Pelas bandas do Triângulo Mineiro há um ditado popular que diz “nem tudo o que é torto é errado. Veja as pernas do Garrincha e as árvores do Cerrado”. É nessa terra de árvores retorcidas que se esconde uma preciosidade da biologia: a raposinha-do-campo.
Ela até pode ser confundida com um cachorro-do-mato, mas é única! Pequena e acinzentada, encanta quem espera o véu da noite escurecer o Cerrado.
Pouco se sabe sobre a espécie, um dos sete canídeos menos estudados do mundo. Das cinco espécies que ocorrem no Brasil é a única que existe apenas aqui e em nenhum outro lugar do planeta.
É ágil, esperta e ecologicamente correta: aproveita as tocas abandonadas por tatus para proteger seus filhotes.
Quando eles já estão aptos a perambular pelos campos, pintam de cinza a paisagem com seus passinhos apressados. E precisam mesmo ter pressa.
As raposinhas são muito perseguidas pelos fazendeiros locais que temem que elas predem galinhas. Mas o prato preferido é outro: cupins! Formigas, besouros, frutos também são parte da dieta. E os mesmos homens que caçam a espécie deveriam tê-la com status de majestade, por controlar as populações de ratos e cobras.
Com o Cerrado massacrado para dar lugar à agricultura, as raposinhas também vão desaparecendo aos poucos, sem matas densas para se esconder, sem insetos para comer. São mais vistas atropeladas nas estradas do que curiosas, de orelhas levantadas e olhinhos brilhantes nas noites quentes.
E quem vê esses olhinhos surgirem sorrateiros atrás do tronco de um pequizeiro ou de um pé de araticum não é o mesmo jamais…
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Lindas.