçamos por 1 hora a porra desse Trump! #SOSAmapa“.

Será que se fosse em São Paulo ou no Rio de Janeiro, o descaso seria igual? Tanto da imprensa como dos governos?

A situação

Desde o inicio do acidente, o senador Randolfe Rodrigues, da Rede, que mora em Macapá, tem se manifestado em seu Instagram. Rapidamente denunciou a situação para seus seguidores e para o Congresso Nacional, cobrando por medidas urgentes das autoridades.

Hoje, com mais de 60 horas sem energia no estado, ele contou que todos os sistemas estavam colapsados. “A maioria das pessoas já está com problemas de acesso à higiene pessoal e de fornecimento de alimentação. Hoje, as 11h, estarei na Justica Federal do Amapá para protocolar uma ação popular contendo uma série de pedidos. O primeiro deles é que as prefeituras, o governo do estado e o governo federal forneçam carros-pipa para garantir o abastecimento de água à população”.

Ele também declarou que é urgente a distribuição de cestas básicas. “Como ja disse as pessoas começam a ter dificuldade de acesso a alimentos a partir do dia de hoje”.

Outra solicitação do documento diz respeito à instauração de um inquérito policial, por parte da Polícia Federal, para que se averigue a responsabilidade por este acidente, “principalmente da empresa Isolux (que administra a central de distribuição onde ocorreu o incêndio), mas também do operador nacional do sistema e de todos os demais agentes que tiverem que ser responsabilizados e investigados”.

Mais: “que os responsáveis sejam condenados a ressarcir cada amapaense pelos prejuízos que estão tendo”. Sejam eles financeiros ou de saúde.

Em pronunciamento realizado na rua, junto com o deputado federal Camilo Capiberibe, o senador deu mais notícias. Contou que há dois cenários para a resolução do problema: um otimista e outro pessimista.

O primeiro indica o conserto de um dos três geradores até a tarde de hoje, que poderá restabelecer entre 60% e 70% da energia. “Na hipótese de o conserto do transformador não dar certo, será necessário aguardar o transporte de um gerador novo para o Macapá, que está a 300 km da cidade, portanto, deve demorar de 3 a 5 dias”.

Randolfe acrescentou: “Oficiamos a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) para que solicite à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), ao Ministério Público Federal e ao Ministério Público Estadual a apuração dos fatos e a instauração de procedimento investigativo para identificar eventuais responsáveis pela demora no restabelecimento da energia elétrica na capital do estado”.

Vale seguir o senador para atualizar informações a respeito da situação no Amapá.

O que diz o governo federal

Ontem à noite, em Brasília, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, deu entrevista à imprensa para relatar a situação e as medidas tomadas.

Ele contou que, dos três transformadores atingidos pela descarga elétrica na subestação, apenas um estava em funcionamento (gerador 3). Outro, estava em reparo desde o ano passado. E o outro, parado. O que, a priori, pode denotar descaso.

O gerado 3 deve ser reparado até a tarde de hoje. Albuquerque confirmou as informações dadas por Randolfe: apenas 60 a 70% da energia será restabelecida, caso o conserto dê certo.

O segundo gerador deve ser substituído por outro, transportado do sul do Amapá e, portanto, deve demorar cinco dias para chegar à subestação. O terceiro será substituído por um gerador reserva, que está fora do estado.

Albuquerque contou também que será instalada, em Macapá, uma estação termelétrica com geradores que serão transportados por aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), os menores, e por balsa, os maiores, de Manaus para Santana, nas proximidades da capital.

“A operação está sendo coordenada pela secretaria de energia elétrica do ministério e vai assegurar o restabelecimento gradual da carga total de Macapá”. E acrescentou: “Para restabelecer a total segurança energética no estado, deve levar até 30 dias”.

Mudança climática, presente!

Além do descaso – com a falta de manutenção e de segurança da subestação que atende o estado do Amapá, é importante lembrar, sempre, que vivemos, cada vez com mais frequência, eventos impactados pelas alterações climáticas em todo o mundo.

O desassistido povo do Amapá certamente está sofrendo também as consequências da falta de entendimento dessa realidade.

Nas redes sociais, um morador de Macapá relatou o acidente assim:

“O que causou tudo isso foi uma tempestade elétrica nunca antes vista. Eu adoro raios, mas terça-feira foi algo fora do normal. Sabe Guerra dos Mundos? Um raio atrás do outro? Pois é. E durou cerca de 10 horas. Uma sequência absurda de raios. Duas pessoas foram atingidas”.

O negacionismo mata.

Foto: Reprodução/TV

Deixe uma resposta

Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.