Rio Doce continua sem vida em diversos pontos, um ano após desastre ambiental

Rio Doce continua sem vida em diversos pontos, um ano após desastre ambiental

No último dia 5 de novembro fez um ano que aconteceu a maior tragédia ambiental brasileira, quando a barragem de Fundão, da mineradora Samarco (de propriedade das companhias brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton) se rompeu e um mar de lama de rejeitos tóxicos soterrou a cidade de Bento Rodrigues, próxima à Mariana, em Minas Gerais – matando 21 pessoas -, e contaminou toda a Bacia do Rio Doce, aniquilando a fauna e flora da região à beira do curso d’água.

Pela segunda vez, desde que o desastre ocorreu, a Fundação SOS Mata Atlântica realizou uma expedição ao Rio Doce para monitorar a qualidade da água. Foram avaliados 18 pontos de coleta, entre os dias 19 e 28 de setembro. Em 14 deles, a água não apresentava condições de uso, sendo que em 13 destes, não havia sinal de vida (nenhum animal foi encontrado). Outros três pontos de coleta mostraram índices de recuperação. Em um dos locais, a análise não pode ser feita porque o rio estava soterrado.

“O mais grave desse retorno à Bacia do Rio Doce foi constatar que, em primeiro lugar, a contaminação não cessou. Além disso, passados 12 meses, ainda há arrasto de sedimentos por toda a bacia”, afirma Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica. “E notamos como a presença de vegetação nativa protege a água, pois nos trechos onde existe remanescente de Mata Atlântica, nas áreas protegidas que não foram arrastadas pela lama, três pontos se recuperaram”, acrescenta ela.

Próximo aos municípios de Barra Longa, Carmo, Patinga e São José do Goiabal, o índice de turbidez (redução da transparência da água devido à presença de resíduos em suspensão) apresentou níveis muito superiores ao permitido pela legislação ambiental. Já perto de Ipatinga, Barra Longa e Perpétuo Socorro são os níveis de manganês que chamaram a atenção dos pequisadores.

Para Malu Ribeiro, caso ações reais de recuperação da Bacia do Rio Doce não sejam tomadas, levará mais de uma década para que os rejeitos de minérios deixem de impactar a região. Segundo a SOS Mata Atlântica, até agora, as obras que estão sendo feitas pela Samarco têm o objetivo exclusivo de evitar novas rupturas de barreira, mas nada ainda foi feito para trazer vida novamente ao rio.

“As fontes de contaminação das águas do Rio Doce não cessaram e o despejo contínuo de rejeitos de minério na região de cabeceira da bacia hidrográfica mantém os rios mortos e sem condições de usos, apresentando riscos à saúde das comunidades ribeirinhas, aos animais e ecossistemas”, diz.

Rio Doce continua sem vida em diversos pontos, um ano após desastre ambiental

Na semana passada, o Greenpeace Brasil também esteve em Minas Gerais, mais exatamente, nas ruínas do que foi um dia o município de Bento Rodrigues. Para protestar contra a inércia da Samarco em indenizar os moradores que perderam tudo, tendo suas casas assoladas pelo mar de lama, os ativistas instalaram 21 cruzes, simbolizando as vítimas do desastre, e formaram com elas a palavra JUSTIÇA, em uma área de 320 m2, nos muros que ainda resistiram da escola que havia ali.

“Não podemos esquecer o que houve aqui. O Rio Doce e os atingidos precisam que justiça seja feita e que a Samarco, a Vale e a BHP cumpram com a sua responsabilidade de reparação”, afirmou Fabiana Alves, da campanha de Água do Greenpeace.

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Fotos: Fotos Públicas/Fred Loureiro/Secom ES e ©Yuri Barichivich/Greenpeace

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.