Que Democracia queremos, afinal?
A Democracia é um sistema imperfeito. Ela reflete a multiplicidade de sonhos, desejos, valores e histórias de qualquer sociedade. Estará sempre sujeita, portanto, aos humores e dinâmicas da sociedade que a acolhe.
Neste sentido, a Democracia representa profundamente a natureza humana – e esta é, justamente, sua maior qualidade: consegue dar voz e visibilidade mesmo a quem, em outra circunstância, seria invisível.
A Democracia não é a vitória da maioria. É a garantia de que todas as minorias sejam reconhecidas e tenham seu direito à vida e à liberdade protegidos.
No Brasil, a Democracia, além de imperfeita, é jovem. Em 2019, vamos completar apenas 30 anos do fim da longa noite trazida pela ditadura de 1964.
Nesse relativamente curto espaço de tempo, a sociedade brasileira se modernizou e se tornou muito mais complexa. Isto naturalmente vem se refletindo nos altos e baixos que a Democracia vem tendo no país. Apesar disso, estamos avançando e, na verdade, temos mais a celebrar do que lamentar.
Entretanto, este processo de aprendizagem coletiva traz solavancos que às vezes geram uma percepção de insegurança e instabilidade. Isto acaba alimentando um desejo de “aperfeiçoar” a democracia. O que, muitas vezes, nada mais é do que um sinônimo de medidas autoritárias para calar grupos ou setores da sociedade percebidos como causadores desta instabilidade.
Em 2019, a Democracia no Brasil entra em uma fase fundamental de teste de resistência.
A polarização chega a uma situação de quase ruptura, com famílias e amizades de anos se rompendo por conta dos alinhamentos políticos. A visão distorcida da Democracia como uma imposição da maioria sobre as minorias vem ganhando força, ao ponto de se aglutinar em redor da força política que chegou ao poder nos âmbitos do Executivo e do Legislativo.
A Democracia, como sistema que valoriza, reconhece, dá voz e protege a diversidade de visões, opiniões e posicionamentos, está em risco.
E, com isto, está em risco o próprio futuro do Brasil, como uma nação estável e sólida, do ponto de vista político, econômico e social.
Para 2019, um propósito que deveria unir todas e todos que acreditam na Democracia é combater a polarização, construir pontes e focar no diálogo entre pessoas e grupos que, apesar de suas diversas visões políticas, têm os mesmos ideais democráticos.
Passa também, sobretudo, por jogar luz e expor as diversas tentativas de usar instrumentos aparentemente democráticos para destruir a Democracia, como vemos acontecer em tantos países neste momento.
Foto: Marc Sendra martorell/Unsplash
Jornalista, com mestrado em relações internacionais, é especialista em temas ligados à mobilização e engajamento em causas de impacto social. Morou oito anos no Peru, de onde conheceu bastante da América Latina. Trabalhou em organizações como Oxfam GB, Purpose, Instituto Akatu e IFC/Banco Mundial. Foi sócio de duas consultorias – Gestão Origami e Together – e Diretor de Engajamento do Greenpeace Brasil. Atualmente, é Assessor Sênior do Social Good Brasil e VP de Engajamento da Together, agência focada em processos de mobilização para causas de impacto