Reserva no Rio de Janeiro onde antas ficaram extintas durante um século ganha seu terceiro filhote nascido no local

Reserva no Rio de Janeiro onde antas ficaram extintas durante um século ganha seu terceiro filhote nascido no local

Desde 2018 a gente acompanha aqui no Conexão Planeta esse projeto. Naquele ano, três antas viajaram mais de 1 mil quilômetros para se juntar a um outro casal na Reserva Ecológica de Guapiaçu, no município de Cachoeiras de Macacu, no estado do Rio de Janeiro. Os cinco indivíduos eram os primeiros a serem reintroduzidos ali depois de pelo menos um século da extinção da espécie no local (leia mais aqui).

A iniciativa para o repovoamento dos animais na reserva faz parte do Projeto Refauna. Atualmente vivem em Guapiaçu oito antas reintroduzidas. Em 2020, houve muita comemoração quando foi registrado o nascimento do primeiro filhote no local. E em julho do ano passado, armadilhas fotográficas revelaram mais boas novas: havia um segundo filhote.

Agora, novamente, as câmeras de monitoramento trazem ótimas novidades: um terceiro filhote foi observado, ao lado da mãe Jasmim.

“O filhote da Jasmim foi registrado só agora, mas deve ter nascido em fevereiro. Agora, temos registros melhores, mas ainda não sabemos o sexo. Este é o terceiro filhote de anta que nasce na natureza após mais de 100 anos da espécie extinta no local”, celebra o biólogo e doutor em Ecologia Maron Galliez, coordenador da reintrodução de anta do Refauna.

Jasmim chegou em Guapiaçu há dois anos, vinda de um zoológico de Guarulhos, em São Paulo, onde nasceu. Na época, ela tinha 1 ano e meio. As fêmeas da espécie atingem a maturidade por volta dos dois ou três anos.

“As antas tendem a formar pares na época da reprodução, entre os indivíduos que têm área de vida próximas. Após o nascimento do filhote, o macho tende a ficar próximo da fêmea, que está cuidando do filhote”, diz Galliez.

Infelizmente, desde o início do projeto há cinco anos, seis antas morreram. Uma delas atropelada e as demais em conflito entre indivíduos. O biólogo explica que esses animais são bastante territoriais, principalmente os machos. “Esses conflitos dificultam a aclimatação dos novos indivíduos translocados. Além disso, os torna mais suscetíveis a ataques de morcegos vampiros, que se alimentam, geralmente, de animais já debilitados”, explica.

A anta (Tapirus terrestris) é o maior mamífero terrestre da América do Sul. Pode pesar entre 200 e 300 kg. Herbívora, ela é conhecida como jardineira da natureza pois, ao se alimentar dos frutos das árvores e arbustos, espalha as sementes pelo caminho.

No mundo todo, existem quatro espécies de antas conhecidas pela ciência: a anta-da-montanha (Andes), a anta-centro-americana (América Central), a anta-malaia (Indonésia), além da observada na América do Sul – todas ameaçadas de extinção, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, (IUCN na sigla em inglês).

Entre as principais ameaças à sobrevivência das antas estão a perda de habitat (desmatamento) e a caça ilegal.

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Foto: seth m/creative commons/flickr (imagem conceitual de um filhote de anta já que o Projeto Refauna tem apenas o vídeo do novo morador da Reserva de Guapiaçu)

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.