Sebastião Salgado apresenta a Amazônia preservada e seus guardiões, em nova exposição

Sebastião Salgado apresenta a Amazônia preservada e seus guardiões, em nova exposição

Durante sete anos, o fotógrafo Sebastião Salgado viajou à Amazônia para registrar a floresta amazônica, com toda sua magnitude, e a presença altiva dos povos indígenas.

No início, ele ainda estava envolvido com a produção de Gênesis, mas, junto com Lélia Wanick Salgado, sua companheira, já vislumbrava a possibilidade de realizar uma exposição especial em várias cidades do mundo para apresentar a beleza das regiões preservadas e a importância dos indígenas em sua conservação. 

Os dois queriam ajudar a despertar a consciência e a ação pela proteção deste bioma, que é patrimônio da humanidade. Mostrar “a floresta que precisamos preservar”, que ainda está intocada graças a seus guardiões.

Sebastião Salgado apresenta a Amazônia preservada e seus guardiões, em nova exposição
Serra do Marauiá, no estado do Amazonas (2018)

Assim, de 2013 a 2019, o fotógrafo realizou 48 expedições para láNavegou pelos rios que correm como serpentes na região, flagrou chuvas torrenciais e os famosos ‘rios voadores’, as árvores com suas copas suntuosas e paisagens majestosas, pouco ou nada conhecidas. 

“Todo mundo conhece a Amazônia como uma grande planície repleta de árvores e de rios, mas ela tem um sistema de montanhas maior do que os Alpes, com cachoeiras incríveis”.

Sebastião Salgado na Amazônia, com o povo Yanomami (2014) / Foto Jacques Barthelemy

Salgado também visitou 12 comunidades indígenas – de etnias como yanomami, yawanawá, marubo, ashaninka… – e convidou seus integrantes – homens, mulheres e crianças – a revelarem sua cultura, hábitos e rituais, enfeitados com pinturas e adereços. 

Idealizada por Lélia, a exposição Amazônia foi realizada simultaneamente em Paris (onde mora o casal), Londres e Roma, de maio a outubro do ano passado. Agora, chega a São Paulo: em 15 de fevereiro, no Sesc Pompeia, onde fica até 10 de julho.

Depois, segue para o Rio de Janeiro, no Museu do Amanhã, devendo ser apresentada em Belém e outras capitais brasileiras em 2023.

Imagens e sons da floresta

Sebastião Salgado apresenta a Amazônia preservada e seus guardiões, em nova exposição
Paisagem deslumbrante no Rio Jaú, no estado do Amazonas

Lélia assina a curadoria e a cenografia da exposição, que convida o visitante a apreciar 205 imagens em preto e branco como se estivesse numa expedição pela floresta, ao som de uma música composta, com exclusividade, pelo francês Jean Michel Jarre, com sons da Amazônia extraídos dos arquivos do Museu de Etnografia de Genebra. 

“Nem Salgado nem eu queríamos música ambiente ou exclusivamente étnica. A floresta é muito barulhenta, tem sons independentes, não é como uma orquestra”, explicou Jarre na inauguração da exposição em Paris. E ele ainda salientou: “Mas é harmoniosa para o ouvido humano”.

A música tem papel importante também em outros momentos da exposição: acompanham projeções fotográficas na parede.

Numa delas, fotos de florestas se revezam ao som do poema sinfônico Erosão – Origem do Rio Amazonas, do maestro brasileiro Heitor Villa-Lobos. Na outra, belíssimos retratos de indígenas ganham uma composição exclusiva do contrabaixista e produtor Rodolfo Stroeter.

Uma série de sete vídeos ainda apresenta depoimentos de lideranças indígenas, que chamam a atenção para a importância da preservação da floresta – eles são mestres! -, destacando algumas das ameaças que têm enfrentado, especialmente com o governo Bolsonaro. 

“Esta exposição tem o objetivo de alimentar o debate sobre o futuro da floresta amazônica, é algo que deve ser feito com a participação de todos do planeta, junto com as organizações indígenas”, destaca Salgado.

“Todos temos que lutar e ajudar os movimentos de resistência brasileiros a frear o desmatamento”, diz ele, lembrando que este governo tem tentado “se apropriar dos territórios indígenas e dos parques nacionais” para favorecer o agronegócio e a mineração. 

Concerto com Villa-Lobos

Arquipélago de Anavilhanas, no Rio Negro (2009)

Também integram o projeto Amazônia, de Sebastião e Lélia, apresentações na Sala São Paulo, nos dias 19 e 20/2, de um concerto especial.

Sob regência de Simone Menezes – com participação da soprano Camila Titinger -, a regência da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo (OJESP) executará a sinfonia Floresta Amazônica, de Heitor Villa Lobos, enquanto serão projetadas fotos de Sebastião Salgado numa tela gigante. 

Para finalizar, destaco a declaração de Jean Michel Jarre a respeito de Salgado, em Paris: “A exposição poderia ter sido fruto de um documentarista, mas é obra de um artista. Salgado nos convida a um passeio místico, é disso que precisamos agora, neste momento da pandemia”.

A seguir, mais algumas imagens da exposição Amazônia:

Chuva torrencial no Parque Nacional da Serra do Divisor, no Acre (2016()
A cachoeira do Rio Cotingo, em Roraima (2018)
Monte Roraima, em Roraima (2018)
Indigenas Suruwahas em pescaria coletiva no Igarapé Pretão, no Amazonas
Sebastião Salgado apresenta a Amazônia preservada e seus guardiões, em nova exposição
Menina Yawanawa, na Terra Indígena do Rio Gregório, no Acre (2016)
Jovem Ashaninka pinta o rosto, na Terra Indígena Kampa do Rio Amônea, Acre (2016)
Xamã Yanomami em ritual no Pico da Neblina, Amazonas (2014)
Os desenhos pintados no rosto da garota Ashaninka indicam que ela ainda não está noiva / Na Terra Indígena Kampa do Rio Amônea, Acre (2016)

Foto (destaque): Homem produz adornos de penas, fotografado por Sebastião Salgado na Terra Indígena Rio Gregório, Acre (2016)

Com informações de G1, BBC, Estado de Minas, Sesc e redes sociais de Sebastião Salgado 

Um comentário em “Sebastião Salgado apresenta a Amazônia preservada e seus guardiões, em nova exposição

  • 8 de novembro de 2023 em 5:31 PM
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    Queridxs e admiradxs LÉLIA e SEBASTIÃO! Sensacional esta obra de arte ao mesmo tempo cultural, política e educativa! Vocês dão palavra, imagem e voz a todos e todas que queremos homenagear nossos povos autóctones, tão impropriamente chamados de “indígenas”. Gratidão pela arte deles e de vocês! E gratidão também pela noite memorável em que vocês dois nos acolheram – a mim e à minha Mãe, no seu apartamento em Paris, em meados dos anos 70! Abraço afetuoso e admiração! Marcos Arruda

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.