Saúde Mental e Economia Solidária: evento é ótima oportunidade para entender de perto essa relação e a luta contra os manicômios

O Ponto de Economia Solidária e Cultura do Butantã, na cidade de São Paulo, é um espaço e tanto para perceber a íntima relação estabelecida entre a economia solidária e a saúde mental. As duas andam de mãos dadas quando o assunto é estimular a produção em grupo, autogestionada, e a inclusão pelo trabalho com geração de renda.

Uma boa oportunidade para realizar uma imersão nesses dois mundos é a Feira de Saúde Mental e Economia Solidária, que acontece no Ponto Butantã no próximo dia 24 de abril. Estarão expostos e em comercialização itens produzidos por dez empreendimentos, incluindo artesanato, roupas, acessórios e alimentação. A programação inclui também apresentações culturais.

No Ponto Butantã, que é um equipamento da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, funcionam espaços geridos por grupos da Rede de Saúde Mental: a livraria e sebo Louca Sabedoria, a loja de artesanato Pé-a-Biru, a Comedoria Quiririm e os Orgânicos do Ponto – secos e molhados em apoio aos pequenos produtores agrícolas. Esses empreendimentos geram renda para cerca de 30 pessoas diretamente.

A Feira de Saúde Mental e Economia Solidária acontece das 10h às 17h, e é um bom atrativo para quem quiser conhecer de perto o espaço e entender a importância da Luta Antimanicomial no Brasil, que tem sofrido retrocessos desde o governo Temer, com continuidade pelo atual governo federal. O governo Bolsonaro alterou diretrizes da Política de Saúde Mental e passou a liberar a compra de aparelhos para eletrochoque, a internação de crianças em hospitais psiquiátricos e a abstinência para pessoas com dependência química (fim da política de redução de danos).

Essas medidas, entre várias outras, representam retrocesso na política de saúde mental, trazendo o retorno a um modelo que tira o paciente da possibilidade concreta de sociabilidade, promovendo a exclusão. A Lei da Reforma Psiquiátrica, vitória da sociedade civil e dos movimentos de saúde no Brasil, foi responsável pelo fim das internações em hospitais psiquiátricos, propondo a substituição dos chamados tratamentos asilares por serviços de saúde como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), as residências terapêuticas e leitos psiquiátricos em hospitais gerais.

No final do mês de março, Procuradoras do Ministério Público Federal (MPF) apontaram inconstitucionalidade nas medidas apresentadas pelos dois últimos governos demonstrando preocupação com o incentivo ao retorno de uma política manicomial. A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, órgão do MPF, pediu a revogação de normas editadas pelo atual governo.

E a Defensoria Regional de Direitos Humanos, da Defensoria Pública da União no Distrito Federal, ingressou também com uma ação civil pública contra essas medidas, entendendo-as como um incentivo ao retorno dos hospitais psiquiátricos.

É notável o êxito das políticas de saúde mental inclusivas e humanizadas, que buscam gerar autonomia ao paciente e a inserção por meio do trabalho e da geração de renda. Um retrocesso como esse, que vem sendo proposto desde 2017 e aprofundado no atual governo, promove o retorno a uma mentalidade tacanha de excluir do convívio o diferente e tomar dessas pessoas o direito de exercer sua liberdade de ir e vir e sua cidadania.

Convido todos a participarem da Feira de Saúde Mental e Economia Solidária no próximo dia 24, pra conferir de perto a potência dessa relação. E a conhecer, também, outro ponto de economia solidária, o Benedito, localizado na Praça Benedito Calixto. Tanto ele quanto o ponto Butantã oferecem programação variada e expõem e comercializam a produção dos grupos da Rede de Saúde Mental. O dinheiro retorna para os usuários da Rede em forma de bolsa-oficina.

Para acompanhar a movimentação em torno da Política de Saúde Mental no Brasil, sugiro acompanhar as redes da Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME) e da Rede de Saúde Mental e Economia Solidária.

Foto: pixel2013/Pixabay

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Mônica Ribeiro

Jornalista e mestre em Antropologia. Atua nas áreas de meio ambiente, investimento social privado, governos locais, políticas públicas, economia solidária e negócios de impacto, linkando projetos e pessoas na comunicação para potencializar modos mais sustentáveis e diversos de estar no mundo.