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Roger Waters, o guerreiro da paz

Roger Waters é um cara politizado que combate todo tipo de ditadura, exploração, preconceito, fascismo. Depois do intervalo de seu primeiro show no país (9/10), em São Paulo, começou a exibir no telão críticas a inúmeras pessoas, de Bush a Berlusconi, com foco bem acentuado em Donald Trump e sobrou até para a atual presidente da CIA.

Criticou a quantidade de lixo nos oceanos, a poluição, fez um alerta para cuidarmos do planeta antes que seja tarde demais, enfatizando que o que está em jogo é a vida humana por aqui. Criticou Israel por seus ataques à Palestina, criticou o racismo, o sistema educacional, escancarou o submundo, o esquecimento e a dor de quem vive nas ruas, exibiu imagens de crianças pedindo esmolas.

Criticou a falta de pensamento crítico e repetiu: “Resista!”. Estampou a imagem de uma baleia morta numa praia e o rosto de Malala. Com tanta sobriedade quanto aos erros que temos cometido, enquanto humanidade, óbvio que Jair Bolsonaro e seu fascismo não seriam excluídos de sua pauta de críticas altamente sóbrias.

Quando exibiu seu nome como um dos neofascistas do mundo, metade das pessoas o vaiou e a outra metade o aplaudiu. Infelizmente, quando milhares gritam “uuuuuu” ao mesmo tempo, parece que são maioria, por efeitos sonoros, em comparação a milhares que gritam coisas diferentes ao mesmo tempo.

Quando a hashtag #EleNão apareceu, mais vaias e mais gritos se seguiram e duraram, sim, uns 15 minutos. Roger não ficou parado sem saber o que fazer, como circulou por aí. Ele simplesmente não conseguia cantar porque as pessoas não paravam de gritar. Inclusive começaram a chamá-lo de “filho da puta”.

Ele olhava para as pessoas, tentou cantar umas três vezes e não conseguiu. E disse: “Eu sabia que isso iria acontecer. Vocês estão perto de eleições importantes. Eu sei que isso não é problema meu, mas não posso me calar quando presencio a falta de respeito pelos direitos humanos. Eu sou a favor dos direitos humanos independentemente de raça, religião ou classe social. Sim, eu me levanto em prol dos meus irmãos na Palestina”.

Mais gritos e mais vaias. E continuou: “Eu amo a América do Sul, amo cantar aqui. E não quero um mundo onde haja ditadura”. E, mesmo com gritos e vaias, voltou a cantar: Mother.

Nos primeiros minutos, novamente estampou um #EleNão, o que só fez seguir mais vaias e mais gritos a favor de sua manifestação. Infelizmente, algumas pessoas começaram a bater boca e a brigar. Foram apartadas por seguranças.

Ficou tenso não por causa do Roger e seu protesto, mas porque estamos em um momento onde parece cada vez mais difícil aceitar as diferenças. Que cada um se responsabilize pelas agressões que faz e que revida. A culpa não é do cantor.

Roger continuou mesmo assim porque “the show must go on”. Última música foi Confortably Numb que, em português, significa “confortavelmente entorpecido” – título que me lembra o fenômeno da “normose”, onde o incoerente vira lugar comum.

Por fim: não vi, ali, a figura de um homem “humilhado”, como circula na internet da era de fakenews. Vi a figura de um guerreiro da paz, um mensageiro de verdades que doem e que dão, sim, um tapa bem dado na cara da sociedade doente global e não apenas nacional.

Eu já gostava dele antes. Agora, gosto mais ainda. E dou graças à sua imensa resistência e atitude ao se manifestar pelos direitos humanos e ambientais em um país como o nosso, tão cheio de problemas e contradições. Ele teve coragem de fazer pelo povo brasileiro o que muita gente nunca fez ou fará. Portanto, thank you #rogerwaters.

Foto: Divulgação 

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Sandra
Sandra
5 anos atrás

Se Jesus Cristo voltasse ao mundo hoje certamente seria seguido por milhões de adeptos que o têm fielmente amado ao longo dos séculos, mas milhões de outros certamente o matariam de novo, pelo mesmo motivo.

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