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“Quem financia hidrelétricas na Amazônia ou qualquer lugar do mundo, não financia desenvolvimento, mas assassinato”, declara a cacica Juma Xipaia, na COP26

Atualizado em 6/11/2021 para contar sobre o apoio de Leonardo DiCaprio ao Instituto Juma
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Ontem, 4/11, a jovem cacica Juma Xipaia, do povo indígena Xipaia, do Pará, participou do painel ‘Hidrelétricas: a solução energética condenada pela crise climática?’, na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP26, realizada em Glasgow, na Escócia, e fez uma declaração contundente.

Ela chamou a atenção para a responsabilidade dos financiadores de diversos países do mundo na destruição ambiental e nas ameaças aos povos originários, que investem em empreendimentos na Amazônia, como a hidrelétrica de Belo Monte, financiada não só pelo governo e empresários brasileiros, como também por grupos internacionais. 

“O rio é vida. Então, Belo Monte é morte, sim, não é desenvolvimento. Quem financia projetos como hidrelétricas e mineradoras, é assassino tanto quanto o governo brasileiro, e precisa saber disso. Você que financia hidrelétricas na Amazônia ou em qualquer outro lugar do mundo, você não está financiando desenvolvimento, você está financiando assassinato!”, sentenciou Juma, que completou:

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“Você precisa ser responsável por isso e não somente o governo brasileiro porque o dinheiro que construiu a hidrelétrica de Belo Monte, por exemplo, também veio de fora. Não é somente do Brasil. E essas pessoas precisam ser responsabilizadas por isso, tanto quanto o governo genocida!”.

“Esses projetos são para silenciar, pra torturar, pra matar. É pra tirar o nosso território, o nosso modo de vida de uma forma tão violenta, por meio da truculência, por meio da corrupção e da cooptação de lideranças indigenas também. Não teve consulta, não teve orientação. Chegaram destruindo o nosso lar e tirando os nossos sonhos e impactando diretamente as nossas vidas e condenando o nosso futuro”.

A potência das jovens indígenas na COP26

Juma é mais uma jovem destemida que fala na COP26, e, com sua fala potente, representa não só o seu povo – que a escolheu como líder – mas, também, todas as mulheres indígenas.

A primeira jovem liderança a colocar esses povos em destaque nesse encontro de líderes mundiais foi Txai Suruí, de 24 anos. Ela fez um discurso lindo no segundo dia, na plenária, e foi ouvida por Joe Biden e Boris Johnson, entre outros, como contei aqui. É filha do cacique Almir Suruí e da indigenista Neidinha Suruí. Baita herança.

Ambas integram a maior delegação indígena brasileira presente em uma conferência climática da ONU.

Apoio de DiCaprio

Em 2/11, o ator e Mensageiro da Paz da ONU, Leonardo DiCaprio, participou de jantar com diversas personalidades. Reviu indigenas como Sonia Guajajara e conheceu Juma. Ciente do drama vivido na região de Belo Monte, pediu à jovem cacica para contar-lhe detalhes sobre a destruição.

Profundamente tocado, ele se comprometeu a ajudá-la e anunciou apoio a seu instituto (saiba mais neste link).

Quem é Juma Xipaia

Juma nasceu em 1991 na aldeia Tukamã, comunidade Xipaia que fica à beira do Rio Iriri, a cerca de 400 quilômetros de Altamira, a cidade mais prejudicada pela construção de Belo Monte. E, antes de completar 18 anos, se envolveu num dos principais movimentos de luta pelos direitos dos povos indígenas impactos pela obra, o Xingu Forever.

Foi essa sua postura de combate que inspirou os indigenas de Tukamã a nomearem Juma como cacica da aldeia, em 2015, quando ela tinha apenas 24 anos. E, assim, Juma se tornou a primeira mulher a liderar uma comunidade Xipaia.

A confiança em seu ativismo fortaleceu a jovem a se aprofundar nos planos da Norte Energia – grupo de empresas responsável pela construção e operação de Belo Monte – e a descobrir violações, além da política de cooptação de lideranças, que favoreceu o empreendimento. Foi o que ela destacou na COP26 (como contei acima) e também revelou ao site Mongabay Brasil, em 2020.

“Muitos líderes (indígenas) receberam carros e barcos e se esqueceram de outras coisas, como saúde e educação. Com os carros, eles podiam ir à cidade (de Altamira) para beber e festejar. Acredito que este foi o primeiro passo em um processo deliberado de destruição de nossa cultura”.

Segundo ela, apesar de a consulta aos povos originários ser uma exigência da Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, os povos indígenas da Bacia do Xingu (eram 11 comunidades antes da construção da usima) não foram consultados, muito menos informados sobre os reais impactos de Belo Monte. Muito ao contrário.

Ao movimento Uma Gota no Oceano, Juma contou: “Eles disseram para a gente que (a hidrelétrica de) Belo Monte seria só uma grande cachoeira. Eu tinha 13 anos quando se iniciou esse processo e logo percebi que não seria somente uma grande cachoeira, como diziam, e sim um projeto de morte. O que está acontecendo, hoje, em Altamira é tudo aquilo que a gente já tinha imaginado. A gente já sabia que o que teria era destruição. Não somente do meio ambiente, da fauna e da flora, mas sobretudo de nosso modo de vida, da nossa essência, do nosso lar”.

As negociações da empresa com as comunidades sempre foram pautadas pelo oferecimento de “benefícios”, que, na verdade, eram subornos que o consórcio chamava de “presentes”. O resultado disso foi devastador porque provocou inveja, suspeitas e o enfraquecimento das comunidades, que se dividiram.

E essa divisão causou muitos danos à militância de Juma que, em 2018, começou a ser perseguida e ameaçada, chegando a ser vítima de um acidente provocado por uma “caminhonete branca” – que não teve graves consequências -, quando estava grávida de cinco meses.

Apavorada com tantas provocações e com a presença constante desse carro no seu caminho, inclusive na frente de sua casa e farta com o descaso da polícia, que dizia que nada podia fazer sem provas, Juma pediu ajuda ao cacique Raoni, do povo Kayapó, que a apresentou a uma organização internacional de direitos indígenas.

Por conta desse contato, viveu durante alguns meses na Suíça, mas voltou ao Brasil – à Altamira que, desde 2011 viu os homicídios aumentarem 150% colocando a cidade no topo do ranking das mais violentas do país (Atlas da Violência/Ipea) – mesmo sem garantia de proteção, enfrentando, também ruralistas.

Foi nesse período que criou o Instituto Juma para continuar lutando pelos direitos dos povos indígenas da região. É uma das lideranças femininas mais jovens e aguerridas da atualidade.

Com informações da APIB, Uma Gota no Oceano e Mongabay Brasil

Leia também:
Juma Xipaia, indígena e ativista: “Não quero ser a próxima Dorothy Stang”

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