Rio para além do canto e da fotografia

Um rio que corre para o mar faz um favor. Vai molhando as margens. Vai plantando na terra possibilidade de crescimento. Alimento. Nutrição viva na colheita. Um dia foi assim: água, terra, semente. Não poluição, solo pobre de tanto agrotóxico, transgenia. Passado não volta, presente pode ficar, futuro se faz.

Faz favor seu rio: corra. Corra muito dessa gente dura e equivocada. Vire-se em trombas d’água para dar cambalhota nesse pessoal ligeiro e sem graça, que só não tem pressa de tirar proveito, como se o senhor, seu rio, não fizesse mais do que obrigação de ceder vida líquida e certa.

Lucros líquidos se esvaem em desperdício nos bolsos de quem não precisa, enquanto famílias procuram braços de riachos para matar a sede. Não há traço nem de abraço. Não bastam os fatos.

A bacia hidrográfica do Rio Jaú é mais um caso típico deste modelo ganancioso de degradação do meio, desde o campo até a cidade, onde o rio e seus afluentes sofrem agressões durante seu curso. Observa-se na zona rural que as culturas agrícolas são plantadas até a beira d’água, desrespeitando as leis ambientais e o bom senso. Além da sua diversidade de espécies, a bacia hidrográfica do Rio Jaú se destaca no cenário regional como uma importante área de recarga hídrica, abastecendo importantes microbacias como as dos córregos do Borralho (Dois Córregos), São João (Mineiros do Tietê), Santo Antônio (Jaú), João da Velha (Jaú), São Joaquim (Jaú), Mandaguay (Jaú), etc. Também se deve lembrar que na bacia do Rio Jaú aproximadamente 150.000 mil habitantes residem dentro de seus limites geográficos.”

Essas são informações do site do projeto “Jaú – Sons e Imagens de um rio!”, pensado e elaborado pelo Instituto Pró-Terra. Lá você encontra um livro e músicas para baixar gratuitamente. É lindo para ouvir com as crianças, com os alunos, com a gente mesmo…

Bom para refletir sobre essa mania cega de tirar, sacar, ganhar sempre mais… Como se a natureza fosse um saco sem fundo. No raso, dá para perceber: atitudes assim nem parecem humanas. Em que os terráqueos estão se transformando afinal?  Em seres secos, cheios de sede inconsciente de natureza? Vamos preferir ficar em casa, vendo as belas imagens de rios fotografados por Valdemir Cunha porque vamos acabar com as nascentes?

Como é lindo o livro Água. Como é triste pensar que precisamos fazer obras que sejam um alerta para a necessidade do uso consciente dos recursos hídricos e para a urgência de cuidarmos de nossas bacias hidrográficas.

Água é dividido em dois capítulos. O primeiro tem texto do jornalista Xavier Bartaburu, que traça o panorama atual da  situação da água no Brasil no contexto mundial e histórico. O segundo apresenta um vasto ensaio fotográfico produzido por Valdemir Cunha ao longo de cinco anos.

Levantar do sofá, depois de ver as fotos, poderia fazer bem para o fluxo de consciência que, ainda acredito, corre na centelha humano-cósmica que vive em cada um de nós.

Fotos: Waldemir Cunha (Livro Água)

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Karen Monteiro

Com arte, tá tudo bem. Se as exposições, peças de teatro, shows, filmes, livros servirem de gancho para falar de questões sociais e ambientais, tanto melhor. Jornalista, tradutora, cronista e assessora de imprensa, já colaborou com reportagens para grandes jornais, revistas e TVs.