Sim aos presentes da vida!
Você já disse não para um presente que a vida te ofereceu e depois se arrependeu? Eu já disse muitos nãos. Mas este post é sobre o sim, sobre aquele momento em que você se abre para a oportunidade e segue o fluxo. Foi o que aconteceu comigo na semana passada.
Há anos, a lua cheia de maio é, para mim, um dos períodos mais esperados do ano. É quando acontece Cavalgada da Lua Cheia na Serra da Canastra. Um encontro de amigos que se juntam por amar a natureza, para andar a cavalo, sair da rotina e recarregar as baterias. Nessa região fica o Parque Nacional da Serra da Canastra, berço do rio São Francisco.
Com o coração um pouco apertado, eu já tinha desistido de participar da aventura, neste ano, pois não dava para encaixar na agenda. Mas eis que – como disse o poeta Eurípedes, no século V a.C.: “ao inesperado um deus abre passagem” – e surgiu o convite de um amigo impossível de ser recusado. Ele disse: “Não vou aceitar o seu não. Venha nem que seja por três dias!”.
Quando contei para a Zuzu (minha mulher e parceira no projeto Casal Verde, também aqui no blog) que tinha sido “intimado” para a viagem, ela não teve dúvidas: “Claro que você vai! É um chamado da vida e ela não aceita desculpas!”. E foi assim que, num tempo recorde, organizei minha tralha (perneiras, chapéu, embornal, repelentes, roupa de cama…) e parti junto com meus amigos Nélson e Beatriz rumo à Canastra.
A primeira parada foi cidade de Ibiraci, Minas Gerais, na beira do Rio Grande, onde mais pessoas se juntaram ao grupo. Tivemos uma recepção de coração e padrão mineiro: um bom café de manhã com grãos moídos na hora, queijo fresco e pão de queijo saindo do forno.
Estar naquela paisagem com vista para a imensidão do céu da Canastra me trouxe uma sensação inexplicável de completude que já valeu a viagem.
“Aqui não se hospeda. Se faz amigos”
Na Canastra, de carro ou a cavalo, pode se demorar horas para percorrer distâncias relativamente curtas. São serras e rios a serem cruzados. Mas isso não pode ser desculpa para não visitar um amigo quando se está na região. Por isso, fizemos um grande desvio para o Vale da Gurita para encontrar o Reinaldo e a família da Pousada Tapera da Serra que conhecemos em outra cavalgada.
O reencontro com outro Reinaldo, seu irmão Robert e o filho Luís da Pousada Babilônia foi outro evento especial. Eles são os responsáveis pela logística local da cavalgada e abrem as portas para que possamos realmente conviver com a cultura local, sem filtros.
No final do dia, chegamos à Fazenda Toca do Garrote, em Bela Mansão, povoado situado na BR-464, ao pé da Serra da Canastra. Lá estava a tropa, comida boa, alegre cantoria, um bom banho e uma cama confortável para descansar. Mas não por muito tempo. Acordei com os primeiros acordes do galo – bem debaixo da minha janela – às 4 da manhã.
Estava ansioso para rever o cavalo Beiçola, companheiro por duas cavalgadas da lua cheia. Ele não veio e fiquei um pouco desapontado, mas não por muito tempo. Em seu lugar, veio Guarani: cavalo branco, forte e bem tranquilo. A conexão foi imediata, como você pode ver pela foto ao lado.
A cavalgada
Deixei para Guarani a tarefa de seguir a tropa e dediquei-me a perceber os detalhes da grande paisagem: as serras rochosas, a vegetação diferenciada, os cheiros dos campos e as canções dos passarinhos.
O tempo foi maravilhoso. Os momentos de solidão e reflexão na cavalgada se revezavam com as conversas com os novos e velhos amigos ao longo da rota: curtas, engraçadas ou mais longas e com profundidade. O tempo ali não está acelerado.
No dia da lua cheia, os cavalos precisavam de descanso. Saí a pé para uma caminhada sozinho sob o céu estrelado.
Assim, passaram-se os dias, com trechos mais perigosos e outros de pura contemplação. A região também tem problemas que, por vezes, chocam: trilhas erodidas por conta das atividades de motocross, falta de planejamento da paisagem e turismo ecológico ainda por desenvolver. Mas esses são assuntos para outro post.
Voltei da Canastra cansado, mas super feliz. Bateria recarregada, histórias pra contar e extremamente grato pelo presente inesperado. E guardo comigo o que meu amigo Nélson disse no último dia: “O inimigo da viagem é a expectativa”. Eu gostaria de acrescentar: e o inesperado pode ser um grande amigo.
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Fotos: arquivo pessoal
É arquiteto e paisagista alemão. Desde 1984, pratica o paisagismo multifuncional em projetos para espaços públicos na Alemanha, Arábia e Brasil. Veio a São Paulo por causa de uma história de amor. Com Maria Zulmira de Souza (Zuzu) forma o Casal Verde, aqui e no YouTube, para tratar de sustentabilidade, arquitetura, maturidade, arte e relações saudáveis